domingo, 4 de maio de 2008

Precisamos mesmo dos outros

Desde que nasce até que morre, o ser humano vive integrado no meio social, aliás só sobrevive, porque vive em interacção com os outros num mundo construído, modificado, que dá respostas às suas necessidades. Precisamos dos outros para o nosso bem-estar físico e psicológico, somos decididamente dependentes, precisamos que gostem de nós, precisamos da sua aprovação, precisamos de sermos aceites pelos grupos. A presença dos outros, a sua influência é uma constante no nosso pensamento e no nosso comportamento.
As relações precoces, relacionadas com o conceito de vinculação, têm um papel fundamental na construção das relações com os outros e na construção do eu psicológico. Como sabemos, o ser humano quando nasce é um ser imaturo, e esta imaturidade torna-o dependente, durante muito tempo, dos adultos. Esta imaturidade e as necessidades daí decorrentes implicam um tipo de relações que o distingue do dos outros animais. As relações precoces que são estabelecidas logo após o nascimento são muito importantes no desenvolvimento físico e mental do bebe, por isso o tipo e a qualidades das relações precoces vão influenciar o desenvolvimento do seu futuro. Como já falaram colegas minhas aqui neste blog, o recém-nascido apresenta um conjunto de competências comunicáveis (indispensáveis à sua sobrevivência) que estimulam aqueles que o rodeiam a satisfazerem as suas necessidades. O choro, o sorriso, as expressões faciais são exemplos de estratégias utilizados pelo bebe para obter os cuidados necessários à sua sobrevivência e ao seu bem-estar. Estabelece-se entre o bebé e aqueles que dele cuidam um processo designado por regulação mútua, que consiste na capacidade de comunicar os estados emocionais e responder de forma adequada. Uma das constatações que se tem feito é que o bebé não é um ser passivo que se limita a receber os cuidados dos adultos; o bebe é um ser activo que emite sinais daquilo que pretende, que responde, com agrado ou desagrado, ao tratamento disponibilizado. As estratégias usados pelo bebé servem para seduzir os progenitores e não só, impedindo que o abandonem. Uma interacção equilibrada exige que a mãe interprete e responda de forma apropriada aos sinais emitidos pelo bebe: se o bebé obtém os cuidados, a atenção que precisa ele reagirá com alegria, satisfação; se após várias tentativas de atrair a mãe, não conseguir, ele reagirá com frustração e ansiedade. A sensibilidade e a disponibilidade da mãe face às necessidades do bebé e o prazer mútuo nas interacções que se estabelecem proporcionam um sentimento interno de segurança que é gerador de confiança e que permite que o bebé veja o mundo de forma positiva. Se, pelo contrário, a mãe não responde às necessidades do seu filho de forma continuada, desencadeiam-se sentimentos de ansiedade que têm consequências negativas no desenvolvimento psíquico do bebé. As relações que o bebe estabelece com o mundo que o rodeia, designadamente com os progenitores, asseguram-lhe as condições para a sua sobrevivência e desenvolvimento. A vinculação é uma necessidade inata, biológica, é a necessidade de criar e manter relações de proximidade e de afectividade com os outros, de o bebé se apegar às outras pessoas para assegurar protecção e segurança (implica uma dependência face aos outros e garante a sua autonomia e sobrevivência). As primeiras fases de vida são decisivas ao desenvolvimento do bebé. Existem várias teorias que tentam explicar o processo de vinculação, já agora existe um livro sobre a Vinculação - Conceitos e Aplicações (Nicole Guedeney e Antoine Guedeney) que fala sobre a teoria da vinculação, elaborada por Bowlby e seus sucessores - apresenta uma compreensão nova da génese do laço fundamental que faz com que um bebé se vincule aos que o criam. O motor essencial desta construção é a satisfação da necessidade inata do bebé de proximidade (em relação às figuras que é suposto protegê-lo) e o sentimento de segurança procurado com essa proximidade.





Bibliografia:
MONTEIRO, Manuela Matos, FERREIRA, P. T. (2007), Ser Humano, Psicologia B, Porto Editora.
https://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/3696
http://nosnacomunicacao.com.sapo.pt/relacoesafectivasnavinculacao.htm
http://www.portalcursos.com/habilidadessociais/curso/Lecc-4.htm

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