domingo, 25 de maio de 2008

O luto é um período de tempo que necessitamos de viver

A MORTE é uma realidade que, mais tarde ou mais cedo, nos entra pela casa dentro sem anunciar a sua chegada.
Após um turbilhão de sentimentos que esta etapa acarreta, com a perda de alguém muito querido, torna-se necessário efectuar o luto, pois sentimos uma exigência física e espiritual de percorrer um caminho, ao longo do tempo, onde se processam dois elementos fundamentais: a libertação suave dos laços de vinculação que nos ligavam a quem perdemos e a retoma do espaço de alegria e felicidade da vida.
O modo como sentimos e vivenciamos a dor é influenciado por diversos factores, nomeadamente, o grau de afecto que tínhamos em relação à pessoa perdida; a nossa personalidade, particularmente a maior ou menor capacidade de gestão das emoções; o apoio humano (familiar, de amizade, técnico ou associativo) que dispomos; e o nível de aceitação social à nossa volta para a expressão das manifestações de luto.
Embora o luto seja um processo muito pessoal e dependa de um conjunto de factores intrínsecos e extrínsecos diversos, o seu desenvolvimento decorre seguindo um conjunto de fases padronizadas. Contudo, nem todas as pessoas têm que viver rigorosamente e do mesmo modo as características apontadas em cada fase.
Emocionalmente sentimos ansiedade, medo, tristeza, agressividade e culpa. Por vezes, ocorrem episódios depressivos, como o desalento, a tristeza, a irritabilidade, a introversão, o isolamento e as alterações de apetite, de sono e da libido. Assusta-nos a ideia de que estes comportamentos negativos e o sofrimento nos acompanharão até ao fim dos nossos dias. E como a intensidade é tão forte desesperamos imaginando-nos a enlouquecer.
Porém, com o passar do tempo, a perda é aceite emocionalmente, a dor vai-se extinguindo aos poucos. Passamos a identificar-nos de modo saudável com a pessoa perdida, ou seja, a sua memória deixa de ser obsessiva e de nos provocar desespero.
Esta experiência é vivida de forma diferente, nas diversas etapas do ciclo de vida, nomeadamente, quando se trata de crianças, adolescentes, adultos e idosos. Perante tal constatação é necessário estarmos atentos a um luto mal resolvido, pois pode-se revelar num distúrbio psicopatológico, onde a ajuda de um profissional especializado é fundamental.
Assim, como podemos verificar, apesar de no início deste processo, que por vezes pode ser longo, pensarmos que o mundo vai desabar, esta é uma visão de alguém que está em sofrimento, pois, em situações normais, o luto é uma fase que passa como todas as outras que temos ao longo da nossa vida, que conduzem a uma mudança, a uma transição para um novo período, a um enriquecimento e maturação pessoal.

A Vida e a Morte
O que é a vida e a morte
Aquella infernal enimiga
A vida é o sorriso
E a morte da vida a guarida

A morte tem os desgostos
A vida tem os felises
A cova tem as tristezas
I a vida tem as raizes

A vida e a morte são
O sorriso lisongeiro
E o amor tem o navio
E o navio o marinheiro

Autora Florbela Espanca
Em 11-11-1903
Com 8 anos de Idade
(Florbela Espanca, «Esparsos», in «Poesia Completa»)

Bibliografia:
· Organização Apelo http://www.apelo.web.pt/
· Ariès, P (1977). O Homem perante a morte-II. Publicações Europa-América. Edição nº 106048/4647.
· Carvalho, C. D. R. (2006). Luto e religiosidade. http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/TL0059.pdf
· Nogueira, D. e Pereira L. (2006). Perspectivas da morte de acordo com a religiosidade: estudo comparativo. http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/TL0058.pdf

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