quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Quem sou eu?

Quem sou eu? Eu, quem? Tão estranha é a nossa existência. Poderei dizer que sou um ser humano. Mas o que é um ser humano?
Deixando-nos de filosofias e começando sim a estudar integralmente o ser humano, sabemos que a sua especificidade se encontra relacionada com a genética, com o cérebro, com a cultura e sobretudo com a história pessoal. O Eu é determinado primeiramente biologicamente através dos genes (que contêm informações genéticas relativas a uma determinada característica), cromossomas (estruturas existentes no núcleo das células que contêm o DNA e proteínas) e DNA (onde estão registadas todas as informações sobre o funcionamento a célula) fornecido pelos nossos progenitores à nascença. Assim, começamos por ter um genótipo que posteriormente determina o nosso fenótipo. Que depois nos fornece a nossa ontogénese (desenvolvimento individual) que mais tarde determina a filogénese (desenvolvimento da espécie). É importante referir que temos um programa genético aberto, o que faz com que não apresentemos as nossas capacidades e competência desenvolvidas (prematuridade) e tenhamos um longo período de infância e aprendizagem (neotenia), para podermos desta forma adquirir inúmeras vantagens adaptativas (adaptamo-nos às alterações, somos únicos e irrepetíveis).
Quanto ao cérebro, este órgão enigmático, que detém os maiores mistérios alguma vez desvendados, também faz parte deste puzzle que é o eu. Este, é constituído pela Espinal Medula e pelo encéfalo mais os neurónios que comunicam entre si através de uma ligação funcional - sinapse. É devido à sua especialização funcional (lateralização hemisférica, em que o hemisfério direito apesar de ter as suas funções comunica com o esquerdo, complementando deste modo o seu funcionamento) à integração sistémica, que faz com que o cérebro funcione como um todo, às áreas diversificadas (pré-frontais responsáveis pela nossa memória, personalidade, reflexão, consciência, decisão; as áreas temporais, responsáveis pela nossa audição; as áreas occipitais, responsáveis pela visão e as áreas parietais, responsáveis pelas nossas sensações, à capacidade de plasticidade (o cérebro modela-se em função das experiências vividas ao longo da vida), à aprendizagem, à lentificação (pois somos os indivíduos que estamos mais dependentes dos nossos pais, sendo lentos na aprendizagem) e à individuação ( que torna cada pessoa naquilo que é, um ser único e irrepetível). Tudo isto acaba por nos transformar naquilo que somos.
Outro aspecto muito importante é a relação que estabelecemos com os outros. Esta é fulcral na nossa identificação, pois é nas nossas ligações que conseguimos delinear mais facilmente quem somos. Um exemplo que dos dá identidade é a nossa cultura que sendo o conjunto de crenças, valores, leis e tradições acaba por indirectamente nos conduzir a um padrão cultural que dificilmente deixará de ser o nosso, a não ser que haja aculturação e a nossa cultura se integre com outra, fazendo um “mix” de valores conjuntos.
Por fim, todas as nossas vivências, experiências de vida e lembranças acabam por nos fazer aquilo somos, pois só elas são diferentes de pessoa para pessoa, de indivíduo para indivíduo e só elas distinguem o eu do tu.
Concluindo, afinal quem sou eu? Eu sou um conjunto de cromossomas que reflectem uma imagem. Que formam um cérebro capaz de aprender e viver as suas experiências num local onde a cultura nos influencia e nos faz viver as nossas histórias pessoais, que um dia mais tarde recordaremos com nostalgia e tristeza, por uma existência tão efémera.
É verdade, é com muita pena minha que acabámos este trabalho da mesma forma que o começámos. A única certeza que temos, neste mar de incertezas é que não nos conseguimos definir. Esta questão faz-me lembrar o célebre poema de António Gedeão: Homem (Inútil definir este animal aflito./Nem palavras,/nem cinzéis,/nem acordes,/nem pincéis/são gargantas deste grito./Universo em expansão./Pincelada de zarcão/desde mais infinito a menos infinito.) Nesta realidade, o Homem, não se consegue definir, aliás é até inútil fazê-lo, pois como o próprio autor nos mostra, nem com palavras, nem com cinzéis, nem com acordes ou pincéis o conseguiríamos fazer. Podemos apenas dizer que é algo de profundo e que se encontra em expansão, que se sabe que existe e que para além de todas as coisas busca uma explicação para tudo o que vê e / ou sente. É determinado e em caso algum desiste de encontrar uma definição para si mesmo. É imenso e não termina, ou seja, é infinito. O Homem é Tudo e Nada. É Tudo devido à sua grandiosidade e é simplesmente Nada, quando se tenta definir, pois não consegue. E agora eu pergunto: Quem é afinal este ser que se julga tão grandioso e que ao mesmo tempo não consegue dizer quem é? Quem é ele todos queremos saber. E eu que posso dizer? Que a resposta é muito simples de se obter. O Homem é um enigma. Um arcano interessante que por mais que dêmos voltas à cabeça, e por mais que pensemos e por mais que estudemos, acabámos sempre por concluir a mesma conclusão: que este grande enigma só tem uma solução, que é não ter explicação.

A Complexidade do Ser Humano

http://docs.google.com/Presentation?id=dhg6gh6p_0gbxzk8cc


•Alexandra Pinto
•Ana Filipa Peixoto
•Ana Rita Marques
•Lucie Ribeiro
•Maria João Oliveira
•Sara Barbosa
•Sónia Vieira

Socialização: a importância na nossa vida

De certeza que a maioria das pessoas já ouviu falar em socialização. No entanto, muitas delas não sabe o que significa essa palavra. A socialização é o processo através do qual nós vamos interiorizando hábitos e características que nos tornam membros de uma sociedade. A socialização é um processo contínuo, que se inicia após o nascimento e se faz sentir ao longo de toda a nossa vida, terminado apenas quando morremos porque o nosso cérebro deixa de funcionar.
Podem ser referidos dois tipos de socialização: a socialização primária e a secundária.
Podemos definir socialização primária como sendo o processo pelo qual os seres humanos aprendem as coisas mais básicas da vida, tais como comer com talheres, andar, falar, vestir-se sozinhos, entre muitas outras. Estas “regras” são-nos ensinadas fundamentalmente pelos nossos pais e pela escola. Por exemplo, quando aprendemos a falar estamos a sofrer um processo de socialização primária e quem nos faz passar por esse processo são os nossos pais. É este conjunto de “regras” que faz com que estejamos integrados numa determinada sociedade. Como tal, este processo constitui um papel imprescindível na nossa vida.
Relativamente à socialização secundária, esta também é um processo de aprendizagem mas, tal como o nome indica, é secundária. Isto significa que sofremos este processo quando nos deparamos com novas e diversas situações ao longo da vida e temos de nos adaptar a essas situações. Por exemplo, quando nos casamos temos de nos habituar a uma nova forma de vida, viver com uma pessoa, partilhar os mesmos problemas, etc. Nem sempre é fácil uma adaptação a novas situações porque quando nos acomodamos a uma certa situação temos dificuldade em aceitar que a vida muda e já não é da mesma forma.
Ao longo de toda a nossa vida estamos constantemente a ser postos à prova e a passar por processos de socialização secundária. Cada nova situação que nos surge é uma nova adaptação que sofremos.
Por este motivo, a socialização é o processo que permite a cada indivíduo desenvolver a sua personalidade permite a sua integração na sociedade. Se repararmos, dois indivíduos reagem de forma completamente diferente perante a mesma situação, porque cada indivíduo é único e a sua personalidade também.
Como tal, resta apenas mencionar que é o facto de estarmos diariamente sujeitos a este processo que nos torna seres integrados numa sociedade e nos torna aquilo que cada um é.


Bibliografia:

http://pt.wikipedia.org/wiki/socializa%C3%A7%C3%A3o

MONTEIRO, Manuela Matos, e outros, Psicologia B – 12ºano, 1ª parte, Porto Editora

A Construção da História Pessoal

Cada um de nós é o desembocar de uma torrente de natureza bio-sociocultural, em que uma multiplicidade de forças se foi organizando e encaminhando no sentido da constituição da nossa personalidade.
Uma parte da construção da história pessoal enraíza-se numa identidade multidimensional. Cada ser humano possui uma identidade específica que reside nas características que nos identificam como seres vivos da Terra e como humanos, uma identidade cultural que se relaciona com o facto de vivermos com outros seres humanos numa sociedade com determinada cultura e uma identidade pessoal que refere ao facto de cada um de nós ser uma unidade irrepetível, uma organização original que nos singulariza.
Os seres humanos só se tornam humanos inserindo-se no mundo, e o mundo está repleto se situações e experiências que cada individuo tem de ultrapassar, enfrentar e viver… os seres humanos tornam-se humanos em contextos povoados com outros seres, crescem e aprendem a conhecer-se no seio de relações cheia de história e de cultura.
Desde a infância que as experiências vividas com familiares, amigos, colegas e conhecidos se constituem como forças a interferir na direcção seguida pela nossa auto-organização pessoal. Dito isto de outra forma, tudo o que acontece ao longo da vida vai deixando marcas no nosso modo particular de ser, isto porque existem experiências que nos influenciam positivamente e outras negativamente, contribuindo umas para o nosso sucesso e bem-estar e outras para o nosso fracasso (por exemplo).
Contudo, as experiências não são boas nem más em termos absolutos, dependem do carácter subjectivo com que cada um as vive. Não há situações neutras a que se possam atribuir com objectividade caracteres bons ou maus, agradáveis ou desagradáveis, positivos ou negativos. O que há são situações para alguém, ou experiências para uma pessoa. A realidade é vivida por inúmeras pessoas e cada uma tem um modo particular de a sentir, construindo subjectivamente os significados que faz com a leitura pessoal dos acontecimentos por que passa. Tal afirmação contraria o que normalmente é aceite por os humanos, a realidade que cada um de nós vive não se resume apenas a uma realidade física, feita de objectos lugares e de seres, mas também de uma realidade interpessoal, feita através de compreensões intersubjectivas adquiridas através do convívio com os outros.
A história pessoal desenrola-se no diálogo entre o que percebemos (objectivamente) e o que construímos (intersubjectivamente), isto é, constrói-se por aquilo que presenciamos, por as nossas experiências, acontecimentos, por aquilo que percebemos do que acontece à nossa volta e aquilo que opinamos, senti-mos e atribuímos significados.
Vivendo as coisas à sua maneira, a pessoa projecta-se nas situações atribuindo-lhes significados pessoais, transfigurando-as de tal modo que se tornam experiências exclusivas, pois cada um interioriza e assume estes significados de forma particular, fazendo com que estes façam parte integrante da identidade de cada um.
Assim, cada ser humano vai construindo de modo pessoal a sua história, à custa das situações por que passa e dos acontecimentos que vivencia.
A sociedade é a nossa morada e só nela podemos construir a nossa humanidade porque mesmo que o homem resulte de características herdadas por os seus progenitores, ele só adquire as características de ser humano quando a sua vida decorre no seio de um grupo social. É este convívio que lhe permite actualizar os seus potenciais genéticos, daí se dizer que o homem é um ser social.
A sociedade e a cultura são condição da nossa realização, elas oferecem-nos infinitas possibilidades e oportunidades o que é significativo para o nosso projecto pessoal de vida. Por viver no seio da cultura e pelo facto de o homem ser capaz de escapar à rigidez das condutas naturais e instintivas, este torna-se também um ser cultural, sendo por este facto que o homem se sente autónomo. Isto porque sente-se senhor se si, não tende a obedecer à pré-programação animal. É um ser livre porque a sociedade colocou ao seu dispor um manancial de actuações onde pode seleccionar as que julga serem mais adequadas para o seu projecto de vida e a sua forma pessoal de ser.
Com o intuito de uma vida organizada, os seres humanos agem de forma a criar ordem e sentido nela, a partir do conjunto de experiências, são seres auto-organizados. Pois consciente de si próprio o homem é capaz de pegar no emaranho das suas vivências e elaborar, à sua maneira, uma síntese que lhe confere individualidade própria. Auto-organizando-se a pessoa constrói de modo autónomo a sua identidade, seguindo uma trajectória pessoal.
Deste modo, cada um de nós apresenta-se com uma individualidade genética, funcional e cultural que faz de si uma história pessoal única e irrepetível.


Bibliografia
MONTEIRO Manuela, SANTOS Milice Ribeiro, 1ª parte, Psicologia A 12º ano, Porto Editora
MONTEIRO Manuela Matos, FERREIRA Pedro Tavares, 1ª parte, Psicologia B 12º ano, Porto Editora
JACOB François, A Estátua Interior
http://www.dhnet.org.br/desejos/textos/galaxy.html

Cada cérebro é um passo em frente na Humanidade!

Os nossos cérebros são fisicamente diferentes uns dos outros, pois este modifica-se ao longo de toda a vida, consoante as experiências vividas pelo sujeito. Por este motivo, não existem dois cérebros iguais, pois não há no mundo, nenhuma pessoa que seja totalmente igual a outra, e pelo menos até agora, ainda não há ninguém clonado entre nós; e mesmo que existisse, duvido que seria igual ao original. Pois este viveria num outro tempo e lugar, passaria por outras experiências, conheceria outras pessoas, ouviria outras músicas, enfim, teria outra interacção com as pessoas e seus costumes. Nem mesmo nós somos hoje o que fomos ontem, não é mesmo? Pois as coisas mudam com uma rapidez impressionante, e por vezes temos mesmos que nos esforçar bastante para conseguir acompanhar este mundo em constante mudança.
Quando nascemos o nosso cérebro não está totalmente desenvolvido, mas é esta prematuridade, este inacabamento, que nos permite uma melhor e mais eficaz adaptação a novas situações ao longo da nossa vida, pois como temos um programa genético aberto, no qual apenas estamos parcialmente programados, ou seja, existe apenas uma programação de índole biológica e não um sistema de instintos que determine o nosso comportamento face a uma determinada situação, temos a possibilidade de nos adaptarmos a um ambiente em mudança, inventando assim novas soluções para os problemas com que nos deparamos, compensando desta forma as nossas limitações anatómicas.
Simultaneamente, desenvolve-se assim um processo de individuação, ou seja, as experiências vividas por cada indivíduo, marcam a estrutura do nosso cérebro favorecendo assim a singularidade. Desta forma, o principal motor de individuação é a plasticidade do cérebro, ou seja, a sua capacidade de se modificar, de se moldar ao longo da vida por efeito das experiências vividas, sempre no sentido de uma melhor adaptação ao meio. Sendo a plasticidade cerebral por sua vez a condição necessária à aprendizagem. E como ser o ser humano é um ser prematuro, pois o processo de desenvolvimento do cérebro continua após o nascimento e desenvolve-se de uma forma lenta, a lentificação constitui uma vantagem, pois possibilita uma maior estimulação do meio, e portanto uma maior aprendizagem, mas apesar de este processo de desenvolvimento ser muito lento, como referi anteriormente, não é pejorativo, pois como somos ser sociais necessitamos da ajuda dos outros, que são fundamentais para a construção do “eu”.
Voltando ao assunto fulcral, o cérebro humano, este está dividido em dois hemisférios, sendo que cada um deles se especializou em funções diversas, contudo funcionam de modo integrado como um todo. Os hemisférios cerebrais controlam a parte oposta do corpo, porque os feixes nervosos se cruzam no caminho.
O cérebro funciona de uma forma sistémica, pois as suas capacidades, não dependem só de si mesmas, mas também do funcionamento integrado das outras áreas cerebrais. Por isso, constatou-se que quando uma função é perdida devido a uma lesão, esta pode ser recuperada por uma área vizinha, designando-se este processo, por função vicariante ou de suplência.
Desta forma, podemos afirmar que o nosso cérebro é um sistema unitário que trabalha como um todo de forma interactiva.
Em suma, cada cérebro é um passo em frente na Humanidade, pois as suas diferenças de sujeito para sujeito ultrapassam as definições genéticas e as experiências vividas por cada um de nós, desde as intra-uterinas, como ao longo de toda a vida são muito diferentes, ou pelo menos atribuímos significados diferentes às coisas, consoante a nossa história pessoal.
A individuação torna as produções culturais mais complexas, pois como todos temos uma maneira de pensar diferente, e arranjamos diferentes soluções para os obstáculos que se apresentam ao longo do nosso efémero percurso de vida, o nosso cérebro desenvolve-se de maneira bem diferente.
Mas, como costumamos dizer na gíria, várias cabeças pensam melhor que uma só, por isso como existem várias pessoas espalhadas pelo mundo a pensarem em formas de tornar este mundo melhor, como por exemplo formas de erradicar determinadas doenças e assim melhorar a nossa qualidade de vida, devíamos aproveitar melhor as capacidades que temos, ou mesmo as capacidades que temos possibilidade de desenvolver; Porque apesar deste mundo, muito provavelmente, nunca vir a ser uma utopia, devemos torná-lo melhor a cada dia, e isso está nas mãos dos seres humanos que são a espécie dominante do planeta, e por isso têm o dever de assumir esta posição.


Bibliografia:

Manual de Psicologia 12º Ano – “Ser Humano”

Qual a especificidade do ser humano?

Cérebro:
· Lentificação e individuação
· Plasticidade e aprendizagem
· Auto-organização

O ser humano quando nasce é prematuro e inacabado, ou seja, o seu desenvolvimento não está completo, daí sermos seres neotenicos. A neotenia designa o inacabamento biológico do ser humano ao nascer, o que implica que a infância seja tão longa, uma vez que o nosso desenvolvimento é lento e que o desenvolvimento do nosso cérebro se faz essencialmente ao longo da nossa vida (apesar de este continuar até à morte do individuo). O facto de sermos seres prematuros e biologicamente inacabados leva a que tenhamos um programa genético aberto, ou seja, não somos predeterminados, nem temos comportamentos orientados. É claro que temos uma programação básica de ordem biológica mas não estamos determinados por um sistema de instintos que defina o nosso desenvolvimento e o nosso comportamento. O nosso desenvolvimento faz-se tendo em conta as influências do meio. Por isso temos um desenvolvimento epigenético.
Como já referi anteriormente, quando nascemos somos prematuros, inacabados biologicamente e o nosso desenvolvimento é muito lento, uma vez que demoramos muito tempo a atingir o pleno desenvolvimento, daí termos uma infância tão longa. A lentidão do desenvolvimento do cérebro e do nosso desenvolvimento constituiu uma vantagem na medida em que possibilita a influência do meio ao longo da vida, permite uma maior capacidade de aprendizagem e uma adaptação ao meio. Por tudo isto a lentificação é uma das características mais importantes do cérebro humano. A individuação também é uma característica do nosso cérebro. Inicialmente pensava-se que o cérebro era igual em todos os indivíduos, ou seja, julgava-se que o desenvolvimento do cérebro obedecia a uma padrão, a uma modelo. A verdade é que os nossos cérebros são diferentes. Mas qual a razão desta diferença? O cérebro humano apresenta diferenças porque os seres humanos tem códigos genéticos diferentes o que faz com que haja um diferente desenvolvimento dos tecidos nervosos e porque cada uma de nós ao longo da nossa vida tem experiências, vivências diferentes. Até mesmo os gémeos homozigóticos apresentam cérebros diferentes (com uma diferente número de células nervosas e com diferentes conexões entre os neurónios) mesmo tendo o mesmo código genético pois têm experiências de vida diferentes devido às diferentes influências do meio. Se à nascença separarmos dois gémeos homozigóticos, sendo um deles criado num bom ambiente familiar num contexto socio-cultural “normal” e o outro criado num quarto fechado sem qualquer tipo de contacto com seres humanos veremos que as diferenças entre eles serão gigantescas, desta forma podemos verificar que as experiências que vivenciamos são cruciais no desenvolvimento cerebral e na individuação dos seres humanos. Assim quando falamos em individuação referimo-nos à distinção entre os seres humanos, desta forma cada pessoa desenvolve mais determinadas áreas cerebrais consoante as suas aptidões, as suas experiências de vida, daqui resulta a diversidade da sociedade devido à individuação de cada um. A lentificação também contribui para a individuação na medida em que sendo o nosso desenvolvimento cerebral lento estamos sujeitos às influência do meio durante mais tempo, vivendo mais experiências diferenciando-nos cada vez mais uns dos outros, ou seja, individualizando-nos. O principal motor da individuação é a plasticidade, é o facto de o nosso cérebro ser maleável, ou seja, de modificar as redes neuronais em função das experiências vividas e do meio em que estamos inseridos. A prova de que o nosso cérebro é plástico é o facto de uma função perdida devido a uma lesão poder ser recuperada por uma área vizinha da zona lesionada, a esta função dá-se o nome de função vincariante ou de suplência do cérebro. A plasticidade permite a aprendizagem e é a aprendizagem que vai possibilitar adaptação a novas situação, pois sendo nós tutores de um programa genético aberto é a aprendizagem que vai assumir as funções que nos outros seres resultam da hereditariedade. Mas como é que o cérebro consegue assimilar tanta informação? Só o consegue fazer graças à auto-organização cerebral que é uma auto-organização permanente. O processo de auto-organização consiste na multiplicação, e na eliminação das redes neuronais, ou seja na selecção das mesmas. Dá-se a multiplicação de redes neuronais quando há uma área cerebral que se desenvolve mais, que é por exemplo o caso de um violoncelista que tem as áreas cerebrais que comanda os dedos mais desenvolvida do que outras pessoas. Quando se dá o inverso, ou seja, quando uma pessoal, por exemplo, deixa de exercer uma determinada tarefa, a área cerebral responsável por essa tarefa vai deixar de ser utilizada, sendo as ligações neuronais desnecessárias, logo eliminadas. Faz-se assim uma selecção das redes neuronais: multiplicando as necessárias e eliminando as desnecessárias.
Por tudo isto o cérebro humano tem a capacidade de apreender e de se adaptar a novas situações, distinguindo-se dos outros seres.


Bibliografia:
Monteiro, Manuela Matos e Ferreira, Pedro Tavares
Ser Humano; Porto Editora

O cérebro humano

O cérebro humano é diferente do cérebro de qualquer outra espécie. O nosso cérebro faz-nos ser aquilo que somos, a espécie dominante do planeta. Porquê?


O cérebro do ser humano é diferente de todos os outros devido a muitos factores, e são precisamente esses factores que nos levam a ser a espécie dominante, pelo menos a nível de cultura porque a muitos outros níveis somos meros aprendizes comparados com os outros animais. Como sabemos quando nós, seres humanos, nascemos o nosso cérebro não está completamente desenvolvido, isto deve-se ao facto de este desenvolver-se de uma forma lenta e assim, possuirmos um cérebro imaturo e inacabado. O ser humano é um ser prematuro, no sentido em que não apresenta as suas capacidades, competências desenvolvidas, esta prematuridade e esta imaturidade explica por que razão o período da infância é tão longo.
Nós somos seres biologicamente inacabados (atraso no desenvolvimento, fazendo com o indivíduo se desenvolva mais devagar) e quando nascemos os neurónios (células nervosas) vão-se dividindo, formando inúmeras ligações neuronais – cortilização. Nos primeiros meses de vida, a estrutura do córtex modifica-se, devido ao aumento de redes neuronais – multiplicação. Mas como somos seres que possuímos um cérebro auto-organizado, essas redes neuronais vão sofrendo um processo de selecção (boas conexões). O processo de selecção das redes neuronais está relacionado com o potencial genético característico da espécie que disponibiliza o desenvolvimento cerebral num dado sentido. Para além do factor aleatório na formação das redes neuronais estas dependem de factores epigenéticos que decorrem da relação com o meio e que reflectem a história de cada indivíduo. Depois do nascimento, as experiências do sujeito cristalizam-se sob a forma de ligações sinápticas entre neurónios. É o que se designa por epigénese. Existe, por isso, um processo de moldagem que se mantém ao longo da vida. Após o nascimento, o papel do meio é crucial no desenvolvimento do indivíduo – O cérebro recebo estímulos do meio que actuam de forma concertada no desenvolvimento cerebral, e é a sua função garantir a nossa sobrevivência – processo auto-organizado.
A nossa prematuridade explica a ausência de uma programação biológica tão rígida como a que existe noutros animais. Inacabado, biologicamente desamparado, prematuro, está aberto a múltiplas potencialidades. A nossa natureza biológica torna mais flexível o processo de adaptação ao meio. Há uma grande diferença entre os seres vivos totalmente programados e outros animais que são parcialmente programados. No ser humano, essa programação é a menos significativa, por comparação com os outros seres vivos – o programa genético é aberto e é essa diferença que nos distingue como seres humanos. Os animais apresentam esquemas de comportamento especializados que os dotam de capacidades altamente eficazes de adaptação do meio. Por exemplo, os leões têm garras que lhes permitem caçar e rasgar as suas presas. Contudo, estas especializações determinam limitações pois funcionam apenas nos nichos ecológicos onde os animais estão inseridos. As garras de um leão não o permitem abrir uma porta. Para além destas funções para que estão programados, estas capacidades de pouco servem quando as circunstâncias se alterem.
É, por isso que esta nossa “imperfeição”, o nosso inacabamento permitem que nos adaptemos às mudanças, às situações imprevistas. Estas limitações anatómicas compensam, pois permitem-nos inventar, imaginar, criar soluções para a possibilidade de adaptação a circunstâncias novas e, por isso, desafiadoras.
Outra vantagem, que nos torna a espécie dominante é podermos afirmar e definir individuação pelo processo de singularidade e autonomia que nos individualiza de todos os outros, o que nos torna únicos e irrepetíveis. Este processo permite a cada ser humano escapar à padronização da hereditariedade específica, ou seja, de todas as características comuns da espécie humana. Contudo, a individuação não depende apenas das definições do património genético, mas também da nossa história social, isto é, das experiências pessoais vividas. A individuação resulta do culminar entre a interacção da hereditariedade individual (conjunto de características herdadas por um individuo que o distingue de todos os membros que integram na sua espécie humana), com a socialização que ocorre em toda a vida (o meio, e o grupo social incute neste determinados valores, influencia-o a determinadas atitudes e comportamentos que de certa forma o tornam diferentes de todos os outros, no entanto cada individuo interpreta aquilo que aprende e interpreta esses valores de forma diferente).
As pessoas distinguem-se pela estrutura das suas aptidões mentais porque, entre outros factores, os seus cérebros têm formas diferentes. O processo de individuação contribui para a evolução humana, porque uma vez que existe variabilidade individual, existe um maior leque de possibilidades de surgirem ideias que mudem o presente, uma vez que varias cabeças pensam melhor do que uma.
Como já referi, somos seres que conseguimos dar respostas a novas circunstâncias, a novas situações específicas, conseguimo-nos adaptar, integrar, criar novas formas de ser que se adequem às novas tarefas, aos novos contextos socioculturais. Isto também, deve-se ao facto de sermos seres sociais que interagimos com outras pessoas da nossa ou de outras culturas.
São todos estes factores como a lentificação, a plasticidade, a aprendizagem, a individuação, que nos tornam diferentes das outras espécies. Somos a espécie dominante do planeta pois conseguimos arranjar, inventar, criar maneiras para o sermos, uma vez que somos seres sociais que pensamos. Muitas cabeças pensam melhor do que uma, ou seja, muitos cérebros pensam melhor do que um.


Fontes : Livro de Psicologia B 12ºano – “SER HUMANO”

Marginais ou Marginalizados

Marginalidade, um padrão cultural ou apenas um desvio do mesmo?

Entende-se que um homem marginal é aquele que, através da migração, educação, casamento ou alguma outra influência, abandona um grupo social ou cultural sem realizar um ajustamento satisfatório em outro e encontra-se na margem de ambos sem pertencer a nenhum. É um modo não básico de pertencer e de participar na estrutura geral da sociedade.
Existe assim um padrão dominante regido por um conjunto de comportamentos, práticas, crenças e valores comuns aos membros de uma determinada cultura e, todos os subconjuntos como por exemplo os homossexuais, os ex-presidiários, os ciganos, entre outros, apenas por não seguirem os mesmos hábitos ou as mesmas crenças vão acabar por ser marginalizados.
Sendo assim, leva-nos a questionar e a reflectir até que ponto os padrões culturais são justos? Uma vez que quando nascemos não recebemos qualquer manual de instruções detalhado de como nos comportarmos enquanto individuo, enquanto sociedade, enquanto cultura. Será portanto justo estes estarem sujeitos ao preconceito apenas por não terem o mesmo tipo de educação que nós?! Mas por outro lado, sendo o ser humano, um ser prematuro e como capacidade de moldar o seu cérebro ao longo da vida, não deveria este saber interiorizar todos os conhecimentos de forma a poder integrar-se na sociedade?
A tendência do homem nas sociedades é de repudiar ou negar tudo que lhe é estranho ou que não está de acordo com as suas tendências, costumes e hábitos. O preconceito leva à discriminação, à marginalização e à violência. Se desejamos combater o preconceito injusto e a discriminação indevida, a solução não é impor igualdade mascarada e fictícia por intermédio de leis. A solução é admitir e esclarecer as diferenças, as aparências e as realidades para que o sistema de defesa humana as compreenda e não rejeite o que é normal e saudável. A liberdade de interpretação pessoal deve ser sempre respeitada.
Contudo, sabemos que actualmente isto não acontece, como já referi anteriormente, a sociedade reprime e põe à margem qualquer indivíduo baseando-se unicamente nas aparências, na empatia ou por exemplo, na religião que venera. Na minha opinião, devemos permitir que estes indivíduos se integrem e se socializem pois a cultura está sempre sujeita à integração. A socialização ocorre ao longo da vida: diferentes acontecimentos, contextos e tipo de relações exigem às pessoas, novas adaptações, novas aprendizagens e a criação de novas formas de ser, o que se torna sempre vantajoso para qualquer pessoa pois se nos prepararmos para possíveis mudanças e compreendermos o destino emocional reservado para nós, humanos, certamente a vida poderá florescer de acordo com as possibilidades de brilho de cada um.
O individuo é moldado pela cultura própria da sua cultura, ou seja, nada daquilo a que um ser humano “pertence”, como a religião ou a sua educação permanece nos seus genes, é importante salientar a relevância de entender o conceito de cultura não como uma unicidade mas sim como uma diversidade de padrões de cultura, cada um deles com a sua relatividade. O conceito de cultura não termina na compreensão de que é um facto local, depende do homem, e de enorme variabilidade. Não defendo que nos tornemos uma única sociedade, de padrões culturais únicos, pois desse modo perderia o ser humano a sua diversidade e originalidade, porém se em cada sociedade, e em cada um de nós existir espaço suficiente para ao mesmo tempo conservar aquilo que nos foi transmitido, e também aceitar e “abraçar” outras culturas que estão à nossa volta, também, tornar-se-ia mais fácil compreender-nos a nós próprios.
Sendo assim, estes sujeitos serão marginais ou marginalizados?! Os comportamentos marginais não poderão ser uma estratégia dos mesmos para tentar chamar à atenção e mostrar à sociedade que afinal estas pessoas ditas “não normais” também existem? Não será uma forma de “vingança” e de demonstrarem a sua revolta perante o mundo? A maioria das vezes estes sujeitos são considerados marginais, mas no fundo, não serão vítimas da ignorância da sociedade, do não conhecimento do que é diferente?
A marginalidade é um problema inerente à estrutura de qualquer sociedade e varia em cada momento histórico, contudo é necessário que deixemos de olhar tanto para dentro de nós próprios, enquanto sociedade, e que consigamos olhar para a nossa volta, analisar, compreender e observar as acções e os comportamentos que existem para além dos nossos.

Diversidade Humana

Define-se o ser humano como sendo um ser complexo dotado de bastantes capacidades, contudo e apesar de sermos “idênticos” em muitos aspectos, em muitos mais somos distintos pois existe no ser humano uma diversidade a nível biológico, cultural e individual.
Somos biologicamente diferentes uns dos outros porque temos um genoma que varia de pessoa para pessoa (excepto em gémeos homozigóticos, que são aqueles que resultam do desdobramento do ovo). A passagem da informação genética dá-se de pais para filhos e os agentes responsáveis são, efectivamente, cromossomas (longos filamentos enrolados, constituídos quimicamente por ADN), genes (segmento de um cromossoma a que corresponde um código genético) e ADN (ácido desoxirribonucleico, constituído por duas cadeias enroladas que são compostas por quatro bases azotadas, a timina, a guanina, a citosina e a adenina).
Por conseguinte podemos afirmar que a informação genética transmitida vai ser diferente em todos os seres vivos, excepto o caso que já mencionei e por tal somos todos geneticamente diferentes uns dos outros.
O ser humano é também diferente no que se relaciona com o seu cérebro. Os nossos cérebros são fisicamente diferentes uns dos outros, no entanto o processo de individuação ultrapassa as definições genéticas, porque as experiências vividas pelos indivíduos desde as intra-uterinas como ao longo da sua vida marcam as estruturas do cérebro, fornecendo assim a singularidade. Podemos também dizer que somos dotados de uma diversidade cultural, sem a cultura, sem as possibilidades de desenvolvimento que nos proporciona crescer num contexto cultural particular, seríamos seres incompletos, inacabados. Nascemos, crescemos e vivemos em contextos socioculturais muito variados. É nestes que se desenvolve, em interacção uns com os outros e com os diferentes ambientes e situações a aprender, a capacidade de criar e de transformar subjacente ao processo de adaptação.
O processo de integração numa sociedade e cultura particular, indispensável para todos nós, faz com que a diversidade cultural, dos contextos socioculturais onde nos inscrevemos, se traduza em formas distintas de estar, pensar, de ser e de nos comportarmos.
Por último e, na minha opinião, o mais importante é a nossa diversidade a nível individual. Sobre isto nós responderíamos, à priori, que sim, que todos somos diferentes e no que diz respeito ao foro pessoal a diversidade ainda se torna mais visível mas, o que maior parte de nós não tem noção sequer é que é essa mesma diversidade que se torna muito importante para a nossa adaptação e para o respeito e compreensão que devemos ter pela diferença.
Nós somos seres autónomos e auto-determinados, porque somos capazes de escapar tanto a uma determinação biológica como a uma determinação sociocultural. A influência das práticas e dos significados socioculturais interage com a singularidade do nosso corpo, do nosso ponto de vista e da nossa experiência do mundo. É nesta dimensão pessoal, que é construída sempre com referência a um certo contexto, que se enquadram os significados e valores que atribuímos às pessoas e às coisas.
Então, e por tudo isto que mencionei, somos diferentes sim e a vários níveis como é perceptível, mas, agora a pergunta que paira na cabeça das pessoas é: “Qual a importância e as respectivas vantagens da diversidade humana?”
Ora bem, sermos diferentes traz vantagens inerentes sendo uma delas a aceitação pelo o que é diferente, nem sempre isto acontece, é verdade, mas pelo menos deveria acontecer. O que eu quero com isto dizer é que, ao vermos as diferenças entre nós passamos a estar mais aptos para aceitá-las, respeitá-las porque, como todos nós bem sabemos, existem determinados grupos, minorias como imigrantes, homossexuais, pobres que são alvo de desrespeito pela diferença. Agora as coisas são diferentes, não quero com isto dizer que agora já não há qualquer tipo de desrespeito, porque há, mas é menor. São cada vez mais comuns os estudos e os textos científicos onde se procura incluir saber sobre populações diversas, mas não basta incluir a diversidade nos estudos porque é preciso que estes sejam sensíveis à população que estudam e que evitem formas de “imperialismo cultural”, onde é imposta uma visão estranha a essa população.
Para desenvolvermos as nossas capacidades e potencialidades enquanto seres humanos autónomos e livres, necessitamos de crescer e de viver em meios que nos permitam exercer e praticar essas capacidades de autonomia e de liberdade; precisamos de nos sentir apoiados e desfiados, compreendidos e respeitados. Por tal, outra vantagem da diversidade humana é mesmo tornar um mundo mais justo e igual, sendo esta última palavra que mencionei estranha, pois pessoas diferentes e mundo igual será incompatível, pensam muitos, mas não, porque é com essas diferenças todas juntas, com a sua aceitação, respeito, compreensão e aprendizagem através das mesmas que nós conseguimos viver melhor numa sociedade integrante. Quanto mais forem as diferenças mais são os valores por nós adquiridos através delas, maior vai ser a nossa capacidade de aprender e interiorizar o conceito de justiça.
O problema não está nas diferenças entre cada um de nós mas sim na incapacidade que, muitas vezes temos, em torná-las semelhanças.

Fontes:
Livro de Psicologia B, Ser humano, 1ª parte

Função vicariante do Cérebro

A principal característica que nos diferencia dos animais é a nossa capacidade cerebral. Uma das características mais espantosas do nosso cérebro é a capacidade de recuperação, quase a 100% de uma lesão do cérebro. O nosso cérebro é constituído por milhões de células específicas, os neurónios. Estas são responsáveis por grande parte das funções do sistema nervoso e cada neurónio tem uma função específica a desempenhar.
Quando é afectada uma área do cérebro, o indivíduo pode tender a ficar com limitações ao nível físico ou psicológico, dependendo da zona lesada, ou seja, se a lesão foi nos lobos occipitais pode ter perturbações visuais, se for nos lobos temporais pode ser afectada a audição. Mas se a zona lesada, for o córtex pré-frontal haverá modificações ao nível psicológico e não físico.
Para conseguir explicar com melhor eficácia o córtex pré-frontal do nosso cérebro tenho de referir dois casos muito interessantes, o caso de Phineas Gage e Elliot. Gage sofreu um acidente enquanto trabalhava e a consequência deste episódio trágico foi a lesão das áreas pré-frontais. Phineas era um homem calmo, trabalhador e educado, após a remoção da barra ferro que feriu o cérebro e lhe arrebatou um olho, a sua personalidade modificou-se radicalmente. A personalidade de Gage alterou-se para o contrário, passou a ser um homem grosseiro, colérico, e irritava-se com muita facilidade. No caso de Elliot não sofreu nenhum acidente, mas tinha um tumor na parte do córtex. Após a operação, em que lhe retiraram parte do córtex, a personalidade do Elliot também teve grandes transformações e uma delas foi a indiferença afectiva, ou seja, não demonstrava qualquer sentimento, nem tristeza, nem alegria, nem ansiedade. Graças a Damásio que estudou estes dois casos pormenorizadamente sabemos que as relações entre o córtex e as emoções funcionam como inibidores ou estimulantes, isto é, o nosso cérebro consegue inibir uma emoção ou estimula-la. Daí se for danificada esta zona do cérebro pode ser afectada a nossa personalidade.
Até aqui, referi as lesões que podem ocorrer se for afectada uma zona do cérebro, mas não expliquei como podem ser recuperadas as áreas afectas quase na totalidade.
É por causa da capacidade do nosso cérebro funcionar como um todo, como uma rede funcional que conseguimos recuperar quase na totalidade a área danificada. Isto é, cada área do nosso cérebro possui neurónios específicos para determinada função. Quando é danificada uma zona do nosso cérebro, os neurónios dessa zona desaparecem, mas por causa da função vicariante que o cérebro possui, este consegue recuperar quase totalmente as áreas afectadas. Contudo esta função está complementada com a plasticidade do nosso cérebro. E é por causa destas duas capacidades cerebrais que os neurónios das áreas vizinhas podem substituir as funções dos neurónios dessas zonas afectadas pelas lesões cerebrais, resultantes de várias circunstâncias como o coma, os acidentes vasculares, os traumatismos cranianos, entre outros.
Ao longo do trabalho tenho dado ênfase ao pormenor de não se recuperar 100% de uma lesão, isto acontece porque os neurónios das outras regiões do nosso cérebro possuem especificações para determinas funções. Mas como as células nervosas têm as mesmas características variando apenas as suas funções, elas conseguem adquirir e desempenhar outras funções do nosso cérebro, mas não inteiramente pois não estavam destinadas a aquela área do cérebro.
A função vicariante é uma função muito importante do nosso cérebro, graças a esta função conseguimos recuperar de lesões, e viver uma vida normal e independente.

Bibliografia:
MONTE IRO, Manuela Matos e FERE IRRA, Pedro Tavares, Ser Humano, 1ªParte - Psicologia B 12ºaNo, Porto Editora.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

A interacção entre hereditariedade e o meio

Cada ser humano tem características próprias, características que os tornam únicos. No entanto, para conseguirmos explicar este facto, temos que ter em conta dois aspectos essenciais: o meio e a hereditariedade. Assim sendo, ao conjunto de características que uma pessoa recebe por hereditariedade dá-se o nome de genótipo e ao conjunto de características que um individuo apresente, resultado da sua hereditariedade e de influência do meio, denominamos fenótipo.
Um indivíduo é, ao longo da sua vida, muito influenciado pelo meio. Assim, o meio é constituído por elementos que intervêm no comportamento de cada indivíduo. De realçar, que esta influência é também notória nos nove meses em que a criança está a desenvolver-se – meio intra-uterino –, uma vez que se a mãe se alimenta mal, ingere álcool, é toxicodependente, etc., estes comportamentos inadequados da mãe podem trazer problemas físicos e mentais no desenvolvimento da criança, provocando nesta uma dependência das mesmas substâncias.
A genética também tem grande influência nas características de um indivíduo. Referimos sempre a influência nas características físicas (a cor da pele, dos olhos, do cabelo, etc.), porém, a influência genética actua também sobre as estruturas orgânicas – sistema nervoso e endócrino –, que são muito importantes para o comportamento humano.
Há quem defenda que o nosso desenvolvimento é influenciado sobretudo pelo meio, ou principalmente pela hereditariedade. Porém, a hereditariedade não pode exprimir-se sem um meio apropriado, assim como o meio não tem qualquer efeito sem o potencial genético. Por isto, afirma-se que a hereditariedade e o meio interagem, determinando o desenvolvimento orgânico, psicomotor, a linguagem, a inteligência, a afectividade, etc.
De realçar, que vários são os exemplos que comprovam a interacção da hereditariedade e o meio.
Um dos exemplos mais significativos é a inteligência – o nível intelectual mede-se através de testes de inteligência, que são apresentados sob a forma de Q.I. O Q.I, grau de inteligência, relaciona-se intimamente com o meio. Por exemplo, quando a criança está inserida num ambiente economicamente menos favorável, este é normalmente menos estimulante intelectualmente, daí que a criança tenha um Q.I mais baixo. Contudo, temos também uma situação inversa, dependendo da personalidade de cada um, visto que a mesma situação de pobreza, pode ser um estímulo para atingir um nível cognitivo mais alto que permita uma ascensão social e económica.
Existem também estudos que relacionam a inteligência com a afectividade familiar. Por exemplo, verificou-se que crianças que foram adoptadas depois de terem vivido em orfanatos manifestaram um aumento no seu Q.I, precisamente provocado pela afectividade e consequente estímulo.
Não podemos, contudo, restringir ao meio a influência no desenvolvimento do Q.I em cada criança. A hereditariedade assume também uma importância crucial. O melhor exemplo é o caso dos gémeos homozigóticos. Existem estudos que comprovam que gémeos verdadeiros separados à nascença e criados em meios sócio-económicos diferentes, têm um Q.I. semelhante, bem como, outras características de hereditariedade genética, como sendo o temperamento, os gestos, predisposições intelectuais…
É um erro, estabelecermos relações de causa-efeito entre o meio e a hereditariedade na influência do Q.I. ou comportamentos. Trata-se sim, de uma correlação, isto é, meio e hereditariedade interagem em conjunto com a personalidade de cada um. Por exemplo, não podemos firmar categoricamente que um indivíduo com um nível sócio-económico baixo tenha um Q.I. baixo, é provável mas não imperativo.
No fundo, meio, hereditariedade e personalidade (experiências pessoais, emoções…) actuam em conjunto na formação da personalidade do indivíduo.


Bibliografia:

MONTEIRO Manuela, SANTOS Milice Ribeiro, 1.ª parte, Psicologia A 12.º ano, Porto Editora

MONTEIRO Manuela Matos, FERREIRA Pedro Tavares, 1.ª parte, Psicologia B 12.º ano, Porto Editora

HETZER Hildegard, Psicologia pedagógica

BUHLER Charlotte, A psicologia na vida do nosso tempo