O cérebro humano é diferente do cérebro de qualquer outra espécie. O nosso cérebro faz-nos ser aquilo que somos, a espécie dominante do planeta. Porquê?
O cérebro do ser humano é diferente de todos os outros devido a muitos factores, e são precisamente esses factores que nos levam a ser a espécie dominante, pelo menos a nível de cultura porque a muitos outros níveis somos meros aprendizes comparados com os outros animais. Como sabemos quando nós, seres humanos, nascemos o nosso cérebro não está completamente desenvolvido, isto deve-se ao facto de este desenvolver-se de uma forma lenta e assim, possuirmos um cérebro imaturo e inacabado. O ser humano é um ser prematuro, no sentido em que não apresenta as suas capacidades, competências desenvolvidas, esta prematuridade e esta imaturidade explica por que razão o período da infância é tão longo.
Nós somos seres biologicamente inacabados (atraso no desenvolvimento, fazendo com o indivíduo se desenvolva mais devagar) e quando nascemos os neurónios (células nervosas) vão-se dividindo, formando inúmeras ligações neuronais – cortilização. Nos primeiros meses de vida, a estrutura do córtex modifica-se, devido ao aumento de redes neuronais – multiplicação. Mas como somos seres que possuímos um cérebro auto-organizado, essas redes neuronais vão sofrendo um processo de selecção (boas conexões). O processo de selecção das redes neuronais está relacionado com o potencial genético característico da espécie que disponibiliza o desenvolvimento cerebral num dado sentido. Para além do factor aleatório na formação das redes neuronais estas dependem de factores epigenéticos que decorrem da relação com o meio e que reflectem a história de cada indivíduo. Depois do nascimento, as experiências do sujeito cristalizam-se sob a forma de ligações sinápticas entre neurónios. É o que se designa por epigénese. Existe, por isso, um processo de moldagem que se mantém ao longo da vida. Após o nascimento, o papel do meio é crucial no desenvolvimento do indivíduo – O cérebro recebo estímulos do meio que actuam de forma concertada no desenvolvimento cerebral, e é a sua função garantir a nossa sobrevivência – processo auto-organizado.
A nossa prematuridade explica a ausência de uma programação biológica tão rígida como a que existe noutros animais. Inacabado, biologicamente desamparado, prematuro, está aberto a múltiplas potencialidades. A nossa natureza biológica torna mais flexível o processo de adaptação ao meio. Há uma grande diferença entre os seres vivos totalmente programados e outros animais que são parcialmente programados. No ser humano, essa programação é a menos significativa, por comparação com os outros seres vivos – o programa genético é aberto e é essa diferença que nos distingue como seres humanos. Os animais apresentam esquemas de comportamento especializados que os dotam de capacidades altamente eficazes de adaptação do meio. Por exemplo, os leões têm garras que lhes permitem caçar e rasgar as suas presas. Contudo, estas especializações determinam limitações pois funcionam apenas nos nichos ecológicos onde os animais estão inseridos. As garras de um leão não o permitem abrir uma porta. Para além destas funções para que estão programados, estas capacidades de pouco servem quando as circunstâncias se alterem.
É, por isso que esta nossa “imperfeição”, o nosso inacabamento permitem que nos adaptemos às mudanças, às situações imprevistas. Estas limitações anatómicas compensam, pois permitem-nos inventar, imaginar, criar soluções para a possibilidade de adaptação a circunstâncias novas e, por isso, desafiadoras.
Outra vantagem, que nos torna a espécie dominante é podermos afirmar e definir individuação pelo processo de singularidade e autonomia que nos individualiza de todos os outros, o que nos torna únicos e irrepetíveis. Este processo permite a cada ser humano escapar à padronização da hereditariedade específica, ou seja, de todas as características comuns da espécie humana. Contudo, a individuação não depende apenas das definições do património genético, mas também da nossa história social, isto é, das experiências pessoais vividas. A individuação resulta do culminar entre a interacção da hereditariedade individual (conjunto de características herdadas por um individuo que o distingue de todos os membros que integram na sua espécie humana), com a socialização que ocorre em toda a vida (o meio, e o grupo social incute neste determinados valores, influencia-o a determinadas atitudes e comportamentos que de certa forma o tornam diferentes de todos os outros, no entanto cada individuo interpreta aquilo que aprende e interpreta esses valores de forma diferente).
As pessoas distinguem-se pela estrutura das suas aptidões mentais porque, entre outros factores, os seus cérebros têm formas diferentes. O processo de individuação contribui para a evolução humana, porque uma vez que existe variabilidade individual, existe um maior leque de possibilidades de surgirem ideias que mudem o presente, uma vez que varias cabeças pensam melhor do que uma.
Como já referi, somos seres que conseguimos dar respostas a novas circunstâncias, a novas situações específicas, conseguimo-nos adaptar, integrar, criar novas formas de ser que se adequem às novas tarefas, aos novos contextos socioculturais. Isto também, deve-se ao facto de sermos seres sociais que interagimos com outras pessoas da nossa ou de outras culturas.
São todos estes factores como a lentificação, a plasticidade, a aprendizagem, a individuação, que nos tornam diferentes das outras espécies. Somos a espécie dominante do planeta pois conseguimos arranjar, inventar, criar maneiras para o sermos, uma vez que somos seres sociais que pensamos. Muitas cabeças pensam melhor do que uma, ou seja, muitos cérebros pensam melhor do que um.
Fontes : Livro de Psicologia B 12ºano – “SER HUMANO”
1 comentário:
Gostei muuuito destas explicações. Têm-me ajudado muito na minha preparação para os testes de psicologia. Obrigada ;D
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