Marginalidade, um padrão cultural ou apenas um desvio do mesmo?
Entende-se que um homem marginal é aquele que, através da migração, educação, casamento ou alguma outra influência, abandona um grupo social ou cultural sem realizar um ajustamento satisfatório em outro e encontra-se na margem de ambos sem pertencer a nenhum. É um modo não básico de pertencer e de participar na estrutura geral da sociedade.
Existe assim um padrão dominante regido por um conjunto de comportamentos, práticas, crenças e valores comuns aos membros de uma determinada cultura e, todos os subconjuntos como por exemplo os homossexuais, os ex-presidiários, os ciganos, entre outros, apenas por não seguirem os mesmos hábitos ou as mesmas crenças vão acabar por ser marginalizados.
Sendo assim, leva-nos a questionar e a reflectir até que ponto os padrões culturais são justos? Uma vez que quando nascemos não recebemos qualquer manual de instruções detalhado de como nos comportarmos enquanto individuo, enquanto sociedade, enquanto cultura. Será portanto justo estes estarem sujeitos ao preconceito apenas por não terem o mesmo tipo de educação que nós?! Mas por outro lado, sendo o ser humano, um ser prematuro e como capacidade de moldar o seu cérebro ao longo da vida, não deveria este saber interiorizar todos os conhecimentos de forma a poder integrar-se na sociedade?
A tendência do homem nas sociedades é de repudiar ou negar tudo que lhe é estranho ou que não está de acordo com as suas tendências, costumes e hábitos. O preconceito leva à discriminação, à marginalização e à violência. Se desejamos combater o preconceito injusto e a discriminação indevida, a solução não é impor igualdade mascarada e fictícia por intermédio de leis. A solução é admitir e esclarecer as diferenças, as aparências e as realidades para que o sistema de defesa humana as compreenda e não rejeite o que é normal e saudável. A liberdade de interpretação pessoal deve ser sempre respeitada.
Contudo, sabemos que actualmente isto não acontece, como já referi anteriormente, a sociedade reprime e põe à margem qualquer indivíduo baseando-se unicamente nas aparências, na empatia ou por exemplo, na religião que venera. Na minha opinião, devemos permitir que estes indivíduos se integrem e se socializem pois a cultura está sempre sujeita à integração. A socialização ocorre ao longo da vida: diferentes acontecimentos, contextos e tipo de relações exigem às pessoas, novas adaptações, novas aprendizagens e a criação de novas formas de ser, o que se torna sempre vantajoso para qualquer pessoa pois se nos prepararmos para possíveis mudanças e compreendermos o destino emocional reservado para nós, humanos, certamente a vida poderá florescer de acordo com as possibilidades de brilho de cada um.
O individuo é moldado pela cultura própria da sua cultura, ou seja, nada daquilo a que um ser humano “pertence”, como a religião ou a sua educação permanece nos seus genes, é importante salientar a relevância de entender o conceito de cultura não como uma unicidade mas sim como uma diversidade de padrões de cultura, cada um deles com a sua relatividade. O conceito de cultura não termina na compreensão de que é um facto local, depende do homem, e de enorme variabilidade. Não defendo que nos tornemos uma única sociedade, de padrões culturais únicos, pois desse modo perderia o ser humano a sua diversidade e originalidade, porém se em cada sociedade, e em cada um de nós existir espaço suficiente para ao mesmo tempo conservar aquilo que nos foi transmitido, e também aceitar e “abraçar” outras culturas que estão à nossa volta, também, tornar-se-ia mais fácil compreender-nos a nós próprios.
Sendo assim, estes sujeitos serão marginais ou marginalizados?! Os comportamentos marginais não poderão ser uma estratégia dos mesmos para tentar chamar à atenção e mostrar à sociedade que afinal estas pessoas ditas “não normais” também existem? Não será uma forma de “vingança” e de demonstrarem a sua revolta perante o mundo? A maioria das vezes estes sujeitos são considerados marginais, mas no fundo, não serão vítimas da ignorância da sociedade, do não conhecimento do que é diferente?
A marginalidade é um problema inerente à estrutura de qualquer sociedade e varia em cada momento histórico, contudo é necessário que deixemos de olhar tanto para dentro de nós próprios, enquanto sociedade, e que consigamos olhar para a nossa volta, analisar, compreender e observar as acções e os comportamentos que existem para além dos nossos.
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