As “crianças selvagens” são crianças que cresceram privadas de todo o contacto humano, ou cujo contacto humano foi mínimo. Podem ter sido criadas por animais (frequentemente lobos) ou, de alguma maneira, terem sobrevivido sozinhas. Normalmente, são perdidas, roubadas, vítimas de situação de abuso ou abandonadas na infância e, depois, anos mais tarde, descobertas, capturadas e recolhidas entre os humanos.
Estas crianças apresentam características muito particulares, no momento em que são encontradas, possuem uma linguagem, sobretudo linguagem mímica, em alguns casos imitativa dos sons e dos gestos dos animais com quem viveram. A sua linguagem verbal é quase sempre nula ou muito reduzida e varia de caso para caso, conforme o tipo de isolamento e a idade a qual aconteceu. A sua capacidade para aprender uma língua no seu regresso à sociedade humana é muito variada. Algumas nunca aprendem a falar, outras aprendem algumas palavras, outras ainda aprenderam a falar correctamente, o que provavelmente indicia que tinham aprendido a falar antes do isolamento. As crianças selvagens exibem o comportamento social das suas famílias adoptivas. Não gostam em geral de usar roupa e alimentam-se, bebem e comem tal como um animal o faria. A maioria das crianças selvagens não gosta da companhia humana e percorrem longas distâncias para a evitar. Não mostram interesse algum noutras crianças da sua idade nem nos jogos que estas jogam. Na medida em que não gostam da companhia humana, procuram a companhia dos animais, particularmente dos animais semelhantes à espécie dos seus pais adoptivos. Ao mesmo tempo, também os animais reconhecem estas crianças, aproximando-se delas como não o fariam em relação a outros humanos.
As crianças selvagens não se riem ou choram, apesar de eventualmente poderem desenvolver alguma ligação afectiva. Manifestam pouco ou nenhum controlo emocional e, muitas vezes, têm ataques de raiva podendo então exibir uma força particular e um comportamento claramente selvagem. Algumas crianças têm ataques de ferocidade ocasionais, mordendo ou arranhando outros ou até eles mesmo, por esse motivo é que, características dos seus corpos apresentam frequentes cicatrizes e marcas quer físicas quer psicológicas. Os casos mais conhecidos e que ficaram mais célebres foram: Victor de Aveyron, Amala e Kamala, e Gennie, e entre os mais conhecidos em Portugal temos ainda o caso de Isabel.
Poderemos falar também do caso de Nell, o filme que visualizamos na aula de Psicologia. Não se pode dizer que Nell seja uma criança selvagem porque, em primeiro lugar, ela não é uma criança, mas sim uma adolescente. Embora não tenha tido contacto com outros seres humanos, ela contactou com a mãe e a irmã. Além disso, Nell não vivia enclausurada pois saía à noite e só não saía de dia porque tinha medo. Nell quando foi encontrada sabia falar e andar em posição erecta. Jerry e Paula apresentam no início soluções bastante antagónicas para o caso de Nell. De um lado temos uma psicóloga que vê na jovem Nell uma oportunidade para a sua própria carreira. Trata-se de um caso muito raro, que não pode ser construído em laboratório e do qual, por isso mesmo, Paula tenta tirar todo o proveito. É com o intuito de ganhar algum protagonismo profissional que quer levar Nell para um Hospital. No Hospital poderia aprofundar o conhecimento da sua personalidade, através de um acompanhamento médico permanente. Por outro lado, temos Jerry que ganhou de imediato uma grande empatia por Nell. Por isso ele tenta mantê-la no seu habitat natural. É aí que Nell sempre viveu e é com a floresta que ela mais se identifica. O que se sabe é que sempre viveu feliz, com tudo o que tinha à sua volta e que nunca precisou das comodidades que a sociedade nos oferece. Por outro lado, uma vez que nunca teve nenhuma da experiência no mundo moderno, Nell não poderá saber se esse mundo será melhor ou não para ela. É a consciência desta situação que leva Jerry e Paula a porem-se de acordo para lhe proporcionar essa experiência, levando-a à cidade. No início, Nell sente-se seduzida com tudo o que vê. Reage com a naturalidade ingénua de quem nunca conviveu com outros seres humanos. Por essa razão é que se dá a tentativa de aproveitamento dessa pureza, tanto pelos habitantes da cidade como até pela psicóloga. O que o filme mostra também é que todos os encontros que Nell tem com a sociedade, o encontro com os “ média “, a ida ao bar e até as análises ao sangue, só servem para ela se fechar mais ainda no seu mundo. Vimos já que os métodos utilizados por Jerry e Paula são antagónicos. O método utilizado pela psicóloga é bastante impessoal mas, apesar disso, permite chegar a resultados positivos, por exemplo, permite a Paula aperceber-se que Nell fala uma deformação da língua inglesa. Jerry utiliza um método de aproximação mais humano, baseado numa presença constante na casa de Nell, com diálogos em que começa por utilizar as próprias palavras de Nell. Esta aproximação tem como principal objectivo a obtenção da confiança de Nell, é uma missão bastante difícil porque Nell nunca havia contactado com ninguém a não ser com a mãe e a irmã. Por isso é que, ao ganhar a sua confiança, Jerry se torna o seu “anjo da guarda“. A partir deste momento, o médico tenta dar uma educação a Nell. A sua educação tinha sido baseada unicamente naquilo que a mãe lhe havia transmitido, sobretudo a sobreviver e a defender-se do mundo exterior.(socialização primária – aprendizagem mais básicas da vida em comum). Em termos de valores, centrava-se essencialmente na Biblía, de onde Nell extraía os princípios, as normas, os heróis que constituíam o seu mundo. O objectivo do médico é prepará-la para viver em sociedade, pois não sabe qual vai ser a decisão final do juiz. Um outro aspecto que este filme levanta é o da circularidade das figuras educativas. Nell foi educada pelo médico e pela psicóloga e, de modo inverso, também podemos dizer que os educou a eles, ou seja não é só Nell que é agente de socialização a sociedade também tem de se adaptar a Nell.O filme mostra que Jerry e Paula aprenderam que os pontos de vista de Nell, apesar de diferentes, poderiam ser úteis para a sua vida. Paula acaba mesmo por abandonar os seus desejos de protagonismo a favor da defesa do estilo de vida que Nell pretende levar. Outra coisa que aprende com Nell é o valor da liberdade. Nell é um ser singular que preserva cuidadosamente a sua liberdade. Liberdade que implica o isolamento e a solidão. Ora, ela aceita este estado pois não quer depender de outras pessoas ou de outras coisas. Em conclusão poderíamos dizer que Nell não é anormal. Trata-se apenas um ser humano que se afasta enormemente dos nossos padrões de vida. Ela nunca pediu nada a ninguém, apenas pede que a deixem continuar a viver uma vida simples.
Em suma, nem sempre é fácil reconhecer a humanidade destas crianças. O modo como se relacionam com os outros e com o mundo provoca em nós uma estranheza fundamental. Elas são humanas, mas é-nos difícil, a muitos níveis, relacionar a nossa experiência com a delas, compreender a forma como sentem, como agem e pensem. Não nos reconhecemos nelas, elas não se reconhecem em nós. Mas as suas capacidades e as suas características mostram como dependemos de outros, do contacto físico e sociocultural com eles, para nos tornamos os seres humanos que somos. Sermos humanos é mais do que pertencemos a uma espécie de seres com determinada biologia e estrutura corporal: depende da participação em contextos sociais e culturais particulares, onde aprendemos formas de ser e de nos comportamos, assim tornamo-nos humanos através da aprendizagem de formas partilhadas e reconhecíveis de ser e de nos comportarmos Estas crianças crescem isoladas do contacto com outros humanos, o seu comportamento é feito da ausência de qualquer contacto social, e por isso não tiveram qualquer tipo de aprendizagem de comportamentos, normas, praticas e valores de uma determinada comunidade, ou seja, não tiveram qualquer processo de socialização (processo dinâmico de integração de um individuo numa dada cultura), ainda que em alguns casos a socialização primária acontece. O seu comportamento social não é em geral, orientado para outros seres humanos, nem segue os mesmos padrões, podendo aproximar-se, em alguns casos, do dos animais que interagiram, quando existia uma interacção de tipo social com outros animais. Tudo isto, nos leva a concluir que o papel das interacções sociais é fulcral no desenvolvimento humano.
Estas crianças apresentam características muito particulares, no momento em que são encontradas, possuem uma linguagem, sobretudo linguagem mímica, em alguns casos imitativa dos sons e dos gestos dos animais com quem viveram. A sua linguagem verbal é quase sempre nula ou muito reduzida e varia de caso para caso, conforme o tipo de isolamento e a idade a qual aconteceu. A sua capacidade para aprender uma língua no seu regresso à sociedade humana é muito variada. Algumas nunca aprendem a falar, outras aprendem algumas palavras, outras ainda aprenderam a falar correctamente, o que provavelmente indicia que tinham aprendido a falar antes do isolamento. As crianças selvagens exibem o comportamento social das suas famílias adoptivas. Não gostam em geral de usar roupa e alimentam-se, bebem e comem tal como um animal o faria. A maioria das crianças selvagens não gosta da companhia humana e percorrem longas distâncias para a evitar. Não mostram interesse algum noutras crianças da sua idade nem nos jogos que estas jogam. Na medida em que não gostam da companhia humana, procuram a companhia dos animais, particularmente dos animais semelhantes à espécie dos seus pais adoptivos. Ao mesmo tempo, também os animais reconhecem estas crianças, aproximando-se delas como não o fariam em relação a outros humanos.
As crianças selvagens não se riem ou choram, apesar de eventualmente poderem desenvolver alguma ligação afectiva. Manifestam pouco ou nenhum controlo emocional e, muitas vezes, têm ataques de raiva podendo então exibir uma força particular e um comportamento claramente selvagem. Algumas crianças têm ataques de ferocidade ocasionais, mordendo ou arranhando outros ou até eles mesmo, por esse motivo é que, características dos seus corpos apresentam frequentes cicatrizes e marcas quer físicas quer psicológicas. Os casos mais conhecidos e que ficaram mais célebres foram: Victor de Aveyron, Amala e Kamala, e Gennie, e entre os mais conhecidos em Portugal temos ainda o caso de Isabel.
Poderemos falar também do caso de Nell, o filme que visualizamos na aula de Psicologia. Não se pode dizer que Nell seja uma criança selvagem porque, em primeiro lugar, ela não é uma criança, mas sim uma adolescente. Embora não tenha tido contacto com outros seres humanos, ela contactou com a mãe e a irmã. Além disso, Nell não vivia enclausurada pois saía à noite e só não saía de dia porque tinha medo. Nell quando foi encontrada sabia falar e andar em posição erecta. Jerry e Paula apresentam no início soluções bastante antagónicas para o caso de Nell. De um lado temos uma psicóloga que vê na jovem Nell uma oportunidade para a sua própria carreira. Trata-se de um caso muito raro, que não pode ser construído em laboratório e do qual, por isso mesmo, Paula tenta tirar todo o proveito. É com o intuito de ganhar algum protagonismo profissional que quer levar Nell para um Hospital. No Hospital poderia aprofundar o conhecimento da sua personalidade, através de um acompanhamento médico permanente. Por outro lado, temos Jerry que ganhou de imediato uma grande empatia por Nell. Por isso ele tenta mantê-la no seu habitat natural. É aí que Nell sempre viveu e é com a floresta que ela mais se identifica. O que se sabe é que sempre viveu feliz, com tudo o que tinha à sua volta e que nunca precisou das comodidades que a sociedade nos oferece. Por outro lado, uma vez que nunca teve nenhuma da experiência no mundo moderno, Nell não poderá saber se esse mundo será melhor ou não para ela. É a consciência desta situação que leva Jerry e Paula a porem-se de acordo para lhe proporcionar essa experiência, levando-a à cidade. No início, Nell sente-se seduzida com tudo o que vê. Reage com a naturalidade ingénua de quem nunca conviveu com outros seres humanos. Por essa razão é que se dá a tentativa de aproveitamento dessa pureza, tanto pelos habitantes da cidade como até pela psicóloga. O que o filme mostra também é que todos os encontros que Nell tem com a sociedade, o encontro com os “ média “, a ida ao bar e até as análises ao sangue, só servem para ela se fechar mais ainda no seu mundo. Vimos já que os métodos utilizados por Jerry e Paula são antagónicos. O método utilizado pela psicóloga é bastante impessoal mas, apesar disso, permite chegar a resultados positivos, por exemplo, permite a Paula aperceber-se que Nell fala uma deformação da língua inglesa. Jerry utiliza um método de aproximação mais humano, baseado numa presença constante na casa de Nell, com diálogos em que começa por utilizar as próprias palavras de Nell. Esta aproximação tem como principal objectivo a obtenção da confiança de Nell, é uma missão bastante difícil porque Nell nunca havia contactado com ninguém a não ser com a mãe e a irmã. Por isso é que, ao ganhar a sua confiança, Jerry se torna o seu “anjo da guarda“. A partir deste momento, o médico tenta dar uma educação a Nell. A sua educação tinha sido baseada unicamente naquilo que a mãe lhe havia transmitido, sobretudo a sobreviver e a defender-se do mundo exterior.(socialização primária – aprendizagem mais básicas da vida em comum). Em termos de valores, centrava-se essencialmente na Biblía, de onde Nell extraía os princípios, as normas, os heróis que constituíam o seu mundo. O objectivo do médico é prepará-la para viver em sociedade, pois não sabe qual vai ser a decisão final do juiz. Um outro aspecto que este filme levanta é o da circularidade das figuras educativas. Nell foi educada pelo médico e pela psicóloga e, de modo inverso, também podemos dizer que os educou a eles, ou seja não é só Nell que é agente de socialização a sociedade também tem de se adaptar a Nell.O filme mostra que Jerry e Paula aprenderam que os pontos de vista de Nell, apesar de diferentes, poderiam ser úteis para a sua vida. Paula acaba mesmo por abandonar os seus desejos de protagonismo a favor da defesa do estilo de vida que Nell pretende levar. Outra coisa que aprende com Nell é o valor da liberdade. Nell é um ser singular que preserva cuidadosamente a sua liberdade. Liberdade que implica o isolamento e a solidão. Ora, ela aceita este estado pois não quer depender de outras pessoas ou de outras coisas. Em conclusão poderíamos dizer que Nell não é anormal. Trata-se apenas um ser humano que se afasta enormemente dos nossos padrões de vida. Ela nunca pediu nada a ninguém, apenas pede que a deixem continuar a viver uma vida simples.
Em suma, nem sempre é fácil reconhecer a humanidade destas crianças. O modo como se relacionam com os outros e com o mundo provoca em nós uma estranheza fundamental. Elas são humanas, mas é-nos difícil, a muitos níveis, relacionar a nossa experiência com a delas, compreender a forma como sentem, como agem e pensem. Não nos reconhecemos nelas, elas não se reconhecem em nós. Mas as suas capacidades e as suas características mostram como dependemos de outros, do contacto físico e sociocultural com eles, para nos tornamos os seres humanos que somos. Sermos humanos é mais do que pertencemos a uma espécie de seres com determinada biologia e estrutura corporal: depende da participação em contextos sociais e culturais particulares, onde aprendemos formas de ser e de nos comportamos, assim tornamo-nos humanos através da aprendizagem de formas partilhadas e reconhecíveis de ser e de nos comportarmos Estas crianças crescem isoladas do contacto com outros humanos, o seu comportamento é feito da ausência de qualquer contacto social, e por isso não tiveram qualquer tipo de aprendizagem de comportamentos, normas, praticas e valores de uma determinada comunidade, ou seja, não tiveram qualquer processo de socialização (processo dinâmico de integração de um individuo numa dada cultura), ainda que em alguns casos a socialização primária acontece. O seu comportamento social não é em geral, orientado para outros seres humanos, nem segue os mesmos padrões, podendo aproximar-se, em alguns casos, do dos animais que interagiram, quando existia uma interacção de tipo social com outros animais. Tudo isto, nos leva a concluir que o papel das interacções sociais é fulcral no desenvolvimento humano.
Bibliografia:
Livro Mundo da Criança – Psicologia
Livro de Psicologia “Ser Humano” do 12ºano
Livro Mundo da Criança – Psicologia
Livro de Psicologia “Ser Humano” do 12ºano
1 comentário:
eu penso que Nell não pode ser considerada "selvagem", mas sim uma pessoa que vive num mundo à parte, noutra cultura, bastante distinta da nossa e menos desenvolvida. Pois notou-se que a convivência dela com os outros personagens fê-la adoptar comportamentos no sentido de entender melhor os outros.
Ou seja existe convivência pacifica entre Nell e os outros, mais evidente no final do filme, em que ambas a s culturas são respeitadas e não há imposição de nenhuma.
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