sábado, 12 de abril de 2008

"Memento"

Quem somos? O que é que fazemos? Qual é o sentido das nossas vidas?

Depois de visualizarmos o filme MEMENTO compreendemos que a nossa memória aparentemente tão distante e sem importância se torna uma verdadeira relíquia sem a qual não conseguiríamos viver.
Este filme retrata-nos a vida de um jovem que sofreu um traumatismo craniano e que, a partir desse momento, nunca mais foi o mesmo. Apesar de se lembrar de tudo o que tinha sido, não conseguia reter no pensamento as suas memórias actuais. E assim, dia após dia, tentava vencer a batalha com que se deparava: acordar, recorrer às suas fotos e tatuagens para se recordar do propósito da sua vida e conseguir dar um rumo a um novo dia. Longe de conseguir ganhar a guerra, este indivíduo vai agindo diariamente como um detective, tentando resolver o enigma da morte da sua mulher – que é a última coisa de que se lembra. Entre mal entendidos, pessoas que se aproveitam do seu estado e até alguma confusão e escarnecimento, este jovem vê a sua vida andar para trás a cada momento que passa. E quando não consegue registar os acontecimentos, ou ainda quando queima as fotografias, a sua memória e as suas recordações vão sendo alteradas de tal forma que este indivíduo deixa de ter vida própria, centrando-se exclusivamente em descobrir o aparente assassino da mulher. Quando o encontra, muitas das vezes já não se recorda do que estava a fazer, tendo de voltar a rever as fotos para se lembrar.
E assim, para que a sua vida não deixe de fazer sentido, assassina o suspeito e queima a fotografia desse momento. No dia seguinte, volta tudo a repetir-se: mais uma perseguição, mais uma charada por resolver, mais um conflito que está longe de ter fim.
O mais interessante neste filme, na minha opinião, não é a história em si. Para mim, mais importante do que isso, é o facto do realizador ter tido a inteligência e a perspicácia de avaliar a memória dos espectadores. É que, a cada momento a preto e branco, é necessário voltarmos a construir a história desde o início, o que se torna bastante complicado e, por vezes, até nos faz “perder o fio à meada”, ficando nós mesmos, como o protagonista, perdidos no meio de todas as cenas da vida. O filme é todo “baralhado”, sendo o fim no princípio e o princípio no fim, fazendo com que nós, espectadores, façamos uma ginástica mental tremenda até percebermos tudo. E é este aparente pormenor, que à partida não faz diferença nenhuma, que se torna a questão central do filme: ele faz-nos pensar, ele baralha-nos, ele deixa-nos confusos. – Mas afinal quem é que tem razão? Qual é a história mais verosímil? Quem é que mente menos?
E é aqui que reside toda a mestria deste filme, que nos faz sentir o que o protagonista sente. Nós chegámos a sentir que estamos tão baralhados quanto o indivíduo do filme e isso ninguém conseguiria descrever. Só sentindo mesmo.

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