quarta-feira, 25 de março de 2009

Não somos isolados da Biologia



Os processos biológicos não são completamente determinantes para a nossa sobrevivência. De facto, outros elementos intervêm, com uma importância igual, tal como é o caso da cultura. Nem a cultura, nem os processos biológicos, isoladamente, são determinantes. Assim, de uma forma simplificada, poderia dizer que nós, seres humanos, somos biologicamente culturais.
Os seres humanos são bastante complexos, difíceis de decifrar, uma vez que, apesar das características que têm em comum, o que os distingue entre si é bem maior. Assim, cada indivíduo pode categorizar-se como sendo único!
Como programas abertos que somos, temos a possibilidade de nos adaptarmos a novas circunstâncias. Apesar das nossas limitações anatómicas, compensamos com a invenção de soluções. Temos a capacidade de transformar o meio em que vivemos, adaptando-nos para que consigamos sobreviver. Para os humanos a aprendizagem é o instrumento principal da adaptação. Somos corpo e cérebro, aprendemos a ser e a encontrar a nossa forma de ser em interacção com os outros, enquanto membros de uma cultura e de uma sociedade. O Homem não sobrevive sozinho, precisa inconscientemente dos outros, o que é inevitável. Como se costuma dizer: “duas cabeças pensam mais do que uma”. Esta frase pode querer dizer que várias pessoas, cooperando umas com as outras, atingem resultados bem melhores. Por exemplo, os primitivos (a maioria dos homens) iam à caça sempre em conjunto, visto que tinham mais probabilidade de trazer em abundância comida para as famílias do que se caçassem sozinhos. Assim, cooperando uns com os outros, as tarefas tornam-se menos cansativas, produz-se mais e a satisfação é notória, tendo também interesses em comum. Isto que acabei de referir remete-nos para o campo da cultura, sendo um elemento fundamental no ambiente de qualquer pessoa, porque traduz-se em múltiplas e variadas consequências, nomeadamente na forma como cada um de nós se comporta, sente, pensa. É uma totalidade onde se conjugam valores, regras, costumes, crenças, acabando por ser o ambiente de suporte e protecção dos seres vivos. Para que haja sociedade, têm que existir modos de pensar e de fazer comuns aos membros da cultura onde estamos inseridos e, para que haja equilíbrio, tem de haver respeito mútuo, solidariedade e, acima de tudo, interiorizar normas, regras e valores.
Não há indivíduos sem comunidade e sem comunidade não há humanos !!!

quarta-feira, 18 de março de 2009

O poder da sociedade na forma como encaramos a diferença



Parte do que somos agimos e pensamos deve-se em grande parte a todo um conjunto de ideias e conceitos que recebemos da sociedade e que com os quais interpretamos o mundo que nos rodeia. Experimentemos. Experimentemos viver um único dia da nossa vida pondo de parte tudo aquilo que a sociedade nos “empurra”.
Procurando ganhar coragem para enfrentar a realidade, veremos que nem tudo o que os outros nos dizem é verdadeiro e isso levará a um maior peso na consciência. Teremos a plena noção do que é o mundo na íntegra e cairemos na razão. Tudo começa na criação e organização de esquemas mentais produzidos a partir dos diversos elementos que observamos. Simplificando-os, procuramos generalizá-los e categorizá-los consoante os elementos de que dispomos. Tal procedimento torna-se essencial, na medida em que nos é mais simples compreender e interpretar determinada realidade. Criado o esquema mental, é alvo de um processo avaliativo, que pressupõe uma componente emocional e de carácter pejorativo. Está concebido assim o preconceito. Numa fase posterior, é já parte integrante do complexo processo de socialização, onde o preconceito procurará ganhar espaço e afirmação. Como consequência do estereótipo e do preconceito, manifestamos um comportamento, um acto intencional, que procure diminuir a auto-estima do discriminado e assim feri-lo no seu orgulho. No entanto, como não são irreversíveis, a história pessoal poderá ter um papel fulcral nesta matéria, podendo assim alterar padrões de preconceitos. Fugindo a todo este processo acima mencionado, poderemos ser surpreendidos por coisas pelas quais nunca teríamos sequer pensado dessa forma e que até então as achávamos banais.
Certo é que muito provavelmente poderemos não ser mais as mesmas pessoas e que muita coisa poderá mudar na nossa vida daqui em diante. Nova visão do mundo, novo pensamento mas, sobretudo, uma vida que procura ser vivida com menos "poluição" por parte dos outros

terça-feira, 10 de março de 2009

Atracção interpessoal



A atracção interpessoal, preferência por determinado tipo de pessoas é produto de um enredado romance entre as cognições e os afectos.
À pergunta: “ a aparência física é decisiva no seu relacionamento com o outro”, a maior parte das pessoas, condizente com o politicamente correcto afirma que não, mas o certo é que a beleza exterior desempenha um papel muito importante no comportamento a ter com o outro.
Um dos motivos mais evidentes para isto é o facto de a beleza causar uma melhor impressão inicial e consequentemente um aumento da auto-estima, pois a companhia de uma pessoa fisicamente atraente favorece a posição social do indivíduo (temos que convir que apesar do belo não ser sinal de qualidade é sinal de “pinta”, principalmente quando se fala dos jovens) Da mesma forma, factores como a proximidade geográfica, as similaridades interpessoais, a complementaridade das personalidades, a reciprocidade, entre muitos outros nomeadamente, o respeito, a estima, a admiração explicam o que nos leva a preferir certas pessoas e outras não.
Estudos realizados em residências universitárias mostram que relativamente ao vizinho do andar de cima os companheiros de quarto têm duas vezes mais probabilidade de se tornarem amigos, uma vez que contactam mais frequentemente e a familiaridade conduz a uma maior afeição.
As pessoas gostam de sentir as suas ideias e escolhas valorizadas e validadas. Assim, é comum a preferência por pessoas com as quais temos pontos de afinidade (semelhanças interpessoais) e a tendência para “gostar de quem gosta de nós” (reciprocidade).
Todavia não é só a partir da igualdade que se cria a confiança e a preferência, mas também da diferença no sentido em que, as assimetrias das características individuais podem tornar o outro atraente.
É na junção de todos estes factores que o nosso comportamento para com os outros se regula e as preferências se formam, daí o Miguel ser um grande amigo da Maria e não da Joana.

O poder do amor



Aquilo que, ao longo do nosso tempo de vida, vamos sendo, é resultado de tudo o que partilhamos com aqueles com quem de forma significativa nos cruzamos. Do que deles recebemos e lhes damos. E daquilo que, a partir daí, vamos sendo capazes de guardar dentro de nós mesmos, assim o transformando em algo nosso. Só dessa forma podemos aperceber-nos de como, através deles, nos é dada a possibilidade de vislumbrar o amor.
Amar é muito mais do que a sensação de empolgamento quando uma empatia profunda com alguém nos faz sentir capazes de tudo.
Aprender a amar é como subir uma escada com curvas, que nos vai conduzindo a um encontro connosco mesmos e, simultaneamente, à percepção de uma força que, embora pareça vir de fora, nos vem de dentro – sendo, por isso, indestrutível.

Vive atrás de uma máscara?



Há um intervalo cada vez maior entre aquilo que somos e aquilo que mostramos ao mundo. Estamos a trair-nos ou simplesmente a sobreviver?
Todos nós, em maior ou menor grau, somos diferentes conforme a pessoa com quem estamos, mas até que ponto é que nos traímos na necessidade de nos protegermos dos outros? Escondemo-nos por medo, por defesa, por integração? Por que achamos que a outra pessoa não aguenta o peso da nossa personalidade, com todos os seus defeitos? É o medo da rejeição que está na base?
Podemos ver as máscaras em termos de rejeição, mas eu vejo-as mais como uma arma para melhorar a aceitação do outro. Eu preciso que me aceitem para me sentir bem.
Então, e se fosse ao contrário? Se disséssemos e fizéssemos tudo o que queríamos, se fôssemos permanentemente iguais a nós próprios, seríamos mais libertas? Ao contrário: as pessoas muito rígidas, que se comportam da mesma maneira com toda a gente, essas são as mais aflitas. É tão angustiante a avaliação que os outros possam fazer, que funcionam como se a opinião deles não lhes fosse necessária. E isso também é uma máscara. As que se gabam de ‘dizer tudo’ nunca dizem tudo. O que estão a dizer é que têm consciência de que são despropositadas muitas vezes. Porque depois, quando lhes é conveniente, que bem que elas escondem!
É normal querer agradar aos outros. O problema só acontece quando agradar aos outros implica sacrificar os nossos sentimentos mais profundos.

O que explica as relações de conflito e como podemos superá-las?



Ao lermos os jornais, ao ouvirmos conversas sobre relações de trabalho, relações afectivas ou outras, ao analisarmos algumas das nossas experiências pessoais, constatamos que o conflito está presente nas várias dimensões da vida social, no contexto das interacções sociais. Pode-se definir conflito como uma tensão que envolve pessoas ou grupos quando existem tendências ou interesses incompatíveis. O conflito ocorre em relações próximas e/ou interdependentes em que existe um estado de insatisfação entre as partes. A insatisfação pode ter várias origens: divergência de interesses, competição pelo poder, incompatibilidade de objectivos, partilha de recursos escassos, desacordo de pontos de vista…A situação de conflito pode assumir o carácter de conflito intrapessoal (conflito interno), conflito interpessoal (conflito entre pessoas) e conflito intergrupal (conflito entre grupos). Apesar de haver conflitos noutras estruturas sociais, vou deter a minha atenção no conflito intergrupal. Sempre que os interesses entre duas pessoas ou dois grupos forem divergentes podemos esperar que se desenhe um conflito traduzido em comportamentos e atitudes competitivas, que podem atingir formas elevadas de hostilidade e até agressão. Pelo contrário, quando os interesses objectivos de dois grupos forem convergentes e os recursos suficientes para que ambos os consigam atingir, é mais provável que se desenhe a cooperação entre eles, sendo os comportamentos então orientados para a colaboração. Torna-se importante referir que não basta o simples contacto entre grupos hostis para se ultrapassarem os preconceitos e o conflito. O contacto que envolva a cooperação, a entreajuda e a interdependência tem muito mais possibilidades de sucesso na superação de conflitos. Efectivamente, é necessária a cooperação, isto é, a acção conjunta que implique a colaboração dos envolvidos para se atingir um objectivo comum. De facto, só quando se definiram objectivos de carácter imperativo essencial para a vida dos dois grupos, em que estes tiveram de discutir, elaborar um plano, dividir as tarefas, é que a hostilidade desapareceu. Além disso, outros meios a que se recorre para se ultrapassarem conflitos são: a dominação, a submissão, a inacção, a mediação e a negociação. A dominação ocorre quando um grupo impõe unilateralmente a solução ao outro grupo. A submissão ocorre quando um grupo cede às exigências do outro grupo. A inacção ocorre quando os dois grupos, ou um deles, escolhem não agir, esperando que o passar do tempo resolva por si só o conflito. A mediação prevê o envolvimento de alguém que não está envolvido no conflito e que tem uma posição neutral. O mediador terá a distância para apreciar e ajudar a clarificar o conflito. O seu objectivo é promover a comunicação entre as partes em conflito. E por fim, a negociação que ocorre quando os grupos em conflito procuram construir um acordo no sentido de impedir o desenvolvimento da hostilidade para fases mais agudas. A negociação visa evitar a confrontação directa. A negociação implica cedências e exigências mútuas. Actualmente, dominam as soluções baseadas na cooperação, na mediação e na negociação.
A vivência e a ultrapassagem dos conflitos correspondem a processos de desenvolvimento pessoal e grupal. Depois de ultrapassados, favorecem respostas mais adaptadas. Sem omitir os aspectos negativos, actualmente considera-se o conflito como um factor de mudança e desenvolvimento social.

Qual o papel e características da intimidade (amizade e amor)?


Qual o papel e características da intimidade (amizade e amor)?
As relações íntimas são um tipo particular de interacção social que apresenta características próprias. Se pensarmos nas relações que estabelecemos com os outros, reconhecemos que existem diferentes níveis de intimidade relativamente às diferentes pessoas com quem nos relacionamos. A possibilidade de se manterem relações de intimidade varia também de pessoa para pessoa, estando ligada à história pessoal, à personalidade e à experiência de cada um. De facto, a intimidade é uma experiência que implica uma forte vivência, um grande envolvimento e uma comunicação profunda. Essa comunicação pode se manifestar de diversas formas, nomeadamente, com interacções verbais e interacções não verbais. O contexto social condiciona, através das convenções sociais, as relações de intimidade e as suas expressões. Existem duas expressões da intimidade que, embora não sejam as únicas, são as mais significativas e as mais estudadas: a amizade e o amor.
A amizade é uma das manifestações de intimidade que envolve relações em que estão presentes, entre outros, elementos como confiança, lealdade, cooperação, carinho, apoio, franqueza... Essas características envolvem reciprocidade. Uma relação de amizade é uma relação pessoal, informal, voluntária, positiva e de longa duração que implica reciprocidade, que envolve atracção pessoal e que facilita os objectivos que os envolvidos querem atingir. As expectativas que estão subjacentes às relações de amizade são: defender o amigo quando está ausente; partilhar com ele os acontecimentos e as ocorrências relevantes; apoiá-lo emocionalmente sempre que precise; confiar no outro e ser verdadeiro e apoiar o outro de forma espontânea e voluntária, sempre que necessário. Assim como reconhecemos que as relações de amizade correspondem a um importante suporte psicológico, a sua ruptura é um facto de grande perturbação. As amizades variam segundo um conjunto de factores: idade, género, contexto social e características individuais.
Amar não é simplesmente gostar em maior quantidade, mas um estado psicológico qualitativamente diferente. Por exemplo, pelos menos os seus estádios mais iniciais, o amor inclui uma excitação psicológica, relativamente intensa, um interesse no outro indivíduo, fantasia sobre o outro, e oscilação de emoções relativamente rápidas. Similarmente, o amor, ao contrário do gostar, inclui elementos de paixão, proximidade, fascinação, exclusividade, desejo sexual e uma preocupação intensa. Os parceiros são idealizados; exageramos as suas qualidades e minimizamos as suas imperfeições. Quando se fala de amor, há que distinguir dois tipos de amor: o amor companheiro e o amor apaixonado. O amor companheiro é marcado por uma amizade muito íntima, ternura mútua, cuidado, respeito e atracção (envolve relações com os pais, familiares, amigos íntimos). O amor sexual ou apaixonado envolve atracção sexual, um desejo de amor mútuo e proximidade física, e o medo de que a relação acabe.
Segundo o psicólogo Robert Sternberg, o amor tem três dimensões, o chamado modelo triangular do amor: intimidade, paixão e compromisso. À intimidade correspondem sentimentos de visam a proximidade emocional, a união, a compreensão mútua e a partilha. A paixão envolve um intenso desejo sexual, uma vontade irreprimível de estar com o outro. Ao compromisso corresponde a intenção de um comprometimento em manter uma relação amorosa.

O que nos leva a preferir certas pessoas ?



Vivemos no interior de vários grupos sociais onde mantemos relações com os outros. Se pensarmos um pouco num dos grupos a que pertencemos, apercebemo-nos que as pessoas com quem interagimos não nos são indiferentes e não têm para nós a mesma importância, o mesmo valor afectivo. De facto, existem pessoas com quem estabelecemos relações preferenciais e que nos podem motivar algumas perguntas como por exemplo: por que razão é que me sinto atraído por determinada pessoa? Por que razão prefiro estar com ela? Por que razão gosto dela? A psicologia social procura compreender o que está na base destes processos que explicam a atracção interpessoal. Podemos definir atracção social como a avaliação cognitiva e afectiva que fazemos dos outros e que nos leva a procurar a sua companhia. Manifesta-se pela preferência que temos por determinadas pessoas que nos levam a gostar de estar com elas, a partilhar confortavelmente a sua presença. Ainda que o processo de atracção esteja marcada pelas emoções, afectos e sentimentos e relacionado com a história pessoal de cada um, há factores que, pela regularidade com que aparecem, explicam o que nos leva a sentirmo-nos atraídos por algumas pessoas. Os factores que interferem no processo de atracção pessoal são: proximidade, atracção física, semelhanças interpessoais, complementaridade e reciprocidade.

Como explicar os comportamentos agressivos?



Seria extraordinário (ou não) existir uma explicação lógica e totalmente conclusiva acerca dos comportamentos humanos. Contudo, tal não é o que acontece e, portanto, o necessário é esgotar todas as possíveis hipóteses de modo a chegar mais perto do assertivo.
Orientadas segundo dois eixos temos diferentes teorias acerca das causas da agressividade. Se ,por um lado, reina a concepção de que a agressividade é um mecanismo inato da acção do homem (componente biológica) por outro, considera-se que a mesma é resultado da aprendizagem social.
Sigmund Freud, Lorenz e Dollard são apologistas de que a agressividade tem algo de inato. O primeiro atribuí a orientação da agressividade a pulsões destrutivos (energia que tem que ser descarregada) e defende que a socialização é a forma de os reprimir, Lorenz considera que o principal papel da agressividade é a sobrevivência/adaptação do ser Humano enquanto Dollard, defendendo uma teoria (muito contestada) defende que entre a frustração e a agressividade existe algo de inato.
Por sua vez, Bandura valida os factores relacionados com o contexto social, a aprendizagem e a história pessoal como os potenciadores do comportamento agressivo uma fez que esta aprendizagem se faz a partir da imitação e observação dos comportamentos agressivos de modelos como pais, tios, professores (de ver a importância das figuras mais próximas no processo de socialização). É exemplo da variação da agressividade de cultura para cultura o facto das culturas mais individualistas serem mais agressivas que as colectivistas.
Certo é que não se pode falar de um mecanismo neuronal inato como causa da agressividade, mas o certo é que existe influência neurológica neste tipo de comportamento, nomeadamente a nível da amígdala e do neurotransmissor serotonina, o mensageiro químico cujo suprimento tende a ser baixo em pessoas propensas à violência.
Numa experiência, pesquisadores puseram um eléctrodo numa área de inibição da agressão do cérebro de um macaco prepotente. Com um botão que activava o eléctrodo, um macaco pequeno aprendeu a apertá-lo cada vez que o macaco tirano se tornava intimidador. O macaco agressivo rapidamente ficava apático.
A Temperatura assim como o álcool, relacionado com a componente biológica, social e psicologia do indivíduo também são responsáveis pelo desencadear de respostas mais agressivas às provocações.
Esperemos que a componente biológica nunca se sobreponha à cultural pois, caso isto aconteça, haverá muitas desresponsabilizações por parte de vários criminosos.

O que explica as relações de conflito e como podemos superá-las?



As relações de conflito são inerentes à vida em sociedade, ou seja estão intimamente ligadas ao ambiente organizacional segundo o qual as relações se desenvolvem (relação entre sujeitos do mesmo grupo, relação entre grupos diferentes). Assim, não se pode afirmar que o conflito surge acidentalmente por qualquer casualidade pois, é produto de uma complexa rede relacional.
É a partir da divergência de atitudes, ideias, interesses, tendências incompatíveis, competição pelo poder que o clima de conflito surge.
Se encararmos as relações de conflito segundo uma perspectiva “transformista”, conseguiremos superá-las mais facilmente. Pensemos nas grandes descobertas da humanidade - todas foram alvo de choques de interesses e desacordos, razão pela qual hoje são grandes, pois todos foram os problemas, os inconvenientes, os erros levantados pelos opositores e por isso, a perfeição hoje é incontestável (falo por exemplo da teoria heliocêntrica de Galileu).
Muzaferd Sheri dividiu num campo de férias dois grupos de pessoas, as “águias” e as “serpentes”. Estes depois de passarem por uma primeira fase de cooperação foram sujeitos a jogos e actividade de competitividade. O que se verificou é que existia grande conflito entre as pessoas pertencentes a diferentes grupos.
Na experiência feita por Muzafer Sherif constata-se que o conflito é maior quando as pessoas vêem o que são (por exemplo “águias”) em comparação com o grupo contrário (as “serpentes”) porque reforçam a ideia do pensamento grupal.
Da mesma experiência, retira-se o papel importante que a cooperação tem na resolução dos conflitos, isto é, os dois grupos em análise só se entenderam quando tiveram que colaborar conjuntamente para atingir um objectivo comum.

De que modo os estereótipos, preconceitos e a discriminação condicionam a nossa relação com os outros?



Tanto os estereótipos como os preconceitos ou a discriminação são algemas do pensamento humano uma vez que a origem destes se baseia respectivamente em ideias resultantes de generalizações (processo com elevado grau de incongruência) relativamente a objectos sociais, atitudes derivadas da estereotipação injusta e manifestação de comportamentos negativos.
A categorização é um processo de absoluta preponderância para que a significação do mundo e a adaptação do ser humano contudo, quando este reagrupamento dos objectos sociais assenta em ideias negativas e preconceituosas, por exemplo achar que todos os indivíduos tatuados, musculados e de cabeça rapada encaixam na prateleira das pessoas violentas a nossa relação com os indivíduos portadores destas características será quase inexistente.
Apesar de diferentes, a existência destas crenças é transversal a todas as pessoas e portanto contribuí para uma “conformidade social” que leva as pessoas a aceitarem tudo o que tem a ver com o seu endogrupo (grupo a que pertencem e portanto sobre o qual têm uma atitude positiva) e menosprezar t udo o quando se distinga dele (exogrupo).
No filme “Colisão” são-nos referidas várias situações de vida em que os estereótipos, preconceitos e discriminação comprometem o relacionamento entre as pessoas, por exemplo Jean por ter uma atitude e um comportamento racista não trata da melhor forma a sua empregada doméstica uma vez que esta é de nacionalidade e "raça" diferente.
A falta de comunicação, subjacente às categorizações, atitudes e comportamentos negativos não permitem o conhecimento do outro e portanto, potencializam comportamentos como o do polícia branco que matou o negro a quem deu boleia por causa de uma conclusão precipitada.
Quando as representações sociais são fruto de visões distorcidas e estereotipadas, a nosso relacionamento com os outros é influenciado negativamente, podendo mesmo chegar a deixar de existir.

Esquizofrenia: a doença da mente dividida.






Das doenças do foro psiquiátrico que ouço falar, a esquizofrenia, talvez pela forma como se manifesta ou mesmo pela própria doença em si, foi sempre aquela que mereceu da minha parte maior curiosidade e estudo.
Mas afinal, o que é a esquizofrenia? A esquizofrenia (do grego “skhizein” (esquizo) que significa fender, rasgar, dividir e “phrên” (frenia) que significa pensamento) é uma doença do cérebro causada pela alteração da estrutura básica dos processos de pensamento, afectando essencialmente a capacidade cognitiva. Caracterizada por uma dissociação das funções psíquicas e pela perda de contacto com o mundo exterior, com um mundo que não o do esquizofrénico, os seus efeitos acabam por se reflectir também no comportamento e nas emoções do doente, que sofre um desvio de personalidade facilmente reconhecível.
Existem várias explicações relativamente às causas do aparecimento da esquizofrenia. Hoje sabe-se que a doença pode ter causas genéticas e que a probabilidade de um indivíduo vir a sofrer de esquizofrenia aumenta se houver um caso desta doença na família - "No caso de um dos pais sofrer de esquizofrenia, a prevalência da doença nos descendentes directos é de 12%. Na situação em que ambos os pais se encontram atingidos pela doença, esse valor sobe para 40%”. Apesar desta relação, cerca de 81% dos doentes com esquizofrenia não têm qualquer familiar em primeiro grau atingido pela doença e cerca de 91% não têm sequer um familiar afectado.
Por outro lado, também os factores cerebrais e biológicos podem estar relacionados com o eclodir da doença: alterações bioquímicas e estruturais do cérebro, como por exemplo, nalguns neurotransmissores (como a dopamina), são potenciais causas da esquizofrenia.
Além disso, existem algumas outras teorias que ajudam a explicar o aparecimento da doença. As teorias psicanalíticas, por exemplo, remetem para a fase oral do desenvolvimento psicológico em que a ausência de relações interpessoais saudáveis estaria na origem da esquizofrenia - “a ausência de gratificação verbal ou da relação inicial entre mãe e bebé conduz igualmente as personalidades “frias” ou desinteressadas (ou indiferentes) no estabelecimento das relações”.
Também os factores sociais podem propiciar a doença: muitas pessoas passaram por períodos de depressão, stress ou conflitos antes de se tornarem esquizofrénicos. Isto leva-nos a concluir que, juntamente com o facto de serem portadores de factores de vulnerabilidade pessoais, este ambiente desfavorável pode desencadear os mecanismos de disfunção mental, característica da esquizofrenia.
Convém sublinhar que nenhuma das causas referidas explica isoladamente o aparecimento da esquizofrenia.
Quanto aos sintomas que a doença pode manifestar variam de indivíduo para indivíduo, podendo ser divididos em duas categorias: os sintomas positivos e os sintomas negativos. Os sintomas positivos caracterizam-se pelos delírios como pensamentos irreais e delirantes - “ideias individuais do doente que não são partilhadas por um grande grupo”. Este tipo de sintomas costumam aparecer na fase aguda da doença e são as perturbações mentais mais graves e mais anormais: alucinações; percepções irreais, como ouvir, ver, saborear, cheirar ou sentir algo irreal, sendo mais frequentes as alucinações auditivas e visuais; pensamento e discurso desorganizado; alterações do comportamento, ansiedade e também impulsos agressivos. Os sintomas negativos acompanham a evolução da doença e reflectem-se na falta de motivação (vontade e iniciativa) e afectividade, ausência de emoções e deficiência quanto ao discurso, ao pensamento e às relações interpessoais, como resultados da perda das capacidades mentais. O isolamento social (o indivíduo desliga-se completamente do mundo, virando-se apenas para si mesmo, o que se assemelha em parte ao autismo), a apatia ou a indiferença emocional são também possíveis manifestações de sintomas negativos.
Quando na fase aguda, esta doença pode impedir o esquizofrénico de levar uma vida normal. A propósito disso, um dos maiores receios do esquizofrénico é o facto de se poder sentir rotulado em termos sociais como aquele indivíduo intrinsecamente perigoso e violento, quando estudos mostram que a incidência de comportamento violento nestes doentes e no resto da população é habitualmente idêntica. Além disso, e apesar de a cura ainda não existir, o tratamento é possível e pode ajudar em grande medida a tratar os sintomas e a permitir assim que os doentes possam viver as suas vidas de forma saudável e produtiva.

“Quero que as pessoas entendam que sou como os outros. Sou um indivíduo e deveria ser tratada como tal pela sociedade. Não deveriam fechar-me numa caixa com a etiqueta de esquizofrenia” (Jane, doente esquizofrénica).