segunda-feira, 8 de junho de 2009

Serão os comportamentos delinquentes geneticamente determinados?

No seguimento de uma dissertação como esta, é importante que os termos e conceitos de que se trata estejam totalmente esclarecidos. Antes de mais, neste texto irei reflectir sobre o que é um delinquente e o que o torna delinquente.
Atentemos em casos em que a delinquência está mais associada: por exemplo os ciganos e os negros. Bem sabemos que a estes primeiros (os ciganos) associamos casualmente os conflitos, talvez nem porque tivemos experiências que evidenciem este facto, mas sim porque as impressões que temos deles nos foram transmitidas indirectamente pelas pessoas com quem contactamos ou até pela nossa cultura padrão. Até aqueles que eventualmente dizem: “ah esta música, eu adoro música cigana!”, ou “eles sim, são os verdadeiros nómadas, ah que vida”, na proximidade ou contacto com a etnia cigana poderão ser os primeiros a colocar trancas à porta! É já evidente a relação entre as impressões e as expectativas, e daqui há uma “ponte” para a auto concretização das expectativas. É aqui, que tendo nós uma atitude bastante negativa relativamente á comunidade cigana, tenderemos para comportamentos que passem a justificar as atitudes, mesmo que contrariem a realidade; o que isto quer dizer? Quer dizer que faremos tudo e veremos tudo e apenas o que há de mau, o que consiga “fundamentar” a nossa tese e alimentar o sentimento negativo em relação à comunidade em questão, para que tenhamos a razão do nosso lado. Na outra face da moeda, temos os ciganos, que, por sua vez, vão responder aos estímulos negativos impostos pela sociedade em redor, tornando-se os delinquentes da cultura padrão. Por isso, e na minha opinião, a categorização dos ciganos, entre outros, resulta de um confronto entre culturas, podendo estes então serem delinquentes sociais – uma fuga ao padrão, que envolve conflitos e desacatos.
O conceito de delinquência tem muitas faces, tendo principalmente uma vertente psico-social e outra criminal. Comummente, na nossa sociedade, entendemos como sendo os delinquentes os drogados, os “mitras”, “gangsters” e isso, de certa forma, permite-nos precaver conflitos que poderiam surgir, fruto de um choque entre pensamentos (no fundo é como um europeu ir ao Islão).
Mas afinal de onde vêm, então, os delinquentes? Existem bairros onde a delinquência é uma tradição muito “conceituada” sendo esse o padrão cultural existente.
Porém, apesar de até agora me ter cingido ao papel da cultura na construção do delinquente, existem evidências de que a genética tem o seu papel no encaminhamento psicológico. A influência genética em doenças de foro psiquiátrico, tais como a doença do humor, a esquizofrenia, ou o alcoolismo já é amplamente aceite. Outro caso muito recente que apareceu foi um estudo de uma anomalia cromossómica muito rara; os indivíduos, do sexo masculino, podem possuir, ao contrário do normal cromossoma x e cromossoma y, dois y e um x. Este facto vai criar uma forte predisposição para que estes indivíduos se tornem agressivos e anti-sociais, são os chamados hiper-masculinos. Nestes casos, a influência genética tem um papel altamente condicionante, já que a predisposição deste indivíduos para a violência é muito grande e não precisa de um estímulo forte para se desenvolver. Investigações britânicas descobriram que muitos dos maiores criminosos conhecidos eram portadores destas anomalias; este facto forçou a paragem da investigação, pois, se fosse provado que isto era verdade, esta nova descoberta poderia alegar a favor do réu.
Deparamo-nos agora com um cenário muito ambíguo em que o grau de influência genética (predisposição) e da cultura têm de ser confrontados. Atentando neste casos podemos concluir que, na sua grande maioria, os casos de delinquência não são fatalmente genéticos e que a influência do meio é bastante avultada.
A existência de predisposição genética é de facto verdade, mas são os estímulos exteriores que activam as características inerentes á delinquência.
Para finalizar, não posso deixar de referir que esta dissertação não se destina a encontrar razões justificativas da existência de delinquentes culturais (culturas minoritárias), mas sim de uma delinquência pejorativa e que afecta a sociedade em geral.

Dicotomias

Dicotomias, desde a antiguidade que a psicologia se depara com as dicotomias, ideias com dois pólos distintos aos quais não se consegue dar primazia a nenhuma delas. Considero que existem, de facto, algumas dicotomias respondidas, como será o caso do papel da Razão/Emoção na escolha das nossas decisões; o próprio Damásio na sequência do estudo das áreas pré-frontais, na experiência com os seus doentes (Gage) e com as novas tecnologias, veio a descobrir a dependência das duas para a resolução dos nossos problemas, sendo impossível ao ser humano suportar apenas a razão ou a emoção.
Já muitos autores se debruçaram nestes problemas, e resolveram alguns, porém a persistência de grandes dicotomias na evolução e confronto das “Escolas” de pensamento da Psicologia é uma realidade!
A dicotomia Inato/Adquirido apresenta-se como sendo a principal e aquela que tem sido a mais questionada. A pergunta pode ser colocada de várias formas: o que determina o nosso comportamento? O meio ou a natureza? Ou eventualmente: Somos biológica ou socialmente determinados?
Desde que entramos para a escola vamos aprendendo a biologia do ser humano, e é por este lado que iremos abrir a discussão. A noção de fenótipo e genótipo é já um conceito conhecido, mais ou menos, por todos; genótipo como sendo o conjunto de características genéticas que o indivíduo possui e o fenótipo como sendo o conjunto de caracteres individuais de origem genética que receberam modificações decorrentes da relação com o meio. Abordando o tema com vista à psicologia, podemos perceber que não existe o fenótipo sem o genótipo e a própria evolução do fenótipo é condicionada pelas predisposições do genótipo. A influência dos dois é de todo evidente, por isso não falamos apenas em genótipo mas falamos também em fenótipo.
É óbvio que a origem desta dicotomia, que nos parece hoje bastante respondida, vem dos primórdios da psicologia, há cerca de um século, onde aquilo que explicava o inato, características biológicas, era pouco conhecido e estudado. Não havia as tecnologias que hoje se usufrui (TAC, …………………………), e estes autores nem sequer consideram as dicotomias, para Freud, por exemplo, não havia nenhuma dicotomia, a genética era o determinante e ponto final.
A título de exemplo, e no seguimento de ter falado de Freud, podemos atentar em alguns autores para conseguir fazer um balanço entre estes dois pólos e explorar também o tema. Comecemos pelo pólo inato:
O pólo inato indica que o comportamento humano e a personalidade das pessoas são determinados geneticamente por hereditariedade dos seus progenitores. Assim sendo, pode-se concluir que o pólo inato está ligado com a forma de ver o ser humano e o seu comportamento como determinado pelas características biológicas e corporais, isto é, são características que nascem connosco (inatas). Portanto, segundo estes, o crescimento biológico do corpo e o desenvolvimento, segue padrões definidos por programas genéticos.
O significado de pólo inato foi definido por vários filósofos, pensadores e psicólogos e cada um defende a sua teoria acerca do tema.
Freud – afirma a existência de duas pulsões inatas, a pulsão de vida (eros) e a pulsão de morte (thanatos). Parte da sua experiência enquanto médico, na medida em que havia algo que a medicina tradicional não explicava (o ponto de partida foi o caso da histeria). Segundo Freud, as pulsões de vida visam a auto-conservação do indivíduo (sobrevivência) e as pulsões sexuais; as pulsões de morte estariam na base dos comportamentos agressivos.
Lorenz – considerava que o comportamento animal era instintivo, estando os seus comportamentos predeterminados no sistema nervoso e estereotipados, ou seja, são instintos, fazendo assim uma ponte com o ser humano. Assim, é deixada à aprendizagem e à experiência uma pequena parte que influência o comportamento, apoiando de certa forma a teoria de Freud.
Gesell – este autor diz mesmo que o meio não interfere no desenvolvimento do indivíduo. Justifica que as diferenças entre os indivíduos se devem a características inatas, dizendo que os comportamentos se desenvolvem tomando em conta um programa genético e uma ordem determinada inalterável, enfatizando assim o pólo inato. Desenvolvimento e maturação estão predeterminadas, o que justifica a afirmação de que as diferenças entre os indivíduos se devem a diferenças inatas (abordagem maturacionista).
Changeux – em 1983, publicou um livro “O Homem Neuronal”, onde escreveu a sua teoria. Esta defendia que todo o comportamento humano se pode explicar a partir de circuitos nervosos. Conclusão esta tirada após o desenvolvimento do estudo da descodificação do genoma humano e também das funções do cérebro, podendo estabelecer relações entre os comportamentos e o funcionamento do cérebro. Segundo ele não existe o “eu” sem os circuitos nervosos tendo nós um fundamento altamente biológico.
O avanço das neurociências corresponde a uma procura progressiva de explicações de muitos comportamentos humanos a partir da descodificação do genoma humano (prática recente).
Atentemos agora na outra face da dicotomia. O pólo adquirido é o pólo representativo da educação, da influência do meio ambiente. É então impossível abordarmos pólo adquirido sem falarmos em processos tais a socialização, aprendizagem, …
As perspectivas deste pólo afirmam que a nossa história pessoal, as experiencias socioculturais vividas, determinam a nossa personalidade, a nossa forma de ser e de agir. Podemos, sob este ponto de vista, dizer que nós, seres humanos, somos produto do que aprendemos do que aprendemos e dos ambientes em que vivemos. Deste modo, os autores que crêem neste pólo da dicotomia inato/adquirido, tentam estabelecer ligações entre determinados comportamentos e determinados ambientes. Este perspectiva apresenta-nos assim, a forma como somos educados e aquilo que aprendemos como responsáveis pela construção do ”eu” social, psicológico, pelos comportamentos que manifestamos.
É fácil, então, entender que a explicação para o comportamento, vai favorecer as variáveis do ambiente, os conceitos de adquirido e o de socialização, visto ter como base o que se encontra em determinado contexto (conjunto de estímulos), o que passa a fazer parte do reportório de comportamentos de uma pessoa, o que é interiorizado em dada situação e o conjunto de experiências e aprendizagens, vividas socialmente.
O estudo deste pólo extremo da dicotomia leva os investigadores a explorar vários ambientes e os comportamentos dos seres humanos nesses mesmos ambientes. Como seria esperado, já vários autores deram contributos na resolução desta dicotomia.
Watson pertencia a uma linha extremista do adquirido. Segundo ele o factor meio é completamente fatal já que o comportamento é a resposta de um individuo a um estimulo ou conjunto de estímulos do meio ambiente e, sendo assim, uma criança poderia ser moldada segundo a vontade do tutor. Os behavioristas diziam: “Dêem-me uma criança e digam-me o que querem que ela seja, e passem daqui a alguns anos (cerca de 18, idade pela qual o individuo terá a sua identidade mais ou menos formada) e tereis o vosso… (jogador de futebol, empresário, etc.).
Skinner foi um investigador norte-americano que criou uma caixa especial, a chamada “caixa de Skinner”, que apresenta um dispositivo automático que liberta o alimento quando accionado.
1- Colocou um rato esfomeado na “caixa operante” ou “caixa de Skinner”;
2- O animal explora o ambiente cheirando, deambulando no interior da gaiola;
3- Por acaso, acciona a alavanca recebendo uma porção de alimento;
4- A partir de várias tentativas bem sucedidas, o rato passa a premir a alavanca para receber alimento.
Esta experiência conduziu Skinner à descoberta de uma aprendizagem por condicionamento operante, em que o reforço assegura a repetição de um comportamento estando assim o meio directamente ligado à aprendizagem.
Bandura desenvolveu ainda uma teoria da aprendizagem que corresponde a todos os comportamentos que aprendemos por observação/imitação. Neste processo está assim presente a aprendizagem social ou por modelação, seria através de um processo que o psicólogo designa, então, por modelação, que uma pessoa pode aprender um comportamento que passe a fazer parte do seu quadro de respostas.
Na sequência do que já dissemos no início do texto (influência recíproca entre inato/adquirido), Piaget concluiu que o sujeito tem um papel activo na construção do pensamento e do conhecimento. Nestes processos intervêm factores biológicos de maturação e factores relacionados com o meio, assim fez uma síntese entre os dois pólos opostos da dicotomia (visão interaccionista e construtivista contrariando assim o inatismo e o empirismo. Como já estudamos tudo o que aquilo que somos não é exclusivamente biológico nem exclusivamente cultural e há, assim uma relação entre ambos.
Durante a “vida” da psicologia, a pergunta sobre esta dicotomia tem sido mal formulada. Exaustivamente se pergunta “Qual?” e “Quanto?”, mas a verdade é que, de facto não faz sentido questionar a dicotomia desta forma. Bem sabemos que não se pode considerar o pólo inato sem se considerar, ao mesmo tempo, o pólo adquirido, e vice-versa. Estes pólos estão sempre ligados e não se consegue falar da acção humana sem se entrelaçar os dois, vejamos que pensamos em nós próprios como seres que aprendem e socializam, com um raro programa aberto, único no mundo, totalmente dependente da combinação genética que nos fez. Porém esta combinação fantástica só se faz sentir consoante um “incentivo cultural” que nos torna seres humanos. Piaget resolve bem esta questão introduzindo-nos a noção de estádios de desenvolvimento. Segundo ele o conhecimento decorre de uma interacção do sujeito com o meio, sendo assim, defende que, de facto, existem estruturas inatas no sujeito que possibilitam o desenvolvimento, mas que este é também determinado pela interferência do meio. Por exemplo, no estado de desenvolvimento Sensoriomotor, a genética determina os limites deste estado porém só o estímulo activo do meio vai permitir à criança, até aos 2 anos, desenvolver as características deste estado. Para Piaget, uma criança de dois anos, nunca fará o mesmo que uma de dez anos, ainda que seja super estimulada, pois o seu organismo ainda não está preparado, caso contrário, porque é que uma criança não aprende a falar aos três meses considerando que já ouviu imensas palavras? Mas a experiência é a base de todo o desenvolvimento, vejamos que uma criança que, nos seus primeiros tempos de vida, não tem plena noção do seu físico tem de se mexer, partir coisas, atirar tudo, mexer, para que comece a aperceber da sua realidade e do mundo, passando a fase de indiferenciação a si e ao mundo. Assim Piaget afasta-se das teorias extremistas como o Gestaltismo, behaviorismo, entre outras, dando assim um grande contributo para a humanidade.
Com o tempo, e pergunta foi evoluindo, e adquiriu nova forma, “Quanto?” Com a descoberta de uma nova realidade, tentou-se pôr termo a esta dicotomia quantificando o peso do inato e do adquirido em percentagens, por outras palavras, quanto de inato e quanto de adquirido está numa acção humana. Porém esta quantificação que tanto se pretendia não permite uma integração adequada da relação entre os dois pólos. É uma pergunta

domingo, 7 de junho de 2009

Conflitos e a sua superação



O conceito conflito representa uma tensão que envolve pessoas ou grupos de pessoas quando existem tendências ou interesses incompatíveis.
Assim só existe conflito se existir uma relação próxima entre as partes de modo a justificar esse mesmo conflito, como se mostram frequentes entre pais e filhos, patrões e trabalhadores. Uma coordenada caracterizadora do conflito é o estado de insatisfação das partes, insatisfação essa que pode ter múltiplas origens como por exemplo, a divergência de interesses, o desacordo de pontos de vista, a partilha de recursos escassos, a competição pelo poder, etc.
No entanto, o conflito social é entendido como um núcleo de mudança e das dinâmicas sociais, tratando-se o conflito de uma manifestação das interacções sociais. O agravamento tal como o atenuamento do conflito vai depender das relações internas de cada grupo, pode aumentar ou diminuir se s desenvolverem atitudes de provocação ou de conciliação.
Devemos aceitar os conflitos como realidades do nosso mundo social e acabam por impedir a estagnação e promove novas ideias e novos ideais, podendo a sua consequência representar um modo mais adequado e dinâmico de integrar a sociedade.
Para que haja uma superação dos conflitos não basta o simples contacto entre grupos hostis, implica essencialmente um contacto que envolve cooperação, entreajuda e a interdependência de modo a construir um maior sucesso na finalidade visada. É importante que por cooperação entendamos uma acção conjunta e concentrada que envolve a colaboração dos envolvidos para se atingir um objectivo comum. Existem ainda outras formas de superação de conflitos que passo a fazer uma breve referência. A submissão, que acontece quando um grupo sede às exigências do outro; a mediação, que pressupõe a existência de um mediador (elemento neutro) que vai promover a comunicação entre as partes; a dominação, verifica-se quando um dos grupos impõe unilateralmente a solução ao outro; a negociação, visando impedir a confrontação directa, a negociação implica cedências e exigências mútuas, os grupos constroem um acordo e por último a inacção, em que os dois ou um dos grupos resolve não agir e esperar que o tempo resolva o conflito.
Porém, nos dias de hoje são dominantes as soluções que assentam sobre a cooperação, a mediação e a negociação. Deste modo, a forma como se aborda um conflito pode decidir, em grande parte das situações, a segregação ou a integração.

Inato-Adquirido


Sendo as dicotomias ideias com dois pólos distintos aos quais não se consegue dar primazia a nenhuma delas, considero que a dicotomia Inato/Adquirido, apresenta-se como a principal e aquela que tem sido mais estudada e mais questionada de todas as dicotomias.
O que determina o nosso comportamento? Será o meio ou é a natureza? Somos biológica ou socialmente determinados?... Com base nestas e muitas outras perguntas, vários autores foram expondo as suas teorias com o objectivo de explicar o que influenciava o comportamento e as características do ser Humano. Uns apoiavam o pólo Inato e outros o Adquirido.
Vamos então começar pelo Inato, este indica que o comportamento humano e a personalidade são determinados geneticamente por hereditariedade dos progenitores. O comportamento é determinado por características que nascem com o ser humano (inatas). Portanto, segundo estes, o crescimento biológico do corpo e o desenvolvimento segue padrões definidos por programas genéticos. Vários foram os apoiantes deste pólo da dicotomia, como por exemplo Freud (pulsão de vida e pulsão de morte), Lorenz (comportamentos instintivos, apoia Freud), Gesell (diferenças entre os indivíduos devem-se a características inatas) e Changeux (homem como descodificação do genoma humano e também das funções do cérebro).
Na outra face da dicotomia encontra-se o pólo Adquirido que representa a educação e a influencia do meio ambiente. Estes dizem que os seres humanos são produto daquilo que aprendem e dos ambientes em que vivem, deste modo os autores que crêem no pólo adquirido tentam estabelecer ligações entre determinados comportamentos e determinados ambientes. Então, para estes, a nossa maneira de ser e de agir é influenciada pelo que aprendemos, pelas experiências vividas e pela nossa história pessoal. Os autores que apoiaram o pólo adquirido desta dicotomia foram: Watson (empirista, a influência da hereditariedade é irrelevante), Skinner (aprendizagem por condicionamento operante, importância de um reforço) e Bandura (aprendemos por observação/imitação de modelos).
Posteriormente surgiu Piaget que, com o auxílio de tecnologia mais sofisticada do que a existente no tempo dos outros autores acima referidos, pensou de forma diferente, procurou fazer uma síntese entre os dois pólos da dicotomia e concluiu que o sujeito tem um papel activo na construção do pensamento e do conhecimento. Nestes processos intervêm factores biológicos de maturação e factores relacionados com o meio, formando, então, a concepção interaccionista e construtivista contrariando assim o inatismo e o empirismo.
Como podemos ver, muitos são os autores que se debruçam nestes problemas, e resolveram alguns, porém a persistência de grandes dicotomias na evolução e confronto das “escolas” de pensamento da Psicologia é uma realidade.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Antóno Damásio. Novas investigações.

Os seres humanos podem processar a informação muito depressa e responder em fracções de segundos a sinais de dor física, porém, a admiração e a compaixão, duas das emoções que definem a humanidade, requerem muito mais tempo, precisam os investigadores da Universidade do Sul da Califórnia.
Os cientistas usaram histórias reais convincentes para induzir em 13 voluntários um sentimento de admiração perante uma virtude ou habilidade e compaixão face ao sofrimento físico e moral.
O grau de emoção foi verificado através de uma série de entrevistas antes e depois da captação de imagens do cérebro.
Estas mostraram que os voluntários necessitaram de seis a oito segundos para reagir plenamente às histórias sobre a virtude ou sofrimento moral.
Contudo, uma vez despertada esta emoção, a resposta durou muito mais do que as reacções suscitadas pelas histórias que se centraram na dor física.
O estudo é o primeiro que investiga as bases nervosas da admiração e que incide na compaixão num contexto mais amplo do que a dor física.
"De facto, separámos o Bem do Mal, em parte graças ao sentimento de admiração", sublinhou António Damásio, que dirigiu a investigação.
Os cientistas também observaram que estas emoções estão fortemente enraizadas no cérebro e nos sentidos, afectando sistemas nervosos primordiais que regulam a química sanguínea, o sistema digestivo e outras zonas do organismo.
ER.
Lusa/Fim

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Como pensa um psicopata?



Cercada de mitos, a psicopatia é, no senso comum, geralmente associada àquele indivíduo que, incompreensivelmente (pelos menos para mim), mata por prazer, ou seja, àquele cujo sofrimento alheio lhe dá uma satisfação e uma alegria no mínimo misteriosas. Ao contrário do que se pensa, esta doença do foro mental nem sempre está associada à violência e pode ser tratada. O facto é que, devido ao cada vez maior número de notícias que chegam a nossas casas de indivíduos que, inexplicavelmente, são capazes de autênticos massacres a seres humanos, o termo “psicopata” é cada vez mais usado na sociedade. Um dos mistérios que mais me intriga (e certamente a alguns de vocês) é o que levará um psicopata a cometer actos tão horrendos… O que se passará na mente de um psicopata? Será que um psicopata tem uma mente igual à mente de um indivíduo dito normal? Então e se o cérebro for biologicamente idêntico, seremos nós (indivíduos “normais”) capazes de nos comportarmos como um psicopata? Efectivamente, poucos transtornos a nível mental são tão incompreendidos como a personalidade psicopática.
Hervey M. Cleckley, psiquiatra americano, definiu pela primeira vez a psicopatia como “um conjunto de comportamentos e traços de personalidade específicos”.
Os psicopatas são pessoas (se é que podemos chamar-lhes assim) que, à partida são inofensivas e vistas como indivíduos “normais” por quem os conhecem superficialmente. São pessoas que, à primeira vista, causam boa impressão, revelando-se, no entanto, desonestas e anormalmente egocêntricas. Com uma sensação de omnipotência, os indivíduos com traços psicopáticos consideram que tudo lhes é permitido, agindo somente por benefício próprio sem olhar aos meios para alcançar os seus fins. O psicopata não sente culpa. Apesar de muitas vezes ter a plena consciência da perversidade dos seus crimes ou das suas intenções criminais, um psicopata raramente aprende com os seus erros, não conseguindo refrear os seus impulsos, carecendo por isso de superego.
Com uma auto-estima muito elevada, considera-se um ser superior regido pelas suas próprias regras. Como tal, torna-se incapaz de compreender que haja pessoas com opiniões diferentes das suas, praticando actos criminosos sem sentir qualquer tipo de culpa. Demonstrando uma frieza fora do normal, “o psicopata está livre das alucinações e dos delírios que constituem os sintomas mais espectaculares da esquizofrenia”. “A sua aparente normalidade, a sua ‘máscara de sanidade’, torna-o mais difícil de ser reconhecido e, logicamente, mais perigoso.” Exprimindo-se com elegância, as suas histórias, apesar de falsas, conseguem cativar e convencer, deixando-o numa boa situação perante as pessoas. Isto porque o discurso de um psicopata é geralmente servido de uma linguagem florida e figurativa, desempenhando esta um papel importante no seu comportamento enganoso e manipulador. Altamente seguro de tudo o que diz, o seu principal objectivo passa a ser manipular e controlar os outros. “Mentir, enganar e manipular são assim talentos naturais de um psicopata.”
“Um dos traços dos psicopatas é adoptarem geralmente comportamentos irresponsáveis sem razão aparente, excepto pelo facto de se divertirem com o sofrimento alheio. Além disso, desculpam-se dos seus descuidos culpando outras pessoas. Nos relacionamentos amorosos são insensíveis e detestam compromisso.”
Para diagnosticar a psicopatia, os especialistas servem-se de um teste desenvolvido pelo psicólogo Robert D. Hare, o PCL-R (Psychopathy checklist-revised). “Este método inclui uma entrevista padronizada com os pacientes e o levantamento do seu histórico pessoal, inclusive dos antecedentes criminais. O PCL-R revela três grandes grupos de características que geralmente aparecem sobrepostas, mas podem ser analisadas separadamente: deficiências de carácter (como sentimento de superioridade e megalomania[1]), ausência de culpa ou empatia e comportamentos impulsivos ou criminosos (incluindo promiscuidade sexual e prática de furtos).”
Estudos garantem que a maioria dos psicopatas é homem, sendo o motivo para este desequilíbrio entre os sexos ainda desconhecido. A frequência na população é aparentemente a mesma, quer no Ocidente quer no Oriente. Um dos mitos associados à psicopatia é o facto de julgarmos que os psicopatas são violentos, quando, apesar de alguns estudos indicarem que, de facto, essas pessoas recorrem à violência física e sexual, outros demonstram que a maioria dos psicopatas não é violenta e que grande parte das pessoas violentas não é psicopata.
Durante a minha pesquisa descobri também a tendência de associarem todos os indivíduos psicopatas ao facto de sofrerem de psicose[2]. “Ao contrário dos casos de pessoas com transtornos psicóticos, em que é frequente a perda de contacto com a realidade, os psicopatas são quase sempre muito racionais. Eles sabem muito bem que as suas acções, imprudentes ou ilegais, são condenáveis pela sociedade, desconsiderando, porém, tal facto com uma indiferença assustadora. Além disso, os psicóticos raramente são psicopatas.”
Ao contrário do que se julga, a psicopatia tem cura: hoje em dia é sabido que a maioria dos psicopatas são recuperáveis podendo vir a ser bons cidadãos da sociedade. Embora os psicopatas raramente se sintam motivados para procurar tratamento, uma pesquisa feita pela psicóloga Jennifer Skeem sugere que essas pessoas podem usar a psicoterapia como tratamento. “Mesmo que seja muito difícil mudar comportamentos psicopatas, a terapia pode ajudar a pessoa a respeitar regras sociais e prevenir actos criminosos.”
“A característica do psicopata é não demonstrar remorso algum, nem vergonha, quando elabora uma situação que ao resto dos mortais causaria espanto. Quando é demonstrado o seu embuste, não se embaraça; simplesmente muda a sua história ou distorce os fatos para que se encaixem de novo.”

“O ser humano está cada vez mais isolado, mais sozinho, apesar de poder se comunicar quase instantaneamente com qualquer parte do mundo. Caso aprenda a viver sem necessitar dos outros, aprenderá a não se preocupar com os outros, um traço básico na personalidade psicopática.”

FONTES:
http://www.psicologiavirtual.com.br/psicologia/principal/conteudo.asp?id=4017
http://erickmagnus.multiply.com/journal/item/290/O_Psicopata
http://www2.uol.com.br/vivermente/artigos/o_que_e_um_psicopata__imprimir.html


[1] Megalomania é um transtorno psicológico em que o doente tem ilusões de grandeza, poder e superioridade. Também se caracteriza pela obsessão em realizar feitos e actos grandiosos.
[2] Psicose é um termo psiquiátrico genérico que se refere a um estado mental no qual existe uma "perda de contacto com a realidade". Ao experienciar um episódio psicótico, um indivíduo pode ter alucinações ou delírios, assim como mudanças de personalidade e pensamento desorganizado.

De que modo os estereótipos, preconceitos e a discriminação condicionam a nossa relação com os outros?



Os estereótipos são um conjunto de crenças que dão uma imagem simplificada das características dos grupos, que se generalizam a todos membros. Alguns exemplos: “os velhos são conservadores”, “os homens são uns machões”. São determinadas características que generalizamos.
Na sua base está o processo de categorização, isto é, colocamos os indivíduos numa “gaveta” e permite-nos de uma forma mais rápida, orientarmo-nos na vida social. O que por lado é bom, visto que, assim sabemos o que poderemos esperar dos outros, definir o correcto/errado, justo/injusto, o bonito/feio (função sociocognitiva). Contudo, se generalizarmos poderá estar errado, porque, por exemplo, nem todos os homens são machões, apenas pegamos em características que lhes são comuns e generalizamos (categorização estereotipada). Uma vez interiorizada, o estereótipo é aplicado de forma automática, é uma construção social. Ao pertencermos a um grupo, leva-nos a distinguir os outros, permitindo definir positiva ou negativamente, por relação ao outro grupo. Por exemplo, se soubermos que um grupo tem uma imagem negativa de outro, os estereótipos contribuem para reforçar a identidade do grupo a que pertencemos (socioafectivo). Aqui encontra-se o preconceito, que tem também como base o processo de categorização e a base está na informação veiculada pelo estereótipo, isto é, o estereótipo fornece a informação cognitiva e o preconceito acrescenta-lhes a componente afectiva. Por exemplo, numa sociedade uma senhora sabe que na zona onde vive, os negros roubam, logo ela vai generalizar “todos os negros” e vai guardar com receio a sua carteira.
Estamos perante um acto de discriminação (é um comportamento dirigido ao individuo visado de preconceito) como é o caso de um grupo de portugueses que afirma que os ucranianos deveriam ser expulsos do país, visto que tiram postos de trabalho aos residentes. Por exemplo, o preconceito racial, conduz à discriminação de pessoas de outras raças, já o preconceito sexista, conduz à discriminação de mulheres e o próprio preconceito religioso, conduz à discriminação das pessoas que professam outras religiões. Assim, no meio onde me insiro, as pessoas obtêm a aceitação social quando se comportam de acordo com os estereótipos. O preconceito e a discriminação pelas pessoas leva a que muitas das suas atitudes, sejam difíceis de mudar. Os estereótipos assumem posições radicais contra outros grupos, manifestando protecção do seu e o desejo de coesão. Muitos negros sentem-se inferiorizados, desvalorizados, porque muitas das sociedades não os aceitam como realmente gostariam que os vissem…

Como explicar os comportamentos agressivos?



A questão que coloco é: “A agressividade é um comportamento inato ou é produto da aprendizagem?”. Os seres humanos não estão geneticamente programados para desenvolver comportamentos agressivos, há sim factores que o levam a ser agressivo. Teóricos, explicam a origem da agressão como um comportamento inato, é o caso de Freud que dizia que a agressão teria origem numa pulsão inata, a pulsão da morte, e os comportamentos agressivos, eram explicados pela disposição instintiva e primitiva do ser humano. Já Lorenz também dizia que a agressividade humana estava programada geneticamente, mas sob a forma de um programa que era desencadeado em determinadas situações face a estímulos adequados/específicos. Teria assim, um valor de sobrevivência para a espécie humana, sendo fundamental para a sua preservação. Existem mecanismos biológicos e bioquímicos relacionados com a agressividade, mas o meio onde me insiro irá ou não reforçar essa minha predisposição. Nos seres humanos, a sua manifestação e expressão são dependentes de factores relacionados com o contexto, com a aprendizagem e com as experiências pessoais. O processo de socialização decorre no contexto de grupo, de interacções sociais. Por exemplo, se eu vivo com pais que são violentos, um dia mais tarde poderei vir a ser agressivo uma vez que, que estes exercem um papel fundamental no nosso desenvolvimento e são modelos que as crianças imitam e procuram identificar-se.
Segundo Bandura, o comportamento agressivo é aprendido pela observação e imitação de modelos. As crianças no processo de socialização irão imitar os pais, professores, grupo de pares, até mesmo os comportamentos agressivos (aprendizagem social).
Assim se explicam as diferenças da expressão “agressão” nas diferentes épocas e culturas e diferentes pessoas de uma dada cultura. Por exemplo, numa sociedade islâmica, o homem pode bater na esposa, considera-se agressão, mas como faz parte daquela cultura, torna-se normal, é frequente. Agora nas sociedades ocidentais, se o homem bater na esposa, pode ser punido. Depende muito da cultura a que pertencemos…
Na minha opinião, todos conseguimos ser agressivos, mas há que saber controlar, apesar de que o ambiente em que me insiro determinará o meu “futuro”, como irei agir em relação com os outros. É um dos factores decisivos para o meu desenvolvimento.

O que explica as relações de conflito e como podemos superá-las?



Primeiramente, poderei definir conflito como uma tensão que envolve pessoas ou grupos quando existem tendências ou interesses incompatíveis. Ao conflito associam-se a comportamentos e sentimentos negativos e prejudiciais para as pessoas, grupos ou organizações envolvidos.
Uma característica que acompanha o conflito é o estado de insatisfação entre as partes. A insatisfação pode ter várias origens: divergência de interesses, competição pelo poder, incompatibilidade de objectivos, partilha de recursos escassos, desacordo de pontos de vista. Por exemplo, num jogo de futebol, dá-se o conflito entre os adversários por causa da cegueira de vencer (competitividade). Ou quando há favorecimento por uma das equipas, existindo assim um conflito intergrupal.
Hoje em dia, considera-se que os conflitos têm aspectos negativos porque correspondem a períodos de tensão e de insatisfação das pessoas e dos grupos, mas também têm aspectos positivos porque o confronto é gerador de mudança, que é o fundamento da evolução e do desenvolvimento social. O conflito social é encarado como um elemento vital da mudança e das dinâmicas sociais De uma forma mais completa, poderei dizer que os conflitos são uma realidade por exemplo, no interior das famílias, nas empresas, instituições, entre grupos sociais e podem ser úteis nas diferentes instâncias, porque impedem a estagnação, podendo estimular o surgimento de novas ideias, estratégias. Um dos aspectos que tem sido estudado a propósito dos conflitos interpessoais (cada um de nós está perante motivações que são incompatíveis) é o reforço da identidade do grupo. Este sentimento corresponde à necessidade de as pessoas verem o seu grupo como o “melhor” que qualquer outro grupo. A situação de conflito reforça esta necessidade, podendo aumentar a coesão do “nós”, ao mesmo tempo aumentar a rejeição dos outros grupos.
Como superar as relações de conflito? Pois bem, o contacto que envolva a cooperação, a entreajuda e a interdependência, tem muito mais possibilidades de sucesso na superação dos conflitos. Por exemplo, dois grupos que se odeiam têm que desligar uma torneira, é necessário cooperar, pois só assim é que a conseguem desligar.
O que acaba por acontecer é que os rivais como têm um objectivo em comum, desligam-se das divergências. Na minha opinião, outras formas mais eficazes de superar o conflito de entre dois grupos é através da mediação, isto é, o envolvimento de uma pessoa que não está envolvida no conflito e que tem uma posição neutral, por exemplo, um professor. A mediação tem como objectivo promover a comunicação entre as partes em conflito. Outra forma de superar o conflito é através da negociação, ou seja, os grupos em conflito procuram construir um acordo no sentido de impedir o desenvolvimento da hostilidade para fases mais agudas. A negociação implica cedências e exigências mútuas e visa evitar a confrontação directa.
Tudo é bem resolvido se existir comunicação entre ambas as partes, o saber ouvir... Só assim, é que se consegue chegar a um consenso.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Não somos isolados da Biologia



Os processos biológicos não são completamente determinantes para a nossa sobrevivência. De facto, outros elementos intervêm, com uma importância igual, tal como é o caso da cultura. Nem a cultura, nem os processos biológicos, isoladamente, são determinantes. Assim, de uma forma simplificada, poderia dizer que nós, seres humanos, somos biologicamente culturais.
Os seres humanos são bastante complexos, difíceis de decifrar, uma vez que, apesar das características que têm em comum, o que os distingue entre si é bem maior. Assim, cada indivíduo pode categorizar-se como sendo único!
Como programas abertos que somos, temos a possibilidade de nos adaptarmos a novas circunstâncias. Apesar das nossas limitações anatómicas, compensamos com a invenção de soluções. Temos a capacidade de transformar o meio em que vivemos, adaptando-nos para que consigamos sobreviver. Para os humanos a aprendizagem é o instrumento principal da adaptação. Somos corpo e cérebro, aprendemos a ser e a encontrar a nossa forma de ser em interacção com os outros, enquanto membros de uma cultura e de uma sociedade. O Homem não sobrevive sozinho, precisa inconscientemente dos outros, o que é inevitável. Como se costuma dizer: “duas cabeças pensam mais do que uma”. Esta frase pode querer dizer que várias pessoas, cooperando umas com as outras, atingem resultados bem melhores. Por exemplo, os primitivos (a maioria dos homens) iam à caça sempre em conjunto, visto que tinham mais probabilidade de trazer em abundância comida para as famílias do que se caçassem sozinhos. Assim, cooperando uns com os outros, as tarefas tornam-se menos cansativas, produz-se mais e a satisfação é notória, tendo também interesses em comum. Isto que acabei de referir remete-nos para o campo da cultura, sendo um elemento fundamental no ambiente de qualquer pessoa, porque traduz-se em múltiplas e variadas consequências, nomeadamente na forma como cada um de nós se comporta, sente, pensa. É uma totalidade onde se conjugam valores, regras, costumes, crenças, acabando por ser o ambiente de suporte e protecção dos seres vivos. Para que haja sociedade, têm que existir modos de pensar e de fazer comuns aos membros da cultura onde estamos inseridos e, para que haja equilíbrio, tem de haver respeito mútuo, solidariedade e, acima de tudo, interiorizar normas, regras e valores.
Não há indivíduos sem comunidade e sem comunidade não há humanos !!!

quarta-feira, 18 de março de 2009

O poder da sociedade na forma como encaramos a diferença



Parte do que somos agimos e pensamos deve-se em grande parte a todo um conjunto de ideias e conceitos que recebemos da sociedade e que com os quais interpretamos o mundo que nos rodeia. Experimentemos. Experimentemos viver um único dia da nossa vida pondo de parte tudo aquilo que a sociedade nos “empurra”.
Procurando ganhar coragem para enfrentar a realidade, veremos que nem tudo o que os outros nos dizem é verdadeiro e isso levará a um maior peso na consciência. Teremos a plena noção do que é o mundo na íntegra e cairemos na razão. Tudo começa na criação e organização de esquemas mentais produzidos a partir dos diversos elementos que observamos. Simplificando-os, procuramos generalizá-los e categorizá-los consoante os elementos de que dispomos. Tal procedimento torna-se essencial, na medida em que nos é mais simples compreender e interpretar determinada realidade. Criado o esquema mental, é alvo de um processo avaliativo, que pressupõe uma componente emocional e de carácter pejorativo. Está concebido assim o preconceito. Numa fase posterior, é já parte integrante do complexo processo de socialização, onde o preconceito procurará ganhar espaço e afirmação. Como consequência do estereótipo e do preconceito, manifestamos um comportamento, um acto intencional, que procure diminuir a auto-estima do discriminado e assim feri-lo no seu orgulho. No entanto, como não são irreversíveis, a história pessoal poderá ter um papel fulcral nesta matéria, podendo assim alterar padrões de preconceitos. Fugindo a todo este processo acima mencionado, poderemos ser surpreendidos por coisas pelas quais nunca teríamos sequer pensado dessa forma e que até então as achávamos banais.
Certo é que muito provavelmente poderemos não ser mais as mesmas pessoas e que muita coisa poderá mudar na nossa vida daqui em diante. Nova visão do mundo, novo pensamento mas, sobretudo, uma vida que procura ser vivida com menos "poluição" por parte dos outros

terça-feira, 10 de março de 2009

Atracção interpessoal



A atracção interpessoal, preferência por determinado tipo de pessoas é produto de um enredado romance entre as cognições e os afectos.
À pergunta: “ a aparência física é decisiva no seu relacionamento com o outro”, a maior parte das pessoas, condizente com o politicamente correcto afirma que não, mas o certo é que a beleza exterior desempenha um papel muito importante no comportamento a ter com o outro.
Um dos motivos mais evidentes para isto é o facto de a beleza causar uma melhor impressão inicial e consequentemente um aumento da auto-estima, pois a companhia de uma pessoa fisicamente atraente favorece a posição social do indivíduo (temos que convir que apesar do belo não ser sinal de qualidade é sinal de “pinta”, principalmente quando se fala dos jovens) Da mesma forma, factores como a proximidade geográfica, as similaridades interpessoais, a complementaridade das personalidades, a reciprocidade, entre muitos outros nomeadamente, o respeito, a estima, a admiração explicam o que nos leva a preferir certas pessoas e outras não.
Estudos realizados em residências universitárias mostram que relativamente ao vizinho do andar de cima os companheiros de quarto têm duas vezes mais probabilidade de se tornarem amigos, uma vez que contactam mais frequentemente e a familiaridade conduz a uma maior afeição.
As pessoas gostam de sentir as suas ideias e escolhas valorizadas e validadas. Assim, é comum a preferência por pessoas com as quais temos pontos de afinidade (semelhanças interpessoais) e a tendência para “gostar de quem gosta de nós” (reciprocidade).
Todavia não é só a partir da igualdade que se cria a confiança e a preferência, mas também da diferença no sentido em que, as assimetrias das características individuais podem tornar o outro atraente.
É na junção de todos estes factores que o nosso comportamento para com os outros se regula e as preferências se formam, daí o Miguel ser um grande amigo da Maria e não da Joana.

O poder do amor



Aquilo que, ao longo do nosso tempo de vida, vamos sendo, é resultado de tudo o que partilhamos com aqueles com quem de forma significativa nos cruzamos. Do que deles recebemos e lhes damos. E daquilo que, a partir daí, vamos sendo capazes de guardar dentro de nós mesmos, assim o transformando em algo nosso. Só dessa forma podemos aperceber-nos de como, através deles, nos é dada a possibilidade de vislumbrar o amor.
Amar é muito mais do que a sensação de empolgamento quando uma empatia profunda com alguém nos faz sentir capazes de tudo.
Aprender a amar é como subir uma escada com curvas, que nos vai conduzindo a um encontro connosco mesmos e, simultaneamente, à percepção de uma força que, embora pareça vir de fora, nos vem de dentro – sendo, por isso, indestrutível.

Vive atrás de uma máscara?



Há um intervalo cada vez maior entre aquilo que somos e aquilo que mostramos ao mundo. Estamos a trair-nos ou simplesmente a sobreviver?
Todos nós, em maior ou menor grau, somos diferentes conforme a pessoa com quem estamos, mas até que ponto é que nos traímos na necessidade de nos protegermos dos outros? Escondemo-nos por medo, por defesa, por integração? Por que achamos que a outra pessoa não aguenta o peso da nossa personalidade, com todos os seus defeitos? É o medo da rejeição que está na base?
Podemos ver as máscaras em termos de rejeição, mas eu vejo-as mais como uma arma para melhorar a aceitação do outro. Eu preciso que me aceitem para me sentir bem.
Então, e se fosse ao contrário? Se disséssemos e fizéssemos tudo o que queríamos, se fôssemos permanentemente iguais a nós próprios, seríamos mais libertas? Ao contrário: as pessoas muito rígidas, que se comportam da mesma maneira com toda a gente, essas são as mais aflitas. É tão angustiante a avaliação que os outros possam fazer, que funcionam como se a opinião deles não lhes fosse necessária. E isso também é uma máscara. As que se gabam de ‘dizer tudo’ nunca dizem tudo. O que estão a dizer é que têm consciência de que são despropositadas muitas vezes. Porque depois, quando lhes é conveniente, que bem que elas escondem!
É normal querer agradar aos outros. O problema só acontece quando agradar aos outros implica sacrificar os nossos sentimentos mais profundos.

O que explica as relações de conflito e como podemos superá-las?



Ao lermos os jornais, ao ouvirmos conversas sobre relações de trabalho, relações afectivas ou outras, ao analisarmos algumas das nossas experiências pessoais, constatamos que o conflito está presente nas várias dimensões da vida social, no contexto das interacções sociais. Pode-se definir conflito como uma tensão que envolve pessoas ou grupos quando existem tendências ou interesses incompatíveis. O conflito ocorre em relações próximas e/ou interdependentes em que existe um estado de insatisfação entre as partes. A insatisfação pode ter várias origens: divergência de interesses, competição pelo poder, incompatibilidade de objectivos, partilha de recursos escassos, desacordo de pontos de vista…A situação de conflito pode assumir o carácter de conflito intrapessoal (conflito interno), conflito interpessoal (conflito entre pessoas) e conflito intergrupal (conflito entre grupos). Apesar de haver conflitos noutras estruturas sociais, vou deter a minha atenção no conflito intergrupal. Sempre que os interesses entre duas pessoas ou dois grupos forem divergentes podemos esperar que se desenhe um conflito traduzido em comportamentos e atitudes competitivas, que podem atingir formas elevadas de hostilidade e até agressão. Pelo contrário, quando os interesses objectivos de dois grupos forem convergentes e os recursos suficientes para que ambos os consigam atingir, é mais provável que se desenhe a cooperação entre eles, sendo os comportamentos então orientados para a colaboração. Torna-se importante referir que não basta o simples contacto entre grupos hostis para se ultrapassarem os preconceitos e o conflito. O contacto que envolva a cooperação, a entreajuda e a interdependência tem muito mais possibilidades de sucesso na superação de conflitos. Efectivamente, é necessária a cooperação, isto é, a acção conjunta que implique a colaboração dos envolvidos para se atingir um objectivo comum. De facto, só quando se definiram objectivos de carácter imperativo essencial para a vida dos dois grupos, em que estes tiveram de discutir, elaborar um plano, dividir as tarefas, é que a hostilidade desapareceu. Além disso, outros meios a que se recorre para se ultrapassarem conflitos são: a dominação, a submissão, a inacção, a mediação e a negociação. A dominação ocorre quando um grupo impõe unilateralmente a solução ao outro grupo. A submissão ocorre quando um grupo cede às exigências do outro grupo. A inacção ocorre quando os dois grupos, ou um deles, escolhem não agir, esperando que o passar do tempo resolva por si só o conflito. A mediação prevê o envolvimento de alguém que não está envolvido no conflito e que tem uma posição neutral. O mediador terá a distância para apreciar e ajudar a clarificar o conflito. O seu objectivo é promover a comunicação entre as partes em conflito. E por fim, a negociação que ocorre quando os grupos em conflito procuram construir um acordo no sentido de impedir o desenvolvimento da hostilidade para fases mais agudas. A negociação visa evitar a confrontação directa. A negociação implica cedências e exigências mútuas. Actualmente, dominam as soluções baseadas na cooperação, na mediação e na negociação.
A vivência e a ultrapassagem dos conflitos correspondem a processos de desenvolvimento pessoal e grupal. Depois de ultrapassados, favorecem respostas mais adaptadas. Sem omitir os aspectos negativos, actualmente considera-se o conflito como um factor de mudança e desenvolvimento social.

Qual o papel e características da intimidade (amizade e amor)?


Qual o papel e características da intimidade (amizade e amor)?
As relações íntimas são um tipo particular de interacção social que apresenta características próprias. Se pensarmos nas relações que estabelecemos com os outros, reconhecemos que existem diferentes níveis de intimidade relativamente às diferentes pessoas com quem nos relacionamos. A possibilidade de se manterem relações de intimidade varia também de pessoa para pessoa, estando ligada à história pessoal, à personalidade e à experiência de cada um. De facto, a intimidade é uma experiência que implica uma forte vivência, um grande envolvimento e uma comunicação profunda. Essa comunicação pode se manifestar de diversas formas, nomeadamente, com interacções verbais e interacções não verbais. O contexto social condiciona, através das convenções sociais, as relações de intimidade e as suas expressões. Existem duas expressões da intimidade que, embora não sejam as únicas, são as mais significativas e as mais estudadas: a amizade e o amor.
A amizade é uma das manifestações de intimidade que envolve relações em que estão presentes, entre outros, elementos como confiança, lealdade, cooperação, carinho, apoio, franqueza... Essas características envolvem reciprocidade. Uma relação de amizade é uma relação pessoal, informal, voluntária, positiva e de longa duração que implica reciprocidade, que envolve atracção pessoal e que facilita os objectivos que os envolvidos querem atingir. As expectativas que estão subjacentes às relações de amizade são: defender o amigo quando está ausente; partilhar com ele os acontecimentos e as ocorrências relevantes; apoiá-lo emocionalmente sempre que precise; confiar no outro e ser verdadeiro e apoiar o outro de forma espontânea e voluntária, sempre que necessário. Assim como reconhecemos que as relações de amizade correspondem a um importante suporte psicológico, a sua ruptura é um facto de grande perturbação. As amizades variam segundo um conjunto de factores: idade, género, contexto social e características individuais.
Amar não é simplesmente gostar em maior quantidade, mas um estado psicológico qualitativamente diferente. Por exemplo, pelos menos os seus estádios mais iniciais, o amor inclui uma excitação psicológica, relativamente intensa, um interesse no outro indivíduo, fantasia sobre o outro, e oscilação de emoções relativamente rápidas. Similarmente, o amor, ao contrário do gostar, inclui elementos de paixão, proximidade, fascinação, exclusividade, desejo sexual e uma preocupação intensa. Os parceiros são idealizados; exageramos as suas qualidades e minimizamos as suas imperfeições. Quando se fala de amor, há que distinguir dois tipos de amor: o amor companheiro e o amor apaixonado. O amor companheiro é marcado por uma amizade muito íntima, ternura mútua, cuidado, respeito e atracção (envolve relações com os pais, familiares, amigos íntimos). O amor sexual ou apaixonado envolve atracção sexual, um desejo de amor mútuo e proximidade física, e o medo de que a relação acabe.
Segundo o psicólogo Robert Sternberg, o amor tem três dimensões, o chamado modelo triangular do amor: intimidade, paixão e compromisso. À intimidade correspondem sentimentos de visam a proximidade emocional, a união, a compreensão mútua e a partilha. A paixão envolve um intenso desejo sexual, uma vontade irreprimível de estar com o outro. Ao compromisso corresponde a intenção de um comprometimento em manter uma relação amorosa.

O que nos leva a preferir certas pessoas ?



Vivemos no interior de vários grupos sociais onde mantemos relações com os outros. Se pensarmos um pouco num dos grupos a que pertencemos, apercebemo-nos que as pessoas com quem interagimos não nos são indiferentes e não têm para nós a mesma importância, o mesmo valor afectivo. De facto, existem pessoas com quem estabelecemos relações preferenciais e que nos podem motivar algumas perguntas como por exemplo: por que razão é que me sinto atraído por determinada pessoa? Por que razão prefiro estar com ela? Por que razão gosto dela? A psicologia social procura compreender o que está na base destes processos que explicam a atracção interpessoal. Podemos definir atracção social como a avaliação cognitiva e afectiva que fazemos dos outros e que nos leva a procurar a sua companhia. Manifesta-se pela preferência que temos por determinadas pessoas que nos levam a gostar de estar com elas, a partilhar confortavelmente a sua presença. Ainda que o processo de atracção esteja marcada pelas emoções, afectos e sentimentos e relacionado com a história pessoal de cada um, há factores que, pela regularidade com que aparecem, explicam o que nos leva a sentirmo-nos atraídos por algumas pessoas. Os factores que interferem no processo de atracção pessoal são: proximidade, atracção física, semelhanças interpessoais, complementaridade e reciprocidade.

Como explicar os comportamentos agressivos?



Seria extraordinário (ou não) existir uma explicação lógica e totalmente conclusiva acerca dos comportamentos humanos. Contudo, tal não é o que acontece e, portanto, o necessário é esgotar todas as possíveis hipóteses de modo a chegar mais perto do assertivo.
Orientadas segundo dois eixos temos diferentes teorias acerca das causas da agressividade. Se ,por um lado, reina a concepção de que a agressividade é um mecanismo inato da acção do homem (componente biológica) por outro, considera-se que a mesma é resultado da aprendizagem social.
Sigmund Freud, Lorenz e Dollard são apologistas de que a agressividade tem algo de inato. O primeiro atribuí a orientação da agressividade a pulsões destrutivos (energia que tem que ser descarregada) e defende que a socialização é a forma de os reprimir, Lorenz considera que o principal papel da agressividade é a sobrevivência/adaptação do ser Humano enquanto Dollard, defendendo uma teoria (muito contestada) defende que entre a frustração e a agressividade existe algo de inato.
Por sua vez, Bandura valida os factores relacionados com o contexto social, a aprendizagem e a história pessoal como os potenciadores do comportamento agressivo uma fez que esta aprendizagem se faz a partir da imitação e observação dos comportamentos agressivos de modelos como pais, tios, professores (de ver a importância das figuras mais próximas no processo de socialização). É exemplo da variação da agressividade de cultura para cultura o facto das culturas mais individualistas serem mais agressivas que as colectivistas.
Certo é que não se pode falar de um mecanismo neuronal inato como causa da agressividade, mas o certo é que existe influência neurológica neste tipo de comportamento, nomeadamente a nível da amígdala e do neurotransmissor serotonina, o mensageiro químico cujo suprimento tende a ser baixo em pessoas propensas à violência.
Numa experiência, pesquisadores puseram um eléctrodo numa área de inibição da agressão do cérebro de um macaco prepotente. Com um botão que activava o eléctrodo, um macaco pequeno aprendeu a apertá-lo cada vez que o macaco tirano se tornava intimidador. O macaco agressivo rapidamente ficava apático.
A Temperatura assim como o álcool, relacionado com a componente biológica, social e psicologia do indivíduo também são responsáveis pelo desencadear de respostas mais agressivas às provocações.
Esperemos que a componente biológica nunca se sobreponha à cultural pois, caso isto aconteça, haverá muitas desresponsabilizações por parte de vários criminosos.

O que explica as relações de conflito e como podemos superá-las?



As relações de conflito são inerentes à vida em sociedade, ou seja estão intimamente ligadas ao ambiente organizacional segundo o qual as relações se desenvolvem (relação entre sujeitos do mesmo grupo, relação entre grupos diferentes). Assim, não se pode afirmar que o conflito surge acidentalmente por qualquer casualidade pois, é produto de uma complexa rede relacional.
É a partir da divergência de atitudes, ideias, interesses, tendências incompatíveis, competição pelo poder que o clima de conflito surge.
Se encararmos as relações de conflito segundo uma perspectiva “transformista”, conseguiremos superá-las mais facilmente. Pensemos nas grandes descobertas da humanidade - todas foram alvo de choques de interesses e desacordos, razão pela qual hoje são grandes, pois todos foram os problemas, os inconvenientes, os erros levantados pelos opositores e por isso, a perfeição hoje é incontestável (falo por exemplo da teoria heliocêntrica de Galileu).
Muzaferd Sheri dividiu num campo de férias dois grupos de pessoas, as “águias” e as “serpentes”. Estes depois de passarem por uma primeira fase de cooperação foram sujeitos a jogos e actividade de competitividade. O que se verificou é que existia grande conflito entre as pessoas pertencentes a diferentes grupos.
Na experiência feita por Muzafer Sherif constata-se que o conflito é maior quando as pessoas vêem o que são (por exemplo “águias”) em comparação com o grupo contrário (as “serpentes”) porque reforçam a ideia do pensamento grupal.
Da mesma experiência, retira-se o papel importante que a cooperação tem na resolução dos conflitos, isto é, os dois grupos em análise só se entenderam quando tiveram que colaborar conjuntamente para atingir um objectivo comum.

De que modo os estereótipos, preconceitos e a discriminação condicionam a nossa relação com os outros?



Tanto os estereótipos como os preconceitos ou a discriminação são algemas do pensamento humano uma vez que a origem destes se baseia respectivamente em ideias resultantes de generalizações (processo com elevado grau de incongruência) relativamente a objectos sociais, atitudes derivadas da estereotipação injusta e manifestação de comportamentos negativos.
A categorização é um processo de absoluta preponderância para que a significação do mundo e a adaptação do ser humano contudo, quando este reagrupamento dos objectos sociais assenta em ideias negativas e preconceituosas, por exemplo achar que todos os indivíduos tatuados, musculados e de cabeça rapada encaixam na prateleira das pessoas violentas a nossa relação com os indivíduos portadores destas características será quase inexistente.
Apesar de diferentes, a existência destas crenças é transversal a todas as pessoas e portanto contribuí para uma “conformidade social” que leva as pessoas a aceitarem tudo o que tem a ver com o seu endogrupo (grupo a que pertencem e portanto sobre o qual têm uma atitude positiva) e menosprezar t udo o quando se distinga dele (exogrupo).
No filme “Colisão” são-nos referidas várias situações de vida em que os estereótipos, preconceitos e discriminação comprometem o relacionamento entre as pessoas, por exemplo Jean por ter uma atitude e um comportamento racista não trata da melhor forma a sua empregada doméstica uma vez que esta é de nacionalidade e "raça" diferente.
A falta de comunicação, subjacente às categorizações, atitudes e comportamentos negativos não permitem o conhecimento do outro e portanto, potencializam comportamentos como o do polícia branco que matou o negro a quem deu boleia por causa de uma conclusão precipitada.
Quando as representações sociais são fruto de visões distorcidas e estereotipadas, a nosso relacionamento com os outros é influenciado negativamente, podendo mesmo chegar a deixar de existir.

Esquizofrenia: a doença da mente dividida.






Das doenças do foro psiquiátrico que ouço falar, a esquizofrenia, talvez pela forma como se manifesta ou mesmo pela própria doença em si, foi sempre aquela que mereceu da minha parte maior curiosidade e estudo.
Mas afinal, o que é a esquizofrenia? A esquizofrenia (do grego “skhizein” (esquizo) que significa fender, rasgar, dividir e “phrên” (frenia) que significa pensamento) é uma doença do cérebro causada pela alteração da estrutura básica dos processos de pensamento, afectando essencialmente a capacidade cognitiva. Caracterizada por uma dissociação das funções psíquicas e pela perda de contacto com o mundo exterior, com um mundo que não o do esquizofrénico, os seus efeitos acabam por se reflectir também no comportamento e nas emoções do doente, que sofre um desvio de personalidade facilmente reconhecível.
Existem várias explicações relativamente às causas do aparecimento da esquizofrenia. Hoje sabe-se que a doença pode ter causas genéticas e que a probabilidade de um indivíduo vir a sofrer de esquizofrenia aumenta se houver um caso desta doença na família - "No caso de um dos pais sofrer de esquizofrenia, a prevalência da doença nos descendentes directos é de 12%. Na situação em que ambos os pais se encontram atingidos pela doença, esse valor sobe para 40%”. Apesar desta relação, cerca de 81% dos doentes com esquizofrenia não têm qualquer familiar em primeiro grau atingido pela doença e cerca de 91% não têm sequer um familiar afectado.
Por outro lado, também os factores cerebrais e biológicos podem estar relacionados com o eclodir da doença: alterações bioquímicas e estruturais do cérebro, como por exemplo, nalguns neurotransmissores (como a dopamina), são potenciais causas da esquizofrenia.
Além disso, existem algumas outras teorias que ajudam a explicar o aparecimento da doença. As teorias psicanalíticas, por exemplo, remetem para a fase oral do desenvolvimento psicológico em que a ausência de relações interpessoais saudáveis estaria na origem da esquizofrenia - “a ausência de gratificação verbal ou da relação inicial entre mãe e bebé conduz igualmente as personalidades “frias” ou desinteressadas (ou indiferentes) no estabelecimento das relações”.
Também os factores sociais podem propiciar a doença: muitas pessoas passaram por períodos de depressão, stress ou conflitos antes de se tornarem esquizofrénicos. Isto leva-nos a concluir que, juntamente com o facto de serem portadores de factores de vulnerabilidade pessoais, este ambiente desfavorável pode desencadear os mecanismos de disfunção mental, característica da esquizofrenia.
Convém sublinhar que nenhuma das causas referidas explica isoladamente o aparecimento da esquizofrenia.
Quanto aos sintomas que a doença pode manifestar variam de indivíduo para indivíduo, podendo ser divididos em duas categorias: os sintomas positivos e os sintomas negativos. Os sintomas positivos caracterizam-se pelos delírios como pensamentos irreais e delirantes - “ideias individuais do doente que não são partilhadas por um grande grupo”. Este tipo de sintomas costumam aparecer na fase aguda da doença e são as perturbações mentais mais graves e mais anormais: alucinações; percepções irreais, como ouvir, ver, saborear, cheirar ou sentir algo irreal, sendo mais frequentes as alucinações auditivas e visuais; pensamento e discurso desorganizado; alterações do comportamento, ansiedade e também impulsos agressivos. Os sintomas negativos acompanham a evolução da doença e reflectem-se na falta de motivação (vontade e iniciativa) e afectividade, ausência de emoções e deficiência quanto ao discurso, ao pensamento e às relações interpessoais, como resultados da perda das capacidades mentais. O isolamento social (o indivíduo desliga-se completamente do mundo, virando-se apenas para si mesmo, o que se assemelha em parte ao autismo), a apatia ou a indiferença emocional são também possíveis manifestações de sintomas negativos.
Quando na fase aguda, esta doença pode impedir o esquizofrénico de levar uma vida normal. A propósito disso, um dos maiores receios do esquizofrénico é o facto de se poder sentir rotulado em termos sociais como aquele indivíduo intrinsecamente perigoso e violento, quando estudos mostram que a incidência de comportamento violento nestes doentes e no resto da população é habitualmente idêntica. Além disso, e apesar de a cura ainda não existir, o tratamento é possível e pode ajudar em grande medida a tratar os sintomas e a permitir assim que os doentes possam viver as suas vidas de forma saudável e produtiva.

“Quero que as pessoas entendam que sou como os outros. Sou um indivíduo e deveria ser tratada como tal pela sociedade. Não deveriam fechar-me numa caixa com a etiqueta de esquizofrenia” (Jane, doente esquizofrénica).

sábado, 28 de fevereiro de 2009

O que é o amor ?

Todos sabemos o que é o amor, não sendo, no entanto, pelo menos para mim, possível defini-lo por palavras… Mas afinal o que será este sentimento (se o for) que nos torna parcialmente dependentes das pessoas que nos são mais próximas (e que amamos), ao ponto de, ao estarmos longe delas, nos tornemos altamente infelizes e angustiosos?

Robert Stenberg, psicólogo norte-americano, formulou uma teoria segundo a qual o amor englobaria três componentes distintas: a intimidade, a paixão e o compromisso. No que toca à intimidade, de carácter mais emocional, estamos perante uma relação de confiança mútua que inclui a protecção e a necessidade de estarmos perto do outro. É através da intimidade que duas pessoas compartilham as suas experiências pessoais e o que mais íntimo há de si. A paixão, que se baseia essencialmente na atracção sexual, envolve um sentimento irreprimível de estar com o outro. Por sua vez, o compromisso é a expectativa de que o relacionamento dure para sempre, numa intenção de comprometimento mútuo.


Na Psicologia, o amor é definido como sendo, não simplesmente o gostar em maior quantidade, mas sim um estado psicológico qualitativamente diferente. Isto porque, "ao contrário do gostar, o amor inclui elementos de paixão, proximidade, fascinação, exclusividade, desejo sexual e uma preocupação intensa."

Psicologismos à parte, o que será, entre nós, sabedores do senso-comum, o amor? Será uma mistura entre loucura e paixão que faz focar o nosso pensamento única e exclusivamente na pessoa que amamos? Ou será um sentimento de desejo incontrolável que nos torna incessantemente ansiosos por estar com o outro, numa troca recíproca de carinho, afecto, confidências, palavras e olhares? De facto, o amor pode ser uma conjugação de todos estes aspectos, em que nenhum é dispensável mas todos são imprescindíveis.

Numa tentativa de simplificar a definição de Amor, os psicólogos sociais recorreram à definição de seis diferentes formas de amar. São elas seis: o amor romântico (envolve paixão, unidade e atracção sexual mais usual na adolescência), o amor possessivo (determinado pelo ciúme, provocando emoções extremas), o cooperativo (que nasce geralmente de uma amizade anterior, sendo alimentado por hábitos e interesses comuns), o amor pragmático (característico de pessoas ensinadas a reprimir os seus sentimentos o mais possível, sendo estas relações desprovidas de qualquer manifestação de carinho), o lúdico (que se baseia na conquista e na procura de emoções passageiras) e o amor altruísta (praticado por pessoas dispostas a anular-se perante o outro, tendendo a "isolar-se num mundo onde, na sua imaginação, só cabem os dois ainda que o outro pense e actue exactamente ao contrário").

Há quem defenda que o amor é uma história construída ao longo da vida que, com o tempo, transpõe a mera atracção física, passando para uma preocupação com o bem-estar do outro para o seu próprio bem-estar. Manifesta-se numa influência mútua, no qual a (in) felicidade de um causa a (in) felicidade do outro. A paixão e o desejo tendem a não ser tão intensos, fortalecendo-se antes a cumplicidade, a intimidade e o companheirismo.

Durante a minha pesquisa, e na tentativa de explicar o que é ou em que se baseia o amor, descobri um estudo que revelou que os sentimentos amorosos podem levar à inibição da actividade de várias áreas do cérebro ligadas à capacidade e ao pensamento crítico, suprimindo a actividade neurológica relacionada com a avaliação social crítica dos outros, e também as emoções negativas. Este facto acaba, curiosamente, por fazer jus ao ditado popular que afirma que "o amor é cego." De facto, este estado leva a uma alteração da nossa capacidade cognitiva: tendemos a idealizar o parceiro, exagerando nas suas qualidades e rejeitando todo o tipo de indícios menos positivos que dele possam surgir. Ainda no mesmo estudo, outro aspecto que terá impressionado os investigadores foi o facto de, ao analisarem a actividade cerebral de 20 jovens mães ao verem as fotos dos seus filhos, de crianças que conheciam e de amigos adultos, terem verificado que, tal como nos padrões de actividade cerebral registados num estudo relativo aos efeitos do amor romântico, ocorre uma redução dos níveis de actividade nos sistemas necessários para fazer julgamentos negativos.

Apesar de todos estes dados, imprescindíveis para o conhecimento do amor, qualquer definição que nos seja apresentada nunca nos satisfaz completamente. Sentimos que existe sempre mais alguma coisa e é esse mesmo mistério que torna a definição do amor subjectiva e, por isso, controversa e não consensual. Até porque, se tal fosse possível, a magia envolta em torno desse elemento fundamental da vida de um indivíduo poderia desaparecer, perdendo assim parte de todo o seu significado…

"Alguns dos obstáculos a amar: a nossa agenda pessoal ou motivações, expectativas, necessidades e desejos. Temos que ter cuidado para que no amor não estejamos a procurar a nossa pessoa, uma réplica, um clone; ninguém pode ser exactamente como nós. O amor pode ajudar-nos a descobrir as nossas diferenças de modo que possamos enriquecer-nos por elas."

Martine Batchelor

FONTES:
http://www.portaldascuriosidades.com/forum/index.php?action=printpage;topic=60237.0

http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=60&id_news=130695

Manual de Psicologia, 12º ano