terça-feira, 10 de março de 2009

Esquizofrenia: a doença da mente dividida.






Das doenças do foro psiquiátrico que ouço falar, a esquizofrenia, talvez pela forma como se manifesta ou mesmo pela própria doença em si, foi sempre aquela que mereceu da minha parte maior curiosidade e estudo.
Mas afinal, o que é a esquizofrenia? A esquizofrenia (do grego “skhizein” (esquizo) que significa fender, rasgar, dividir e “phrên” (frenia) que significa pensamento) é uma doença do cérebro causada pela alteração da estrutura básica dos processos de pensamento, afectando essencialmente a capacidade cognitiva. Caracterizada por uma dissociação das funções psíquicas e pela perda de contacto com o mundo exterior, com um mundo que não o do esquizofrénico, os seus efeitos acabam por se reflectir também no comportamento e nas emoções do doente, que sofre um desvio de personalidade facilmente reconhecível.
Existem várias explicações relativamente às causas do aparecimento da esquizofrenia. Hoje sabe-se que a doença pode ter causas genéticas e que a probabilidade de um indivíduo vir a sofrer de esquizofrenia aumenta se houver um caso desta doença na família - "No caso de um dos pais sofrer de esquizofrenia, a prevalência da doença nos descendentes directos é de 12%. Na situação em que ambos os pais se encontram atingidos pela doença, esse valor sobe para 40%”. Apesar desta relação, cerca de 81% dos doentes com esquizofrenia não têm qualquer familiar em primeiro grau atingido pela doença e cerca de 91% não têm sequer um familiar afectado.
Por outro lado, também os factores cerebrais e biológicos podem estar relacionados com o eclodir da doença: alterações bioquímicas e estruturais do cérebro, como por exemplo, nalguns neurotransmissores (como a dopamina), são potenciais causas da esquizofrenia.
Além disso, existem algumas outras teorias que ajudam a explicar o aparecimento da doença. As teorias psicanalíticas, por exemplo, remetem para a fase oral do desenvolvimento psicológico em que a ausência de relações interpessoais saudáveis estaria na origem da esquizofrenia - “a ausência de gratificação verbal ou da relação inicial entre mãe e bebé conduz igualmente as personalidades “frias” ou desinteressadas (ou indiferentes) no estabelecimento das relações”.
Também os factores sociais podem propiciar a doença: muitas pessoas passaram por períodos de depressão, stress ou conflitos antes de se tornarem esquizofrénicos. Isto leva-nos a concluir que, juntamente com o facto de serem portadores de factores de vulnerabilidade pessoais, este ambiente desfavorável pode desencadear os mecanismos de disfunção mental, característica da esquizofrenia.
Convém sublinhar que nenhuma das causas referidas explica isoladamente o aparecimento da esquizofrenia.
Quanto aos sintomas que a doença pode manifestar variam de indivíduo para indivíduo, podendo ser divididos em duas categorias: os sintomas positivos e os sintomas negativos. Os sintomas positivos caracterizam-se pelos delírios como pensamentos irreais e delirantes - “ideias individuais do doente que não são partilhadas por um grande grupo”. Este tipo de sintomas costumam aparecer na fase aguda da doença e são as perturbações mentais mais graves e mais anormais: alucinações; percepções irreais, como ouvir, ver, saborear, cheirar ou sentir algo irreal, sendo mais frequentes as alucinações auditivas e visuais; pensamento e discurso desorganizado; alterações do comportamento, ansiedade e também impulsos agressivos. Os sintomas negativos acompanham a evolução da doença e reflectem-se na falta de motivação (vontade e iniciativa) e afectividade, ausência de emoções e deficiência quanto ao discurso, ao pensamento e às relações interpessoais, como resultados da perda das capacidades mentais. O isolamento social (o indivíduo desliga-se completamente do mundo, virando-se apenas para si mesmo, o que se assemelha em parte ao autismo), a apatia ou a indiferença emocional são também possíveis manifestações de sintomas negativos.
Quando na fase aguda, esta doença pode impedir o esquizofrénico de levar uma vida normal. A propósito disso, um dos maiores receios do esquizofrénico é o facto de se poder sentir rotulado em termos sociais como aquele indivíduo intrinsecamente perigoso e violento, quando estudos mostram que a incidência de comportamento violento nestes doentes e no resto da população é habitualmente idêntica. Além disso, e apesar de a cura ainda não existir, o tratamento é possível e pode ajudar em grande medida a tratar os sintomas e a permitir assim que os doentes possam viver as suas vidas de forma saudável e produtiva.

“Quero que as pessoas entendam que sou como os outros. Sou um indivíduo e deveria ser tratada como tal pela sociedade. Não deveriam fechar-me numa caixa com a etiqueta de esquizofrenia” (Jane, doente esquizofrénica).

1 comentário:

Anónimo disse...

Sou esquizofrenica por processo bioquimico do cerebro, mas antes de ser tive uma vida muito atribulada que me levou ao stresse. Acho a materia muito informativa e válida