domingo, 13 de abril de 2008

Estereótipo. Preconceito. Discriminação



Como pudemos compreender, o filme “Colisão” (analisado na aula) retrata três importantes conceitos – Estereótipo, Preconceito e Discriminação – bem presentes nas diversas sociedades e culturas de todo o mundo. No desenrolar da acção vão-nos sendo apresentados vários casos e o modo como cada personagem é afectada por eles. Paralelos uns aos outros, os acontecimentos começam a ganhar forma e a sua influência ultrapassa o contexto de vida de cada família; ela invade outras vidas, outras pessoas. É a partir da história dos vários protagonistas que irei então desenvolver uma tese sobre os tópicos acima referidos. Como se formam? Quais as razões que as explicam? Qual a sua importância? São algumas das perguntas às quais tentarei responder de uma forma consistente e esclarecedora.
As situações seguintes são as que, segundo a minha perspectivam, constituem melhores exemplos de conflitos entre grupos ao longo do filme:
Exemplo 1: Ocorre um acidente entre uma mulher branca e uma asiática. No meio da confusão e do nervosismo a segunda mulher culpa a primeira. Esta não admite que a culpem e a discussão instala-se. As duas agridem-se verbalmente, tecendo comentários racistas e xenófobos.
Exemplo 2: Dois amigos negros conversam na rua sobre a discriminação e nesse momento um casal branco aproxima-se. A mulher, ao ver os dois sujeitos, teme pelo que possa acontecer quando se cruzarem, agarrando o braço do marido. Um dos negros repara e as suas convicções tornam-se mais evidentes, dizendo ao seu amigo que a mulher é racista dado que tem medo de passar perto deles. Furiosos decidem assaltar o casal quando estes estavam a entrar no seu carro, ameaçando-os com armas de fogo. Em pânico, o casal não oferece resistência.
Exemplo 3: Um polícia americano manda encostar um veículo que circulava, porque o condutor e a esposa eram negros. Sem qualquer razão ordena-os para saírem do carro, tratando-os como se fossem criminosos. Humilhados vêm-se ainda obrigados a pedir desculpa e só depois regressam a casa.
Exemplo 4: Um dos negros que tinha assaltado o casal branco arrepende-se do que fez, pois começa a compreendê-los. Fugindo da polícia pede boleia durante a noite. Um rapaz branco (que era polícia) pára e pede-lhe que entre. Depois de começarem a conversar, o branco sente-se ofendido pois o negro diz que gosta de música country e de hóquei no gelo, algo que não faz parte da cultura negra. Considera, portanto, que o negro está a ser irónico. A tensão aumenta e o negro continua a rir-se, remexendo no bolso. O rapaz branco pensa que é um revolver e, sem lhe dar tempo, dispara sobre o outro, quando descobre que ele tinha na mão a imagem de um santo.
Antes de começar a relacionar os exemplos com os temas a abordar gostaria de, primeiramente, dar uma pequena noção sobre cada um.
Estereótipo é um conjunto de crenças, de ideias “feitas”, que transmitem uma imagem simplista de um objecto ou pessoas. Generalizam todos os elementos de um grupo a partir do comportamento de alguns deles. Há, portanto, uma categorização, uma classificação positiva ou negativa em relação ao outro, que surge das interacções sociais.
O preconceito é também uma atitude e tem como base o estereótipo. Através da informação do estereótipo faz uma avaliação, um pré-juízo em relação aos outros indivíduos e aos grupos que os constituem.
Por sua vez, a discriminação são os comportamentos que derivam dos estereótipos e dos preconceitos. Geralmente são negativos e podem acentuar-se em situações de crise (política, económica, social...), variando entre o afastamento à violência e agressão.
Através dos exemplos mencionados podemos estabelecer uma relação com estes temas. De facto, nas várias situações descritas o motivo do conflito era a cor da pele, o país, a cultura a que pertenciam. Isto é, aos grupos sociais a que pertenciam. As ideias erradas acerca dos brancos, dos negros, dos árabes, dos chineses (entre outros) estavam tão difundidas, tão enraizadas que se transformavam em verdadeiros estereótipos, em preconceitos, conduzindo, por fim, às discriminações. Em vez de tentarem resolver os seus assuntos civilizadamente, os indivíduos procuravam culpar-se mutuamente porque acreditavam que o outro conservava características negativas, características típicas de criminosos, de ignorantes, de avarentos, de preguiçosos. Assim, o seu comportamento era definido por um conjunto de valores que já estavam predefinidos e estipulados. No filme a mulher asiática culpou a mulher branca de causar o acidente, porque pensava que a branca tinha feito uma condução perigosa, visto que, de acordo com a sua visão os brancos pensam que o mundo é todo deles e não respeitam nada nem ninguém. O polícia matou o negro porque muitos deles são criminosos e violentos e, como tal, o branco pensou tratar-se de mais um. Categorizou-o, generalizou-o por causa de outros negros que contribuíram para a construção desse preconceito.
Com ou sem intenção acabámos por discriminar os outros graças a casos particulares. “Paga o justo pelo pecador”.
Porém, é importante referir que tanto os estereótipos como os preconceitos se podem alterar, fazendo com que o acto discriminatório deixe de existir. Perante acontecimentos extraordinários onde vários elementos ou vários grupos sejam obrigados a conhecerem-se melhor, constatar-se-á que, muito provavelmente, esses indivíduos não possuem as características negativas que se julgavam ter.
Mas porque razão ou razões existem os estereótipos, os preconceitos e as discriminações?
À semelhança do que já foi dito, os estereótipos permitem-nos simplificar a realidade social, definindo-se o que está certo e o que está errado. Deste modo, possibilitam-nos uma maior adaptação ao meio que nos envolve – função sociocognitiva. Além disso, através deles reconhecemo-nos num determinado grupo (endogrupo), distinguindo-o de todos os outros (exogrupo). Somos o que somos porque pertencemos a um conjunto específico de elementos, desenvolvendo-se os sentimentos de “nós” e de “eles”, bem como os sentimentos de protecção em relação aos indivíduos com quem nos identificamos e de hostilidade em relação aos indivíduos diferentes de nós.
Relativamente aos preconceitos existe também uma função socioafectiva que explica a sua existência. Tal como acontece com os estereótipos, estes visam a protecção e a coesão do grupo, em detrimento dos restantes.
Por fim, a discriminação é fruto dos dois factores anteriores. Perante a cultura, a época, e as formas de cada um pensar em particular existem diferentes formas de discriminação e diferentes grupos vítimas de discriminação. Varia consoante os valores considerados mais ou menos importantes para seres humanos diferentes.

Fonte: MONTEIRO, Manuela Matos, FERREIRA, P. T. (2007), Ser Humano, Psicologia B, Porto Editora.








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