quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

A Construção da História Pessoal

Cada um de nós é o desembocar de uma torrente de natureza bio-sociocultural, em que uma multiplicidade de forças se foi organizando e encaminhando no sentido da constituição da nossa personalidade.
Uma parte da construção da história pessoal enraíza-se numa identidade multidimensional. Cada ser humano possui uma identidade específica que reside nas características que nos identificam como seres vivos da Terra e como humanos, uma identidade cultural que se relaciona com o facto de vivermos com outros seres humanos numa sociedade com determinada cultura e uma identidade pessoal que refere ao facto de cada um de nós ser uma unidade irrepetível, uma organização original que nos singulariza.
Os seres humanos só se tornam humanos inserindo-se no mundo, e o mundo está repleto se situações e experiências que cada individuo tem de ultrapassar, enfrentar e viver… os seres humanos tornam-se humanos em contextos povoados com outros seres, crescem e aprendem a conhecer-se no seio de relações cheia de história e de cultura.
Desde a infância que as experiências vividas com familiares, amigos, colegas e conhecidos se constituem como forças a interferir na direcção seguida pela nossa auto-organização pessoal. Dito isto de outra forma, tudo o que acontece ao longo da vida vai deixando marcas no nosso modo particular de ser, isto porque existem experiências que nos influenciam positivamente e outras negativamente, contribuindo umas para o nosso sucesso e bem-estar e outras para o nosso fracasso (por exemplo).
Contudo, as experiências não são boas nem más em termos absolutos, dependem do carácter subjectivo com que cada um as vive. Não há situações neutras a que se possam atribuir com objectividade caracteres bons ou maus, agradáveis ou desagradáveis, positivos ou negativos. O que há são situações para alguém, ou experiências para uma pessoa. A realidade é vivida por inúmeras pessoas e cada uma tem um modo particular de a sentir, construindo subjectivamente os significados que faz com a leitura pessoal dos acontecimentos por que passa. Tal afirmação contraria o que normalmente é aceite por os humanos, a realidade que cada um de nós vive não se resume apenas a uma realidade física, feita de objectos lugares e de seres, mas também de uma realidade interpessoal, feita através de compreensões intersubjectivas adquiridas através do convívio com os outros.
A história pessoal desenrola-se no diálogo entre o que percebemos (objectivamente) e o que construímos (intersubjectivamente), isto é, constrói-se por aquilo que presenciamos, por as nossas experiências, acontecimentos, por aquilo que percebemos do que acontece à nossa volta e aquilo que opinamos, senti-mos e atribuímos significados.
Vivendo as coisas à sua maneira, a pessoa projecta-se nas situações atribuindo-lhes significados pessoais, transfigurando-as de tal modo que se tornam experiências exclusivas, pois cada um interioriza e assume estes significados de forma particular, fazendo com que estes façam parte integrante da identidade de cada um.
Assim, cada ser humano vai construindo de modo pessoal a sua história, à custa das situações por que passa e dos acontecimentos que vivencia.
A sociedade é a nossa morada e só nela podemos construir a nossa humanidade porque mesmo que o homem resulte de características herdadas por os seus progenitores, ele só adquire as características de ser humano quando a sua vida decorre no seio de um grupo social. É este convívio que lhe permite actualizar os seus potenciais genéticos, daí se dizer que o homem é um ser social.
A sociedade e a cultura são condição da nossa realização, elas oferecem-nos infinitas possibilidades e oportunidades o que é significativo para o nosso projecto pessoal de vida. Por viver no seio da cultura e pelo facto de o homem ser capaz de escapar à rigidez das condutas naturais e instintivas, este torna-se também um ser cultural, sendo por este facto que o homem se sente autónomo. Isto porque sente-se senhor se si, não tende a obedecer à pré-programação animal. É um ser livre porque a sociedade colocou ao seu dispor um manancial de actuações onde pode seleccionar as que julga serem mais adequadas para o seu projecto de vida e a sua forma pessoal de ser.
Com o intuito de uma vida organizada, os seres humanos agem de forma a criar ordem e sentido nela, a partir do conjunto de experiências, são seres auto-organizados. Pois consciente de si próprio o homem é capaz de pegar no emaranho das suas vivências e elaborar, à sua maneira, uma síntese que lhe confere individualidade própria. Auto-organizando-se a pessoa constrói de modo autónomo a sua identidade, seguindo uma trajectória pessoal.
Deste modo, cada um de nós apresenta-se com uma individualidade genética, funcional e cultural que faz de si uma história pessoal única e irrepetível.


Bibliografia
MONTEIRO Manuela, SANTOS Milice Ribeiro, 1ª parte, Psicologia A 12º ano, Porto Editora
MONTEIRO Manuela Matos, FERREIRA Pedro Tavares, 1ª parte, Psicologia B 12º ano, Porto Editora
JACOB François, A Estátua Interior
http://www.dhnet.org.br/desejos/textos/galaxy.html

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