quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Representações Sociais




A cognição social é um processo cuja finalidade é compreender de que forma os nossos pensamentos (atitudes) são afectados pelo contexto social em que cada individuo está inserido e de que modo influenciam o seu comportamento. Os processos de cognição social permitem tornar o estranho em conhecido.
Dentro destes processos, incluem-se as impressões, expectativas, atitudes e representações sociais, sendo destas últimas que me pretendo debruçar ao longo deste ensaio.
Se formos ao dicionário verificamos que, o conceito de representação surge associado a uma imagem mental, a uma reconstrução do real que permite ao ser humano a capacidade de relembrar ou evocar um dado acontecimento, objecto ou pessoa, na sua ausência. Quando as representações são aceites e partilhadas por uma dada sociedade ou grupo de indivíduos estamos perante as designadas Representações Sociais, isto é, conjunto de explicações, de crenças e ideias, elaboradas a partir de modelos culturais e sociais que dão quadros de compreensão e interpretação do real. As representações sociais são características de uma determinada época e contexto histórico, por isso, a sua alteração ocorre muito lentamente. Um bom exemplo disto é a representação da mulher nas sociedades ocidentais. Contemporaneamente, para além de ser mãe de família, desenvolve uma actividade profissional em que procura como é evidente ser bem sucedida. Esta representação que, actualmente é tida como desejável, seria impensável no início do século XX, cuja representação social era da mulher que ficava em casa a cuidar dos filhos e das tarefas domésticas. Outro exemplo onde é evidente a mudança da representação é no ideal de mulher bonita. A imagem robusta, com ancas arredondadas, associada ao que se considerava um corpo bonito e esbelto, deu lugar a um ideal em que dominam os corpos magros e esguios.
As representações sociais, também consideradas em sentido mais amplo como pensamento social, são deveras imprescindíveis nas relações humanas, uma vez que, dão uma explicação, um sentido à realidade (função de saber). Alem disso, ao funcionarem como reguladoras e orientadoras do comportamento (função de orientação) permitem aos indivíduos comunicarem e compreenderem-se.
É também importante salientar a função de identidade das representações sociais, são elas que permitem construir uma identidade social do grupo, pois numa mesma sociedade existem diferentes grupos que possuem representações diferentes acerca de uma mesma realidade – as representações sociais não são homogéneas dentro de uma sociedade. São também uma forma dos indivíduos explicarem e fundamentarem as suas opiniões e comportamentos.
Na formação deste tipo de pensamento estão subjacentes dois processos que funcionam em parceria: a objectivação e a ancoragem.
Em primeiro lugar ocorre a objectivação, processo este que permite a formação de um todo coerente, através da selecção e da descontextualização do objecto, seguindo-se a fase da esquematização, que tem como objectivo construir um esquema ou melhor um “núcleo figurativo”onde constem organizadamente num padrão de relações, os principais elementos do objecto da representação. Este processo termina com a naturalização dos padrões relacionais que passam a ser percebidos claramente. Assim os elementos abstractos tidos inicialmente transformam-se em imagens concretas, que fazem parte da realidade.
A objectivação é, portanto um processo de simplificação, uma vez que se perde muita informação. No entanto, esta riqueza informativa que se perde durante o processo ganha-se em entendimento.
Posteriormente ocorre o processo de ancoragem. Através deste ocorre a assimilação das imagens criadas pela objectivação, sendo que estas se integram em categorias (daí que a representação social seja uma manifestação dos fenómenos da categorização) que o sujeito possui fruto das experiências anteriores.
A objectivação e a ancoragem funcionam como um todo no processo de formação das representações sociais.
Estas, quando ancoradas, funcionam como um filtro cognitivo, uma vez que as novas representações são interpretadas segundo os quadros de representação preexistentes. Assim, vão influenciar o comportamento dos indivíduos. Por exemplo, se determinado indivíduo tiver uma má representação dos estrangeiros, esta terá muita influência no comportamento, uma vez que, pode levar inclusivamente a reacções xenófobas. Por este motivo é que apesar de serem extremamente importantes, as representações sociais podem revelar-se muito perigosas.


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