domingo, 4 de maio de 2008

O poder do medo


“Uma das questões fulcrais da nossa vida é não ter medo do medo. Porque a existência é tão efémera e, sendo nós os únicos animais do mundo que têm a noção da finitude e do efémero, há que usufruir do percurso que vamos fazendo ao longo da nossa vida”
Luísa Gonçalves, In Público 2005

Na realidade, o medo é uma estratégia de sobrevivência, uma reacção totalmente normal fruto do nosso milenar processo de adaptação ao meio, que emerge quando nos confrontamos com situações desconhecidas ou face a objectos, pessoas e coisas que significam uma ameaça.
Provavelmente, o medo é uma das emoções menos desejadas pelo ser humano, no entanto, este faz parte de nós e sente-se no corpo, ao invés, não sobrevivíamos.
De facto, como refere Luísa Gonçalves, a vida é efémera e devemos usufruir dela ao máximo. E o medo acompanha-nos nesta curta existência, na tal efemeridade da vida. Ter medo do medo é, na opinião de Luísa Gonçalves uma das questões fulcrais da nossa existência. O medo é, muitas vezes, o muro que nos impede de fazer uma série de coisas. Claro que, pode ser positivo, na medida em que ajuda ao equilíbrio, no entanto, pode também ser negativo, porque nos faz mal.
Todos os seres humanos têm medo do medo que sentem. Na verdade, o pavor a algum bicho, a alguma animal, ou até a alguma situação da nossa vida provoca em nós uma sensação estranha e esquisita, o medo! Devemos aceitar que esta misteriosa emoção nos persegue ao longo da nossa vida, não podemos ter medo que ela surja! Porque o medo é algo que nos ajuda a viver com mais segurança, a sobreviver… Se, por exemplo, não tivéssemos medo de um cão perigoso que começa a correr atrás de nós ou até de alguma situação estranha que ocorresse na nossa vida, esta, de facto, não teria sentido. O medo faz parte da lógica da vida… Ajuda-nos a agir correctamente ou não em determinadas situações.
O medo é algo capaz de colocar as pessoas em estado de angústia total e gera uma grande tensão em nós. O nosso ritmo cardíaco acelera-se, aumenta a transpiração, os músculos contraem-se… Há, por isso, uma alteração do nosso estado normal.
Esta emoção é, na minha opinião, algo ainda difícil de definir. O medo é obscuro, é estranho, ao mesmo tempo que pertence à vida. Vivemos com ele diariamente e isto faz como que estejamos familiarizados com ele, embora muitas vezes ainda temos receio daquilo que daqui advém.
De facto, a vida é feita de coisas boas e outras menos boas, obstáculos que temos de ultrapassar, caminhos que devemos traçar e atravessar com sucesso e o medo está sempre presente! O medo impede-nos, muitas vezes, de ir em frente, de aceitar de imediato, de agir irracionalmente, etc. Torna-nos até pessoas mais ponderadas e racionais.
Por isso, não podemos pensar que ter medo é sermos “medricas” ou até menos corajosos. O medo está presente na nossa vida, ajuda-nos a vivê-la e a desfrutá-la com segurança. Porém, o medo excessivo pode ter consequências negativas, na medida em que nos impede de usufruir ao máximo das oportunidades que a vida nos proporciona.

Bibliografia: Super Interessante – Edição 49 (Maio 2002)

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