sábado, 28 de fevereiro de 2009

A inveja

A inveja, um dos sete pecados capitais, é o desejo por atributos, posses, status ou habilidades de outra pessoa. Pode também ser definida como “o deslocamento da energia do potencial de determinado indivíduo para a exacerbada preocupação com a satisfação e prazer de outra pessoa, geralmente íntima do sujeito em questão”. Todos nós sentimos naturalmente inveja (o que nos consola profundamente), seja duma forma mais ou menos positiva. Mas quantas vezes na nossa vida somos vítimas da inveja desenfreada de pessoas com quem somos obrigados a conviver?

Pois bem, o facto é que a inveja existe e está presente em todas as esferas do relacionamento humano, manifestando-se em todas as vertentes do nosso quotidiano. Entre amigos, colegas ou até familiares, são frequentes as invejas motivadas por comparações desfavoráveis do status de uma pessoa em relação à outra. Aliada ao ciúme, à mágoa, à falta de auto-estima ou à falta de iniciativa em conseguir obter o que os vitoriosos obtêm, a inveja pode, contudo, ser positiva: quando tomamos alguém bem sucedido como referência para atingirmos o que ele conseguiu atingir, rumo ao sucesso. Neste caso, é necessária uma auto-estima que te torne confiante nas tuas capacidades. Por outro lado, o invejoso, sendo uma pessoa frágil, rende-se à sua própria insignificância provocando, antes disso, graves prejuízos na vida do invejado. A crítica é um exemplo, sendo das máscaras da inveja a mais subtil e, ao mesmo tempo, a mais evidente. Isto porque, sempre que caluniamos alguém (ou o criticamos destrutivamente) será porque nos sentimos inferiores a essa pessoa. Daí essa necessidade em falar mal da pessoa que tanto invejamos.

"Num certo dia uma cobra voraz desejava a todo custo abocanhar o inofensivo vagalume. Ao que o último lhe pergunta: "Serpente, tu que és tão poderosa porque me desejas aniquilar?". A serpente respondeu-lhe: "O teu brilho fascina-me e como eu não o posso ter, ninguém mais o terá. Por isso quero-te devorar."

Mas porque não viver bem com o sucesso dos outros? Habitualmente, a inveja é formada a partir do momento em que as qualidades do outro são comparadas, faltando uma avaliação do meu próprio potencial. Estes sentimentos de grande frustração e de inferioridade são gerados pelo facto de a pessoa não ser capaz de realizar acções minimamente úteis para si e para os outros, consolidando-se assim o complexo de inferioridade relativamente è pessoa invejada. A comparação que fazemos entre nós e o outro pode ser geral - quando comparamos as qualidades psicológicas, morais, sociais ou espirituais - ou específica - quando comparamos as posses materiais, como a casa, o carro, a roupa, o dinheiro ou o porte físico.

Psicólogos afirmam que talvez este processo venha da convivência no ambiente familiar, onde comparações são frequentes”. A sociedade partilha também responsabilidades neste processo: desde muito cedo somos comparados com aquela que é mais bonita ou com aquele que tira boas notas. Esse tipo de críticas comparativas geram um sentimento de humilhação que nos faz sentir incapazes de obter o que o outro tem. Na escola, na família ou na sociedade em geral a competição baseada na ideia de que o outro não pode ser melhor do que eu acaba por gerar insatisfação comigo próprio, fazendo crescer na sociedade um sentimento geral de desamor social.

A inveja não é mais do que um sentimento de inutilidade que gera uma revolta por não sermos como os outros são. Quantas vezes não reparamos o tom de desinteresse e incómodo por parte das pessoas quando falamos em algo positivo que nos aconteceu? E quantas vezes contamos uma tragédia que se passou com alguém que, pelo contrário, desperta o interesse de todos?

Cada um tem as suas potencialidades e peculiaridades que me podem tornar vitorioso. Como tal, é na auto-comparação que eu reconheço as minhas próprias capacidades. É esta procura de mim mesmo que permite a valorização pessoal.

Assim, quem sai mais prejudicado da inveja não são os outros, mas quem inveja. Ela é destrutiva, corrói a auto-estima, destrói o crescimento individual, destruindo a sua auto-aceitação porque não produz mudanças favoráveis ao desenvolvimento do invejoso, enquanto pessoa. Contaminado pelo ódio, o invejoso aproveita-se da projecção, tornando más as pessoas que são boas e, por não conseguir obter o que o invejado consegue, faz com que as qualidades do indivíduo invejado fiquem escondidas, por não as querer perceber perante os outros, numa tentativa de raiva e tristeza por tudo o que ele tem e conquista. Frustrado, e por negar os próprios sentimentos negativos que há dentro de si, o invejoso coloca todo o tipo de sentimentos maus naquele que é o objecto da sua inveja. Posto isto, e sendo o efeito mais devastador da inveja, ela é factor de bloqueio de qualquer potencial criativo.

"Só haveria algo positivo na inveja se pudéssemos reproduzir fielmente o modelo de vida de alguém realmente criativo." António Carlos (psicólogo)


FONTES:
http://antonioaraujo_1.tripod.com/psico1/portugues/inveja/inveja.html

http://www.redepsi.com.br/portal/modules/news/article.php?storyid=2040

http://www.psicologia.org.br/internacional/ap22.htm

http://www.portalangels.com/comportamento1.htm

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostava que tivessem abordado o tema inveja tambem dando como exemplo o invejoso ser aquele que lutou e se esforçou e por culpa de outrem não conseguiu vencer, porque foi prejudicado e traído. Como consequencia do esforço e sacrificio não compensados, o individuo sente-se impotente e forçado a conviver com o sucesso de outros quando ele falhou por culpa de ser vitima corrupção laboral, etc... Nasce um sentimento de inveja e cobiça, fruto dessa injustiça. Há casos assim, ACREDITEM! Eu conheço um caso assim, ou seja é interessante pensarem nisto porque a inveja pode não nascer da preguiça ou da incapacidade, mas de uma carga psicologica pesada de impotencia e injustiça que "fere" de tal maneira o individuo que este acaba por se tornar invejoso. A sociedade esmaga de tal maneira o individuo que este , "ferido" pela injustiça numa situação de perda total e irremediável, acaba por invejar os que fizeram o mesmo ou até menos e não foram vitimas de injustiça e sentir que tem (e tem mesmo, tendo em conta o seu esforço). Gostava que comentassem isto, pois aqui entra um nova componente, a forma como a corrupção e a precariedade podem injustiçar um individuo e tornar invejoso o que antes não era.