sábado, 28 de fevereiro de 2009

O Papel do Pai


O assunto que eu aqui venho tratar nem sempre preocupou os estudiosos da Psicologia. No entanto, num mundo onde a dinâmica social sofre constantes transformações, torna-se necessária a revisão do papel do pai na estrutura familiar. Estudar as repercussões da exclusão do pai no desenvolvimento da personalidade de uma criança ou a influência dos contextos culturais na prática da paternidade são alguns dos objectivos desta minha reflexão que toma como objecto de estudo “os novos pais”.
Estudos científicos mostram que o papel do pai começa desde cedo. A sua participação e o seu envolvimento devem ter início no momento mais precoce possível. Sabe-se, inclusive, que ao participarem no parto, os pais se sentem extremamente úteis. Mas nem sempre tal se verificou.
O modelo de pai que antes se reflectia no controlo e na autoridade no seio da família, reservava para a mãe as tarefas domésticas, incumbindo-a de tratar única e exclusivamente da educação dos filhos. Este modelo de família tradicional estava assim organizado segundo uma hierarquia em que a figura paternal se baseava essencialmente no poder económico, isentando-se por completo de possíveis manifestações afectivas para com os seus filhos.
No entanto, e devido às mudanças sociais que se fizeram sentir a partir da década de 60 (como a emancipação da mulher), estabeleceram-se novas relações entre homens e mulheres, levando ao aparecimento de novos padrões familiares. O homem tem assim assistido à ruptura progressiva da hierarquia doméstica, assim como ao questionamento constante da sua autoridade.
Apesar do papel materno prevalecer sobre o papel do pai, sabe-se que a importância da figura paternal é altamente notória no desenvolvimento cognitivo, emocional e social de uma criança. Por outro lado, a relação estabelecida com os filhos ajuda ao desenvolvimento pessoal do homem enquanto pai.
Vários são os especialistas que defendem que a quebra do vínculo afectivo com o pai pode gerar sentimentos de abandono e de rejeição por parte da criança que se poderão repercutir nas relações por ela desenvolvidas no futuro, comprometendo a formação de novos vínculos. Descobri Guy Coreant, psicólogo, que afirma que “o pai é o primeiro outro que a criança encontra fora do ventre da mãe”, sendo esta presença que lhe vai servir como suporte e apoio, possibilitando o seu desprendimento da mãe e a passagem do mundo da família para o mundo da sociedade. Também Raissa Cavalcante defende que a figura paterna é a que permite à criança entrar num horizonte de novas possibilidades.
Disto tudo, e não questionando de forma alguma o papel da figura materna no desenvolvimento psico-social de uma criança, podemos concluir que não é por isso que a figura paterna se torna dispensável. Assim, e porque “ser pai não é duplicar a função de mãe mas sim dar uma nova dimensão à vida da criança”, a construção de relações afectivas duradouras (e saudáveis), seja com o pai seja com a mãe, só traz vantagens para o desenvolvimento de uma criança: ao terem um papel mais activo no acompanhamento dos seus filhos, vão contribuir para a formação de expectativas relativamente a relações futuras que as crianças possam vir a desenvolver.






1 comentário:

Anónimo disse...

Bom artigo, gostei. Sou pai e me preocupo muito com a questão.

Fico feliz ao ver que o papel de mãe está sendo pouco a pouco reconhecido na nossa sociedade. Uma pena que o papel do pai não segue o mesmo movimento. Enquanto a licença maternidade acabou de ser ampliada para 6 meses, a licença paternidade continua sendo de 5 dias corridos.

Viva a paternidade. Porque eu sou pai e dono de casa em tempo integral e sei que é o trabalho mais difícil que já tomei conhecimento, além de não pagar nada e ser completamente desvalorizado na nossa sociedade centrada no mercado.

Abração
Gabriel Dread